DA
MÚSICA PARA O QUADRINHO
Em
1966/67, Guy Peelaert se serviu dos dois maiores nomes da música
pop francesa para dar forma às suas duas heroínas: Pravda e
Jodelle. Pravda, la Survireuse foi inspirada em Françoise
Hardy e publicada, inicialmente, na revista Hara Kiri. A motociclista
Pravda exibe seu corpo com orgulho. Sua única roupa é um largo
cinturão. Elástica, ágil, linda, ela lidera um grupo de mulheres
dentro de um mundo de motonetas, gritos estridentes e formas
alucinógenas.
Jodelle,
inspirada na cantora Sylvia Vartan, representa a introdução da pop
art na HQ. É mais colorida, menos clássica, mais sadomasoquista,
não deixando por menos suas aventuras sexuais numa mistura de Roma
antiga, dolce vita atual e espionagem à James Bond. O cenário se
desenrola entre Las Vegas e a Roma antiga. Jodelle, linda e
amoral,vive aventuras desenfreadas num mundo dominado pelos mass
media. No Brasil a Edrel publicou a Espiã Vênus, inspiradas
nessas personagens.
O rock e
as HQs trouxeram uma contribuição decisiva para a imprensa, os
espetáculos, cartazes psicodélicos, a gíria e outras manifestações
de contracultura do underground. A liberdade foi sua meta e a negação
um meio de atingi-la. A revolução do novo competiu com a
restauração do velho.
Foi a
década das descobertas e redescobertas. A contemplação deu lugar à
participação, A palavra foi deformada em grito, o som se fez ruído,
a cor agrediu e o gesto atingiu o transe.
Relação
antiga
A relação
entre música e quadrinhos é antiga. Acontece de diversas maneiras.
Desde a criação de um gibi cujo protagonista é músico até uma
história que ilustre a letra de uma canção.
Quem não
se lembra das músicas como "I'm no Superman", do artista
Lazlo Bane, e "Festa na Casa do Bolinha", dos brasileiros
Erasmo e Roberto Carlos? Ou "De como meu Herói Flash Gordon
irá levar-me de volta a Alfa do Centauro” cantado por Ronnie
Von...
"Iron
Maiden em Quadrinhos", publicação independente que transforma
em desenhos e balões o álbum "Seventh Son of a Seventh Son",
lançado em 1988 pelo famoso grupo britânico de heavy metal. A
homenagem mostra a saga de um rapaz que é o sétimo filho de um
sétimo filho dentro de sua família. O fato faz com que seja tido
como o escolhido para trazer o bem para a humanidade, uma vez que ele
teria poderes especiais. Mas Lúcifer está de olho nas habilidades
da criança desde o seu nascimento.
O grupo
norte-americano Kiss já nasceu para ser personagem de gibi. Com seu
figurino peculiar e as características pinturas faciais dos
integrantes, a banda parece ter sido feita para chegar a outras
mídias além da música. A ideia de levá-los às revistinhas nasceu
por meio da Marvel Comics na década de 1970 e foi possível se
divertir com a interação de Paul Stanley, Gene Simmons e o restante
dos roqueiros com outros personagens da editora, como os mutantes
X-Men e o vilão Doutor Destino.
As
linguagens do rock e dos quadrinhos são prestigiadas por jovens,
porque há um frescor juvenil. E essas linguagens estão
entrelaçadas. Raul Seixas era um aficionado leitor e desenhista de
quadrinhos na juventude. Um bom exemplo disso é o título do seu
disco Krig-há, Bandolo! (grito de guerra do personagem
Tarzan). Bob Cuspe, criado pelo cartunista Angeli, é o
personagem síntese do retrato da cena punk paulistana. Rê
Bordosa, também do Angeli, inspirada indiretamente em Rita Lee,
é a dama-junkie-feminista do quadrinho brasileiro. “Eu considero a
minha biografia, as tirinhas da Rê Bordosa. Principalmente quando
ela estava vomitando do lado da banheira, com depressão, a minha
cara” , disse Rita Lee, em entrevista pro Canal Brasil. Ainda desse
desenhista tem a dupla Wood e Stock, os dois nostálgicos
hippies ainda vivem à margem da sociedade e o clima utópico do
“flower power”.
As
aventuras de Zimmermann foi o título de uma edição da revista
americana National Lampoon no início da década de setenta que narra
as andanças de Bob Dylan pelos episódios que marcaram os anos
sessenta como a ida à guerra e o festival de Woodstock. Escrita por
Tony Hendra e Sean Kelly e desenhada por Neal Adams.
A banda
de punk-rock The Ramones tem uma paixão pelos quadrinhos. Ela
embarcou na onda dos quadrinhos com o clipe “I Don’t Want To Grow
Up”, do disco Ádios Amigos. Basta ouvir a pauleira Spider Man,
homenagem ao paladino aracnídeo. E não ficou só nisto: em
2005, a banda lançou a coleção “Weird Tales of The Ramones”,
que traz nos traços elementos da Pop Art de Roy Lichestein. Junto
com o gibi, três cds e um dvd fazem parte da coletânea.
O
fundador da Zap Comics, Robert Crumb, no início dos anos sessenta
balançou a cena com suas publicações, a saga das viagens
psicodélicas dos hippies e, sobretudo, histórias da música
norte-americana de raiz, como o blues, jazz e o folk. Amigo pessoal
de Janis Joplin ele desenhou a capa e “Cheap Thrills”, o primeiro
LP da banda “The Big Hold Company”, de 1968. Crumb ilustrou
trabalhos, pôsteres e outras peças musicais para gente como James
Brown, Frank Zappa, Gus Cannon, George Jones, Woody Guthrie, MTV,
entre outros novos artistas e ícones esquecidos do blues e do jazz
feito entre os anos 20 e 30, esses últimos, os verdadeiros idolos de
Crumb.
No livro
Minha Vida, uma compilação das tiras de Crumb, ele conta no
início da carreira a música foi uma ferramenta de trabalho, e que
ele costumava se inspirar em canções antigas de jazz e blues para
criar seus personagens. As capas de Crumb foram reunidas em um livro,
R. Crumb: The Complete Record Cover Collection, que traz ainda
pôsteres e outras ilustrações musicais feitas por ele. Na web, há
um vídeo disponível em que Crumb fala das duas paixões, a música
e os quadrinhos:
O francês
Hervé Bourhis conta sua versão ilustrada da história do ritmo que
mudou o comportamento de jovens do mundo todo em O Pequeno Livro
do Rock (Conrad). Em outro lançamento, Figuras do rock em
quadrinhos (V&R Editoras).
Michael
Jackson – Um Thriller em Preto e Branco, Diego Agrimbau e o
ilustrador Horacio Lalia contam a história do menino prodígio que
não queria crescer.
Bob
Marley: O Guerreiro Rasta, de
Diego Agrimbau e Dante Ginevr, mostra a vida desse guerreiro
rasta que fez do rastafarianismo um estilo de vida e uma inspiração
para a sua música.
Histórias
do Clube da Esquina vira história em quadrinhos. O álbum traz
algumas das histórias sobre a formação do movimento musical que se
originou em Minas Gerais Roteiro e desenhos de Lauro Ferreira e
arte-final e cores de Omar Viñole.“Por que se chamava moço /
Também se chamava estrada/ Viagem de ventania/ Nem lembra se olhou
prá trás / Ao primeiro passo, o aço, o aço / Por que se chamavam
homens/ Também se chamavam sonhos/ E sonhos não envelhecem”.
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