29 agosto 2012

Quadrinhos e rock: o grito de revolta de uma geração (2)

(Texto originalmente publicado na Tribuna da Bahia – Gutemberg Cruz  20/02/1976)

Uma característica importante dos movimentos Beat e Hip é que seus ideólogos tem formação universitária, sendo mesmo que Ferlinghelti é doutor pela Sorbonne. Fermentado pelos intelectuais do underground, estes movimentos são divulgados, estimulados e incorporados pela máquina infernal de propaganda, num trabalho internacional de condicionamento operante de aprendizagem do consumo rápido.

Aí foi o tempo das contestações, dos tédios, dos new James Dean. Os jovens tornaram-se agressivos niilista dopado (em que se apoiar e acreditar, se a realidade era brutal e hostil?). Foi o auge do barulho e do sex appeal, de violência e do tumulto. Surgiu o acid rock, o head music e também o heavy metal rock (o simplificado som pauleira). Nesta repercussão do rock inclui em suas fileiras os Beatles, Stones, The Who, Dylan, Hendrix, Joplin, Pink Floyd, Zeppelin e outros.

O QUADRINHO COMO ARTE

Enquanto no Brasil havia aquela atmosfera de preconceitos, muitos quadrinhos foram rasgados, lidos às escondidas e tidos como subliteratura (os discos de rock eram ouvidos baixinhos e escondidos dos pais). Na França, estudiosos cuidavam dos aspectos artísticos e estéticos das historietas. Eles acreditavam que os quadrinhos poderiam ser, também e acima de tudo, obras de arte gráfica. Os italianos viam o aspecto educacional e os americanos concluíram, finalmente, que o escapismo, principal linha de força dos comics tradicionais, precisava ser definitivamente substituída pelo realismo adaptado à atualidade da época.

A renovação americana traz nos anos 60 os heróis sofridos de Stan Lee, os conflitos e crises existenciais. O Capitão América, defensor número um da política americana, desolado, se pergunta se os ideais por que lutou se justificariam. O Homem Aranha protesta ao lado de estudantes contra a repressão policial e o Quarteto Fantástico luta contra o poder econômico.

O pintor pop Roy Lichtestein amplia a HQ até a dimensão da arte, seguido pelos colegas Mell Ramos e Andy Warhol. É a Pop Art que valoriza os quadrinhos. Abandonando o escapismo, as situações falsamente reais, os quadrinhos humaniza seus personagens e aprimora a qualidade artística dos desenhos até os menores detalhes. Seus representantes máximos são os personagens Barbarella, de Jean Claude Forest, onde a mulher se torna objeto erótico porque ela é o erotismo personificado em mulher. Seguindo seus passos surge Scarlet Drean de Robert Gigi e Claude Moliterny, a primeira heroína de quadrinhos a ser violentada pelo vilão. Valentina, do italiano Guido Crepax, revolucionou a técnica narrativa e os enquadramentos.

Os Fradinhos de Henfil, Vão Gogo de Millôr e Pererê de Ziraldo tomam de assalto as páginas dos grandes jornais e revistas. Maurício de Sousa aparece mais adiante com Mônica e sua turma. O terror é o tema preferido dos quadrinhos brasileiros. Ao mesmo tempo o francês Phillipe Druillet, e um italiano Hugo Pratt, idealizavam Lone Sloane e Corto Maltese. Sloane só poderia ser fruto de um hippie declarado como Druillet: é um personagem abertamente humilde diante da beleza das coisas, em permanente reflexão sobre o amor e a vida. Maltese, um marinheiro do começo do século.

Roberto Carlos, liderando o programa da TV Record, Jovem Guarda, é um líder sem causa, no fundo, um jovem conservador. E os festivais da canção são cada vez mais tumultuados. Inclusive aparece uma revista em quadrinhos com as aventuras do rei e de toda a sua gang. A EBAL publicou também com relativo sucesso The Mookees (na revista Lançamento) enquanto outras editoras quadriniza as letras das canções dos Beatles.

Nicolas Devil lança HQ hippie: Saga de Xam. Sob o rótulo de ficção científica e o pretexto de erotismo, Saga é uma obra ambiciosa que arrasta, embrulhadas, ideias vulcânicas sob o racismo, a violência e a não violência. Surge também as historietas underground de Robert Crumb. O sucesso foi tão grande que em pouco tempo apareceram outros desenhistas influenciados pelo realismo gráfico de Crumb e a mesma temática de sempre: sangue jorrando aos borbotões de um quadrinho para o outro enquanto os personagens se devoram entre si, caracterizados por policiais, hippies, traficantes, prostitutas, dirigentes políticos e até representantes do clero, todos envolvidos em atividades sádicas e extravagantes, manifestando pelo uso da violência e o desejo sexual reprimido.

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