ANOS 10
Até 1910, haviam entrado no Brasil
portugueses, italianos, espanhóis, alemães, japoneses, perfazendo mais de 2.400
habitantes (105 da população do país, que girava em torno de 24 milhões). A
maioria desses imigrantes iria formar o operariado brasileiro. As fábricas
urbanizavam o Brasil. As indústrias vão transformando as cidades em metrópoles.
Na base das grandes fortunas está o trabalho de milhares de operários que vivem
um cotidiano de privações, esquecidos pela legislação trabalhista. As migrações
externas e internas determinam o excesso de mão-de-obra. E a crescente
mecanização da grande indústria, desempregando operários, deprime o salário e
agrava a já precária situação do trabalhador.
O cinema brasileiro atravessou uma
verdadeira febre de produção a partir de 1908. Os atores do cinema nacional
eram, em sua maioria, recrutados no teatro ou no circo. Homem que se prezasse
no Brasil era bem-falante. A oratória compunha a personalidade masculina do
mesmo modo que o fraque, o chapéu-coco, o cravo na lapela e o soberbo bigode –
tudo isso acompanhado, naturalmente, de um título de doutor. Escravas das
convenções, a mulher tinha um horizonte reduzido. Sua atuação social se resumia
às demonstrações de fé nas missas dominicais, de caridade, nas reuniões
beneficentes, e de boa anfitriã, nos salões onde expunha seus dotes musicais.
Sem direito a voto ou participação política, sobrava à mulher o papel de mãe e
educadora, sua principal tarefa na sociedade patriarcal.
O baiano Ruy Barbosa era o mestre da
oratória e defensor das grandes causas. Candidatou-se à Presidência da
República, mas perdeu e declarou: “Fora da lei não há justiça”. Os jornais
começavam a modernizar-se. Acompanhando a maré do progresso no Brasil, as
pequenas oficinas de tipografia compravam máquinas e iam se tornando grandes
empresas. Acompanhando as inovações técnicas das oficinas de impressão, foram
aparecendo inúmeras revistas com fotografias, páginas coloridas, ilustrações e
caricaturas. Caricaturistas de talento como Raul Pederneiras, K-Lixto e
J.Carlos tornaram-se a principal atração de revistas humorísticas como
Fon-Fon!, Careta, O Malho, entre outras. O Tico-Tico ganhou, imediatamente, a
preferência do público infantil.
A primeira revista exclusivamente de
quadrinhos, O Tico Tico, um grande sucesso entre crianças e adolescentes de seu
tempo. Foram 2097 edições e quase 57 anos de existência, encerrou uma saga
ainda não igualada pelas revistas infantis nacionais (1905-1962). Marco de
nossas publicações infantis, a infância de muitos brasileiros, passando a fazer
parte do imaginário coletivo da cultura nacional.
Criada com o objetivo de entreter e educar
o leitor infantil pertencente à parcela média da população, a revista O Tico
Tico veiculava uma visão ingênua da infância. Os tipos que aparecem em cenários
da natureza com árvores e mato, onde animais, como vacas e cavalos, aparecem
soltos e livres. Personagens matutos, visto que normalmente usam botas, chapéu
de palha, macacão e camisas listradas.
Criado por Alfredo Storni (1881-1966)
especialmente para a revista infantil O Tico Tico em 1908, Zé Macaco é o personagem que mais durou na história dos quadrinhos
brasileiros. Foram quase 50 anos aparecendo na mesma revista, sem parar. O
detalhe é que Zé Macaco envelhecia de acordo com o passar do tempo, e se tornou
velho e barrigudo. A dupla que reúne o malandro Zé Macaco e a cabrocha
Faustina, casal típico brasileiro tornou-se tão popular que se transformou até
em motivo publicitário de casas de roupas e sapatos. Esses personagens foram
tão importantes quanto o Pafuncio e
Marocas (Bringing Up Father), de McManus. Trata-se de uma crítica à classe
média urbana ascendente e deslumbrada. Inicialmente, a mulher não tinha nome e
era identificada como Madame Zé Macaco. Um concurso entre os leitores definiu
seu nome. O par tinha um filho Baratinha, que apareceu apenas por um breve
período nas histórias que focavam nas tentativas frustradas da dupla de
aparentar ter educação e inteligência e de estar na moda.
O casal carioca era marcado pela feiúra e
idiotice, mas se esforçava para aparentar boa educação, inteligência e estar na
moda. Desde sua primeira aparição até 1957 a dupla foi publicada com a
característica de irem envelhecendo e Zé Macaco tornou-se careca e barrigudo.
Nessa história, o autor elabora a fórmula básica das histórias em quadrinhos
familiares, tem-se a mulher feia e atrapalhada, o marido querendo dar uma de
esperto, e seus amigos. Um casal feio, mas divertido. Mais tarde, essa estranha
família cresceu com Serrote, o filho, e Baratinha, o cachorro. Utilizando
traços caricaturescos, a série marcou toda uma época, divulgando as
características brasileiras da primeira metade do século 20. Storni explorou o
cotidiano de uma família carioca encantada pelos modismos europeus e ao mesmo
tempo desajustado em suas tentativas de ascensão social. Seu traço marcou a
revista por muitos anos.
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