Desde o início, a trajetória do cineasta Edgard Navarro tem sido marcada pela ousadia com que trata os temas polêmicos que aborda. Suas primeiras incursões do período em que o Super 8 estava em voga, inscrevendo-se nesta fase a trilogia freudiana, na qual mesclam-se irreverência, escatologia, agressividade e humor: “Alice no País das Mil Novilhas” (o oral), “O Rei do Cagaço” (anal) e “Exposed” (fálico). Trata-se de uma explosão de signos pródiga e eloquente, em que anuncia, já então, o estilo irrequieto que tantas críticas e prêmios irá merecer.
Em suas reminiscência, Navarro buscou inspiração na obra de Fellini mas imprimiu sua identidade numa trama que se desenrola em duas décadas com as angústias, dores e delícias de sua geração. Na história de Guiga (alter ego de Navarro), filho caçula de uma família de classe média de Salvador dos anos 50, até o fim do período universitário dos anos 70, vem os novos desafios que se apresentam para esse jovem. Os questionamentos e inquietações desse jovem são observados com uma autenticidade rara pelo olhar sensível do cineasta. “A luz é a matéria-prima do cinema, e a nossa vontade é transformar toda a dor do mundo em luz”, revelou ele nas entrevista à imprensa. “Eu me lembro é, antes de tudo, uma sucessão de páginas do álbum da minha vida, da vida de alguém que nasceu e cresceu
Em sua linguagem fílmica, que confirma e ao mesmo tempo vai além, aprimora e continua gerando fruto original, surpreendente. E a cada momento as texturas de suas imagens em movimento não rompem o transe expressa muito do seu princípio criativo e irrequieto, perturbador, reflexivo, provocativo. Edgar Navarro siga em frente com esta sua arte exemplar que todos nós estamos lhe apoiando nessa sua trajetória. Rotulado de maldito, você sempre foi do bem, como escreveu o colega jornalista Emiliano José, “os benditos na terra dos sonhos”. E que seus sonhos tornem-se luz.
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