22 novembro 2012

Percussão, a alma da música baiana (2)


No século XVIII a maioria dos instrumentos de cordas já havia atingido seu apogeu. No século XIX os sopros ganharam seu formato atual. E foi apenas nos últimos cem anos que o naipe de percussão se desenvolveu plenamente. A percussão se tornou o grande signo da música do século XX: além de enriquecê-la com ritmos e instrumentos latino-americanos, africanos e orientais, ela estimulou a incorporação da emancipação do ruído e da independência do timbre nas poéticas contemporâneas.

Beat ou stroki em inglês. Coup ou battement em francês. Schlag em alemão. Colpo ou percussione em italiano. Golpe em espanhol. Udárnye instruménty em russo. Xincarigomes em banto e bituit na India. A batida rítmica é primordial.

Em 2011 a linguagem universal dos tambores ganhou ainda mais voz no Carnaval de Salvador. A percussão foi escolhida como tema da folia momesca, e os mestres e percussionistas da Bahia estiveram no centro dos holofotes. Dos templos budistas aos atabaques das religiões de matriz africana, a percussão se fez presente. Na capital baiana, a genialidade dos mestres criou até escolas diferenciadas, conhecidas como “a batida do Olodum” ou “o toque do Ilê Aiyê”.

LINGUAGEM

A linguagem percussiva popular durante muito tempo foi transmitida de mestres para discípulos por meio da observação e audição. Foi dessa maneira que muitos percussionistas reconhecidos internacionalmente aprenderam e continuam a repassar os seus conhecimentos. É o caso de Memeu, mestre de percussão do Olodum, que aprendeu os elementos e as bases rítmicas com Neguinho do Samba, o inventor do samba-reggae e fundador da Banda Didá, que faleceu em 2009.

Ex-integrante da Banda Mirim – trabalho social realizado há 27 anos pelo Olodum – e desde 1996 no comando da ala percussiva, formada por 100 percussionistas durante o Carnaval, mestre Memeu conta que aprendeu os ensinamentos do samba-reggae, ritmo-base do grupo, por meio da sensibilização, percepção e prática musical. “No meu tempo não tinha partitura. Tínhamos que memorizar as batidas, distingui-las e daí sair para a rua e pôr em prática tudo o que ouvíamos”, relata Memeu.

As noções de leitura rítmica e de dinâmica eram aprendidas sem nenhuma base teórica, mas nem por isso a percussão deixou de possuir recursos e riquezas com características próprias. “A percussão está na música baiana em geral, e não só no Carnaval. Ela é a base, dá o ritmo da música baiana. É muito importante o reconhecimento dessa linguagem”, ressalta o coordenador do Núcleo de Percussão da Ufba, Jorge Sacramento.

CENTRAL

A percussão é um elemento central da vida de Salvador, é a expressão do cotidiano de um povo. O samba reggae foi o movimento de criação musical que valorizou o tambor e o trabalho do percussionista. O trio elétrico mudou completamente a estética da produção musical carnavalesca. O samba reggae também transforma a maneira de se fazer música, de se fazer carnaval. A percussão é a base da MPB, é o elemento que vai dialogar com a música europeia. A percussão dá o ritmo da música baiana.

A Bahia é um berço de grandes percussionistas. O talento e a criatividade de vários deles acabaram por criar ritmos com marcas características que se tornaram verdadeiras escolas.

Fia Luna - Atuou entre os anos 1960 e 1970. Seu toque entra influencia do candomblé. É considerado referência para várias gerações.

Pintado de Bongó - Contemporâneo de Fia Luna, foi quem introduziu Carlinhos Brown no universo da música.

Prego do Pelourinho, importante para a história do bloco Olodum. Mestre Prego participou da formação de importantes grupos de percussão do estado da Bahia, como Ilê Ayê e Olodum. Ele foi professor de Neguinho do Samba, criador da escola de percussão Olodum e do samba reggae.

Nelson Maleiro - Conhecido como Gigante do Bagda, foi criador do bloco Cavaleiros de Bagda (1959). Ele inovou a estética do Carnaval baiano com seus instrumentos percussivos. Foi o primeiro negro a protagonizar uma propaganda comercial ao vivo na TV Itapoan. Um agitador cultural

Cacau do Pandeiro – Mestre do instrumento que, de tão seu, virou predicado, sobrenome, Grande parte dos músicos baianos ligados à percussão foram alunos dele. Ele é uma das raízes da árvore genealógica da percussão baiana.

