Terrorismo,
crime organizado, desemprego e solidão são fenômenos típicos de
uma era na qual a exclusão e a desintegração da solidariedade
expõem o homem aos seus temores mais graves. A insegurança é a
marca fundamental dos tempos líquidos–modernos. Para o sociólogo
polonês Zygmunt Bauman as cidades são hoje verdadeiros campos de
batalha, onde poderes globais se chocam com identidades locais,
abandonadas pela desintegração da solidariedade social. O produto
desse encontro não poderia ser outro senão a violência e a
insegurança generalizadas.
No seu
estudo o sociólogo afirma que a passagem da fase “sólida” da
modernidade para a “líquida”, ou seja, para uma condição em
que as organizações sociais (estruturas que limitam as escolhas
individuais, instituições que asseguram a repetição de rotinas,
padrões de comportamento aceitável) não poderia mais manter sua
forma por muito tempo, pois se decompõem e se dissolvem mais rápido
que o tempo que leva para moldá-las e, uma vez organizadas, para que
se estabeleçam. O segundo ponto observado por Bauman está na
separação e divórcio entre o poder e a política. Grande parte do
poder de agir efetivamente, agora se afasta na direção de um espaço
global politicamente descontrolado, enquanto a política (a
capacidade de decidir a direção e o objetivo de uma ação) é
incapaz de operar efetivamente na dimensão planetária, já que
permanece local. Assim, a ausência de controle político transforma
os poderes recém-emancipados numa fonte de profunda e incontrolável
incerteza, enquanto a falta de poder torna as instituições
políticas existentes cada vez menos relevantes para os problemas
existenciais dos cidadãos dos Estados-nações e, por essa razão,
atraem cada vez menos a atenção destes. O resultado disso é que os
órgãos do Estado abandonam, transferem ou terceirizam um volume
crescente de funções que desempenhavam anteriormente.
Abandonados
pelo Estado, essas funções se tornam um playground para as forças
do mercado (iniciativa privada e aos cuidados dos indivíduos). No
Rio de Janeiro, por exemplo, as favelas, abandonadas pelo Estado,
estão “protegidas” pelo tráfico de drogas. A redução gradual
da segurança comunal endossada pelo Estado, contra o fracasso e o
infortúnio individuais retira da ação coletiva grande parte da
atração que esta exercia no passado e solapa os alicerces da
solidariedade social. A exposição dos indivíduos aos caprichos dos
mercados de mão-de-obra e de mercadorias inspira e promove a divisão
e não a unidade. Incentiva as atitudes competitivas, rebaixa a
colaboração e o trabalho em equipe. A sociedade é cada vez mais
vista e tratada como uma “rede” em vez de uma “estrutura”.
O colapso
do pensamento, do planejamento e da ação a longo prazo, e o
desaparecimento ou enfraquecimento das estruturas sociais leva a um
desmembramento da história política e das vidas individuais numa
série de projetos e episódios de curto prazo que são infinitos e
não combinam com os tipos de seqüências aos quais os conceitos
como “desenvolvimento”, “maturação”, “carreira” ou
“progresso” (ordem de sucessão pré-ordenada) poderiam ser
significamente aplicados. Uma vida assim fragmentada estimula
orientações “laterais”, mais do que “verticais”. Esse é o
quarto ponto.
O quinto
e último ponto é a responsabilidade em resolver os dilemas gerados
por circunstâncias voláteis e constantemente instáveis é jogada
sobre os ombros dos indivíduos – dos quais se esperam que sejam
“free-choosers” e suportem plenamente as conseqüências de suas
escolhas. A prontidão em mudar repentinamente de táticas e de
estilo, abandonar compromissos e lealdades sem arrependimento – e
buscar oportunidades mais de acordo com sua disponibilidade atual do
que as próprias preferências.
Como
essas mudanças influenciam a maneira como homens e mulheres tendem a
viver suas vidas?, indaga Zygmunt Bauman no livro “Tempos Líquidos”
(Zahar). O efeito geral das cinco mudanças listadas acima é a
necessidade de agir, planejar ações, calcular ganhos e perdas
esperados dessas ações e avaliar seus resultados em condições de
incerteza endêmica. O autor estudou as causas dessa incerteza e
desnudou alguns dos obstáculos que impedem a sua compreensão e
nossa capacidade de enfrentar os desafios que qualquer tentativa de
controlá-las necessariamente apresenta.
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