Os
instrumentos de percussão são os mais antigos que existem. Em
muitos sítios arqueológicos foram encontradas representações de
pessoas dançando em torno de um tambor. Muitos objetos musicais
também foram encontrados como toras de árvore fossilizadas,
possivelmente usadas como tambores primitivos, e diversas versões de
litofones, rochas de diversos tamanhos que eram dispostas sobre um
tronco ou buraco no chão, usadas para produzir música melódica por
percussão.
Gritos,
batidas de palmas, pedras que se chocam, batidas do pé na terra, a
pulsação do coração. Tudo isso é percussão, e já acompanha o
homem desde a Pré-História. O ritmo, o elemento primeiro e
fundamental na musica, está ligado ao homem desde o momento em que
este foi concebido. Durante nove meses, todo ser humano passou por
este período intra uterino. Neste ambiente interior onde todos os
órgãos estão sendo formados, inclusive os da percepção, este
novo ser em gestação está totalmente envolto por toda uma
complexidade de sons e ritmos. As suas células recebem continuamente
estas informações sonoras, comandadas pelo tambor primeiro o
coração materno. Este ritmo, este pulso o acompanhará
ininterruptamente por toda sua vida até seu ultimo suspiro.
Percutindo
o próprio corpo, pedras, ossos, madeiras, e depois peles: nessa
evolução natural, o homem das cavernas expressou, através da
percussão, os timbres e ritmos que se fixaram na sua memória. Esses
grupos humanos instalam-se em diferentes pontos da terra,
desenvolvendo costumes e expressões próprias. A percussão vai se
apropriando desses novos costumes expressões e dos novos materiais e
utensílios criando outros ritmos e sonoridades.
PRIMEIRO
O índio
foi o primeiro percussionista brasileiro. Batendo um ritmo continuo
no chão com os pés, usando a voz com sons guturais e tocando vários
chocalhos; assim descreveram os colonizadores que aqui chegaram
àquilo que viram e ouviram dos habitantes deste novo continente. A
contribuição europeia tornou-se mais um elemento rítmico e sonoro
na percussão brasileira. Porém, a terceira e mais forte influência
foi sem duvida aquela trazida com a chegada dos escravos de origem
africana.
Os
africanos oriundos de diversas regiões e tribos com sua sólida
tradição e cultura musical, possuíam amplo domínio dos tambores,
madeiras e dos metais
Na Bahia
em 1850, em consequência à Revolução dos Malês, foi proibida a
entrada dos tambores Batá , em todos os portos do pais e ordenada à
queima destes tambores para que nunca mais seus toques fossem
ouvidos. Assim, calava-se a voz destes tambores rituais que, além de
seus toques sagrados, incitava os escravos a luta. Em todo o país,
proibiu-se a utilização de tambores e outros instrumentos de
percussão nas igrejas.
O
colonizador, ao trazer quatro milhões de mão-de-obra escrava,
estava “importando” milhares de percussionistas, que, com seus
toques tribais, sagrados e profanos, assustavam e ameaçavam o poder.
Esse caldeirão rítmico influenciou a música trazida pelos
marinheiros europeus, a música da corte e a música tocada nas
igrejas.
MISTURA
As formas
musicais trazidas da Metrópole como o Fado, a Valsa e a polca
tornaram-se ritmicamente mais vibrantes ao se misturarem à Fofa e ao
Lundu. A manifestação popular europeia dos três dias de carnaval
recebeu o nome de Entrudo. Pelas ruas desfilavam grupos fantasiados,
cantando e tocando, e, entre eles, o Zé Pereira, figura típica do
português, tocando bumbo ao lado de grandes bonecos
Aproveitando
a liberação dos costumes, durante o período carnavalesco, foram
surgindo por todo o país inúmeros grupos de foliões, que trouxeram
para as ruas cantos e toques de suas tradições culturais. Desta
forma, Bantos e Sudaneses as duas mais representativas etnias
africanas no Brasil organizaram-se e saíram pelas ruas tocando e
cantando em homenagem a seus orixás. No Rio de Janeiro, Ceará,
Minas Gerais e principalmente na Bahia, começaram a aparecer os
grupos de Afoxé.
Também
conhecidos como candomblé de rua, estes grupos, formados unicamente
por homens, marcavam a presença africana no carnaval. Na Bahia, os
afoxés Império da África, Mercadores de Bagdá, Filhos de Gandhi,
e Pai Burukô, grupo criado por Deoscóredes dos Santos (mestre
Didi), marcavam a presença dos terreiros no carnaval de Salvador.
Pelo
inevitável processo de aculturação surgiram os afoxés de Índio e
de Caboclo que seguiam o modelo africano diferenciando nos cantos e
nos trajes. Os grupos de afoxé foram se adaptando a várias
modificações e, com o tempo. Muitos deles extinguiram-se. O afoxé
Filhos de Gandhi é a representação máxima desta resistência
cultural. Por meio destas e tantas outras manifestações populares a
percussão revela a presença rítmica destas três vertentes da
nossa cultura. O índio, o branco e o negro.
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Um comentário:
Parabéns, Gutemberg!
Para mim, que acompanho com atenção as suas séries, essa foi uma surpresa muito agradável. Falar sobre a importancia da percussão, na música da Bahia é uma excelente iniciativa e me deixa cheio de expectativas sobre o que está por vir aí. Agradeço e te desejo sucesso nesse novo trabalho, abraços!
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