Filhos de Gandhy (19048) - Tem como principal influência sonora o instrumento gã, que dá a direção do ijexá, o seu ritmo.

Ilê Aiyê (1974)- A batida inconfundível do bloco, criada pelo mestre Bafo, em 1975, foi herdado do candomblé, de forma discreta e a mistura do samba duro com ijexá.

Olodum (1979) - Carlinhos Realce, primeiro mestre de percussão do bloco afro, aliou características percussivas ao gingado de danças. A grande influência do bloco é Neguinho do Samba e seu samba reggae que misturou o reggae jamaicano com o ritmo das escolas de samba que chegaram a Salvador no final da década de 1960.

Okambí (1982) – Comandado por Jorjão Bafafá, o bloco afro surgiu com a influência do ritmo ijexá.

Didá (1993). Criado por Neguinho do Samba, trouxe a sonoridade do feminino na percussão e a batida ritmica do samba reggae.

Timbalada (1993) Criada por Carlinhos Brown, discípulo do mestre Pintado do Bongô, o bloco possui um ritmo mais eclético nascido da batida do samba reggae, mas com a novidade da introdução dos timbaus.

Okambí (1997) O bloco mudou de estilo e passou a adotar como ritmo a mistura da salsa latina com a batida das escolas de samba. Criou o ritmo afro cubano.


Carlinhos Brown - Cantor, compositor, produtor, arranjador, pesquisador ou incentivador musical. Fiundou no fim dos anos 80 a banda Timbalada que adotou um novo instrumento musical: o timbau. Criou a Associação Pracatum Ação Socia, os grupos Pracatum, Ebanóises e Hip Hop Roots

Wilson CaféEstá com o espetáculo Poesia e Ritmo, projeto que mistura elementos do clássico e do popular, tendo a percussão como mola mestra. Ele mantem o projeto Cocoblackdance, um trabalho de percussão e DJ que foi apresentado em trio elétrico no Carnaval de 2010, e acontece à frente da Escola de Educação Percussiva Integral, uma ONG que ele mantêm há dez anos no Cabulo II e que trabalha com 150 adolescentes.

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4 comentários:

Anônimo disse...

NA FOTO AI NÃO É MEU PAI MESTRE PINTADO E NELSON MALEIRO MEU PAI APARESE COM O SR
,VALDEZ E CARLINHO

Moisés/Moka Trompete disse...

Faltou citarem Mestre Jackson e Jair Lactomia

Unknown disse...

Fia Luna , Lourenço dos Santos ,filho de Valença , foi realmente quem trouxe para as ruas o ritmo contagiante do candomblé . Ritmo este que via suas mágicas mãos fazia a alegria do povão nas festas de largo , com destaque na famosa Barraca de Juvená que tinha sempre ao lado a também famosa Barraca de Guanabara.
Fia Luna era massagista da FUBE , Federação Universitária Bahiana de Esportes . Nos anuais jogos universitários brasileiros , Fia Luna viajava com a delegação baiana e protagonizava com seus batuques,momentos inesquecíveis de deleite , principalmente no desfile da delegação da Bahia que sempre entrava com Fia Luna tocando seu timbau. Nos alojamentos das delegações ele fazia o maior sucesso , era disputado pra tê-lo levando o seu som . Assim tornou-se conhecido por este Brasil muito antes de integrar a Timbalada de seu aluno e fã Carlinhos Brown. A Bahia deve a Fia Luna um documentário sobre sua vida nos moldes que fez para o grande Riachão. Fia Luna também amava o futebol , assim treinava no Vale do Canela time de meninos pobres da redondeza , treinos estes assistidos pela galera universitária que dava muita risada com o palavreado de Fia Luna , sempre recheado de termos do candomblé . Foi técnico do famoso Universo do Garcia, time amador de adultos do referido bairro , cujo goleiro era Iberê, que depois tornou-se goleiro do Ipiranga e Esporte Clube Vitória e hoje é médico deste clube .

Unknown disse...

Seria uma boa homenagem a Fia Luna uma estátua sua tocando timbau ali na Conceição da Praia, pois foi , sem dúvida nenhuma , o maior animador de Festas de Largo da Bahia .