No dia 12
de agosto comemora-se os 100 anos de nascimento de Édison
Carneiro. O texto a seguir está publicado no meu livro Gente da
Bahia, volume dois: Escritor e etnólogo, Édison Carneiro nasceu a
12 de agosto de 1912, na Bahia, onde se diplomou em Direito em 1935 e
viveu até fevereiro de 1939, quando transferiu sua residência para
o Rio de Janeiro. Manteve-se, no entanto, sempre muito ligado à
terra onde nasceu. Aos 16 anos começara a publicar artigos e
crônicas na imprensa local. Aos 18 anos participaria de um movimento
cultural de índole renovadora - a Academia dos Rebeldes. Foram,
então, seus companheiros, os poetas Sosígenes Costa, Áydano do
Couto Ferraz e Alves Ribeiro, o cronista Dias da Costa e os
romancistas Jorge Amado, João Cordeiro e Clóvis Amorim. A partir de
1933, empolgado pela beleza mística dos cultos populares de origem
africana, passou a dedicar-se ao seu estudo, havendo, em 1937,
chegado a fundar uma federação das casas de candomblé baianas, sob
a denominação de União das Seitas Afro-Brasileiras da Bahia.
Iniciou
sua carreira de jornalista através das páginas do Estado da Bahia,
na qualidade de colaborador, em seguida, redator efetivo.
Transferindo-se para o Rio de Janeiro, trabalharia em O Jornal. Do
Rio de Janeiro, comissionado pelo Museu Nacional, voltou à Bahia em
agosto de 1939, a fim de recolher material sobre os cultos
afro-brasileiros e encomendar a feitura de bonecas de pano, em
tamanho natural, com as vestimentas e insígnias do orixás, material
este que pode ser visto no Museu da Quinta da Boa Vista. Publica
Religiões Negras (1936), Negros Bantos e Castro Alves - Ensaio de
Compreensão (1937). Fixado, definitivamente, no sul do país, passou
a dividir o seu tempo entre as atividades jornalísticas e trabalhos
de tradução para o português, de obras escritas em inglês e
francês, por solicitação de editores sulistas. Em 1946 publicou,
em edição mexicana, Guerra de los Palmares, que surgiria, um ano
após, no Brasil, sob o título O Quilombo dos Palmares. Em 1947,
publicaria Trajetória de Castro Alves, e em 1948, o MAB editaria seu
mais famoso livro - Candomblés da Bahia.
Em 1949
ingressaria na Confederação Nacional da Indústria, de onde se
transferiria, em 1955, para o Serviço Nacional da Indústria (SESI),
onde permaneceu até a sua morte. Foi ainda redator do serviço
público do MEC. Publicou Antologia do Negro Brasileiro (1950),
Linguagem Popular da Bahia (1951); A Cidade do Salvador (1954), A
Conquista da Amazônia (1956), O Negro em Minas Gerais e A Sabedoria
Popular (1957). Durante essa época foi um dos principais redatores
do Última Hora e do Jornal do Brasil. Em 1959 iniciaria sua carreira
de professor, encarregado do ensino da disciplina Bibliografia do
Folclore, no Curso de Biblioteconomia da Biblioteca Nacional. Nessa
mesma ocasião participou do grupo de trabalho que estruturou a
Campanha de Defesa do Folclore. Publicou A Insurreição Praieira
(1960) e Samba de Umbigada (1961). Foi redator da Carta do Samba em
1962. Mais tarde passa a ministrar, na condição de professor
visitante, cursos em várias Universidades brasileiras, entre as
quais, as de Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Paraná e Rio Grande do
Sul. Editou os livros Ladinos e Crioulos (1964) e Dinâmica do
Folclore (1965). Em 1966 foi nomeado membro da comissão criada pelo
Ministério das Relações Exteriores para organizar a representação
brasileira no 1º Festival Mundial de Arte Negra, a realizar-se em
Dacar. De Dacar, onde chefiou a Delegação do Brasil, seu primeiro
contacto com a África negra, atendendo a convite especial da UNESCO,
seguiria para o Daomé (atual Benin), onde participaria do Colóquio
África-América Latina. Visitou outros países africanos, entre eles
o Togo, a Costa do Marfim e a Nigéria. Publicou nesse ano, em
francês e em inglês, um artigo sobre as religiões afro-brasileiras
sob o título de Contribuição da África à Civilização
Brasileira.
De volta
ao Brasil, continuaria a escrever artigos e verbetes, para jornais,
revistas e enciclopédias, entre essas, a Enciclopédia Barsa, a
Delta-Larousse e a Mirador Internacional, e iniciou a revisão e
anotação de obras clássicas da nossa história social, entre elas,
as Cartas de Vilhena, reeditadas em 1969, na Bahia, sob o título A
Bahia no Século XVIII, e o trabalho pioneiro de Nina Rodrigues, Os
Africanos no Brasil. Nessa fase publicou artigos no Jornal do
Comércio, do RJ, em A Tarde, da Bahia, em Brasil Açucareiro, na
revista Planeta e em Afro-Ásia, revista do Centro de Estudos
Afro-Orientais da UFBA, enquanto outros seriam publicados no
exterior, nos EUA, União Soviética, México e Argentina. Por toda a
sua grande atividade literária, foi agraciado, em 1969, pela
Academia Brasileira de Letras com o Prêmio Machado de Assis. Foi
ainda condecorado com a Medalha Sílvio Romero pelo Governo da
Guanabara e com a Medalha Euclides da Cunha, pela cidade de São José
do Rio Preto.
Seu valor
como profundo conhecedor da nossa cultura popular foi reconhecido por
importantes organizações estrangeiras, entre as quais as Sociedades
de Folclore do México, Peru e Tucaman, na Argentina. Enquanto, no
Brasil, que o nomeou seu membro honorário, pelo Conselho Diretor da
Comissão Nacional de Folclore do IBECC (órgão nacional da UNESCO),
e pelo Conselho Nacional do Folclore, dos quais participou como
membro efetivo. Tal reconhecimento não partiria, no entanto, apenas
de instituições oficiais e, desse modo, Édison Carneiro recebeu da
Escola de Samba Portela, o título de Grande Benemérito, e o de
Sócio Honorário das Escolas de Samba da Mangueira e Acadêmicos do
Salgueiro, tendo recebido igual honraria do afoxé Filhos de Gandhi,
da Bahia, e do Clube das Pás Douradas, de passistas de frevo do
Recife. Após a sua morte, um novo livro de sua autoria seria ainda
publicado - Folguedos Tradicionais, um dos mais completos trabalhos
existentes sobre a nossa cultura popular. Édison Carneiro morreu em
1973. Hoje é nome de rua, em Pernambués, nome de Escola Pública,
de prêmio literário do Estado da Bahia, mas sua memória persiste
viva sobretudo na saudade do povo, para o qual o nome de Édison
Carneiro é sinônimo de luta pelo futuro.
Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura
do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas),
Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau
Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em
frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28,
Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor
Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro
Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)
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