27 julho 2007

Realidade virtual na virada do milênio

Balanço do Século XX

A elegante boemia da belle époque deu brilho ao início do século XX. Na década de 10, começa a idade do jazz, blues e samba. A humanidade caminha rumo à modernidade na década de 20. A depressão tomou conta dos anos 30. O existencialismo é a filosofia que se tornou moda entre os jovens nos 40. O rock and roll e a bossa nova surgiram entre os alegre e ingênuos anos 50, com destaque para os ícones Marilyn Monroe, Marlon Brando, Elvis Presley e James Dean. O homem vai ao espaço e os jovens fazem a revolução dos costumes com os hippies em Woodstock e o psicodelismo na febre dos rebeldes anos 60. Os anos 70 foram definidos como a era da incerteza, do culto ao corpo e da explosão punk e reggae. O pós-modernismo chega na década dos anseios do yuppie, dos clones dos ícones como Michael Jackson, Madonna e Prince. É o marketing do passado reciclado. Os anos 90 surgem como a década do cyberpunk e dos computadores. Vale quem tem mais informações. É o balanço do século XX, um passado que continua presente nas recordações de muitos.

1990/2000 - A última década do século é a da realidade virtual. As novas tecnologias de realidade virtual já permitem que as pessoas, literalmente, entrem no computador para interagir com os atores colocados em cena. Assim, usando um capacete criador de realidade virtual, entra-se no filme. Lara Croft, heroína virtual de milhares de fãs pelo mundo afora, é a mocinha do game Tomb raider, gravou um disco produzido por Dave Stewart, virou objeto de culto, a ponto de ir para capas de revistas e ser saudada como o ideal feminino da virada do século. Tudo isso sem existir. Ela é apenas uma das criaturas que habitam o mundo virtual e que, depois de serem eleitas ídolos cyber, começam a chegar ao mundo real. O que estava em livros de ficção científica, como Looker, de Michael Crichton (sobre modelos que serão belas para sempre, uma vez que são artificiais), ou Idoru, de William Gibson (que fala da idolatria e falsos seres), torna-se realidade. Virtual, e lucrativa.

O relativismo de todos os conceitos e noções políticas, culturais, ética e estética é uma das características mais marcantes de nossa época. Não há mais qualquer noção de bem ou mal, de certo ou errado, de belo ou feio que seja aceita sem contestações por uma parcela significativa de uma sociedade. O “tudo é relativo” de Albert Einstein transformou-se na síntese, no emblema mais característico de nossos dias. Se em épocas anteriores eram necessários longos e dolorosos processos para que os homens abandonassem suas crenças, seus princípios morais e sua fé, hoje questiona-se o próprio sentido de se adotar ou defender qualquer sistema de valores. “Tudo o que é sólido se desmancha no ar”, disse o escritor americano Marshall Berman, recorrendo a um discurso de Próspero, personagem central da peça Tempestade, de William Shakespeare. Esta é uma descrição exata de nossos tempos.

A engenharia genética, de sua parte, poderá tornar possível a multiplicação de clones humanos, isto é, a fabricação em série de indivíduos idênticos. A discussão da sexualidade no cinema refinou-se. Aclamada em Cannes/97, a fábula moderna Ma Vie en Rose, do belga Alain Berliner, rediscute papéis sexuais e anuncia a nova tendência no cinema. O filme sugere que as linhas das fronteiras entre o masculino e o feminino estão cada vez mais esmaecidas. Jurassic Park, de Steven Spielberg, foi o filme de maior sucesso do ano de 1993 e bateu o recorde de bilheteria do E.T. O sucesso tem a ver com o uso espetacular de recursos visuais e cibernéticos. O cinema brasileiro atravessou uma crise profunda, tanto de criação quanto de produção. Em 1994 o cinema ensaia um retorno com Lamarca, de Sérgio Rezende, e Carlota Joaquina-Princesa do Brazil, de Carla Camurati, O Quatrilho, de Fábio Barreto, O Mandarim, de Júlio Bressane, Jenipapo, de Monique Gardenberg, O Que é Isso Companheiro?, de Bruno Barreto, e tantos outros.

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