Qual É A Cor Do Amor? (Cazuza)
Primeiro é o beijo
Quente, procurado
A língua procurando a
outra
E vendo se a boca
combina
Se combina o beijo
Meio caminho andado
Depois é a pele
Se a textura vale
O pêlo com pêlo
Ou o pêlo com o seu
pêlo
Ou os pêlos com meu
pêlo
Ou o medo
Depois o cheiro
Um procura no outro
O cheiro de colônia ou
O cheiro de prazer
E os dois se embriagam
Ou vão até o banheiro
Depois a cor
O amor tem cor?
Cada amor tem uma cor
Cada beijo tem uma cor
Cor de caramelo doce
Cor de madrugada fria
Memórias
de um arrepio (Pirigulino Babilake)
Você
pode ter esquecido
mas
minha memória é eterna
Eu sou
aquele arrepio
sem
vento e sem frio
subindo
em sua perna
O
grito comprimido num pote
O
cheiro cheiroso
que te
esquenta o cangote
Eu sou
o inferno e a paz
O
passado que vai à frente
e o
presente correndo atrás
Aquele
que te segue enquanto anda
tragando
o aroma de mel e lavanda
Eu sou
a sua libido viva
A gota
saliva que escapole do beijo
escorre
na louça e ilumina o que vejo
E mais
do que justo segue sua trilha
atravessa
seu busto e transborda à virilha
Assim
como essa gota
sou eu
agora
Passeio
em seu corpo
pouso
em sua mão
e vou
embora
Sintonia para Pressa
e Presságio (Paulo Leminski)
Escrevia no espaço.
Hoje, grafo no tempo,
na pele, na palma, na
pétala,
luz do momento.
Sôo na dúvida que
separa
o silêncio de quem
grita
do escândalo que cala,
no tempo, distância,
praça,
que a pausa, asa, leva
para ir do percalço ao
espasmo.
Eis a voz, eis o deus,
eis a fala,
eis que a luz se
acendeu na casa
e não cabe mais na
sala.
Soneto do
Desmantelo Azul (Carlos Pena Filho)
Então, pintei de azul
os meus sapatos
por não poder de azul
pintar as ruas,
depois, vesti meus
gestos insensatos
e colori, as minhas
mãos e as tuas.
Para extinguir em nós
o azul ausente
e aprisionar no azul as
coisas gratas,
enfim, nós derramamos
simplesmente
azul sobre os vestidos
e as gravatas.
E afogados em nós, nem
nos lembramos
que no excesso que
havia em nosso espaço
pudesse haver de azul
também cansaço.
E perdidos de azul nos
contemplamos
e vimos que entre nós
nascia um sul
vertiginosamente azul.
Azul.
Fruta aberta (Thiago
de Mello)
Agora sei quem sou.
Sou pouco, mas sei
muito,
porque sei o poder
imenso
que morava comigo,
mas adormecido como um
peixe grande
no fundo escuro e
silencioso do rio
e que hoje é como uma
árvore
plantada bem alta no
meio da minha vida.
Agora sei as coisa como
são.
Sei porque a água
escorre meiga
e porque acalanto é o
seu ruído
na noite estrelada
que se deita no chão
da nova casa.
Agora sei as coisas
poderosas
que valem dentro de um
homem.
Aprendi contigo, amada.
Aprendi com a tua
beleza,
com a macia beleza de
tuas mãos,
teus longos dedos de
pétalas de prata,
a ternura oceânica do
teu olhar,
verde de todas as cores
e sem nenhum horizonte;
com tua pele fresca e
enluarada,
a tua infância
permanente,
tua sabedoria fabulária
brilhando distraída no
teu rosto.
Grandes coisas simples
aprendi contigo,
com o teu parentesco
com os mitos mais terrestres,
com as espigas douradas
no vento,
com as chuvas de verão
e com as linhas da
minha mão.
Contigo aprendi
que o amor reparte
mas sobretudo
acrescenta,
e a cada instante mais
aprendo
com o teu jeito de
andar pela cidade
como se caminhasses de
mãos dadas com o ar,
com o teu gosto de erva
molhada,
com a luz dos teus
dentes,
tuas delicadezas
secretas,
a alegria do teu amor
maravilhado,
e com a tua voz radiosa
que sai da tua boca
inesperada como um
arco-íris
partindo ao meio e
unindo os extremos da vida,
e mostrando a verdade
Como uma fruta aberta.
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