Em 1900 o Brasil ainda era um país
predominantemente agrícola. A economia girava em torno dos oito produtos de
exportação: café, açúcar, erva-mate, cacau, fumo, algodão, borracha e couro. No
governo da Primeira República, Campos Salles (1898/1902) centrou numa política
financeira conservadora, restaurou as finanças e o crédito externo do país. Foi
sucedido pelo também paulista e cafeicultor Rodrigues Alves (1902/1906) que,
dispondo de recursos, realizou uma série de obras de saneamento e urbanização
na capital da República. Conduzidas de forma autoritária e sem o esclarecimento
da opinião pública, essas campanhas provocam uma rebelião popular, a Revolta da
Vacina. O mineiro Afonso Pena (1906/1909), o quarto presidente civil, só
consegue eleger-se depois que se comprometeu a encampar o Convênio de Taubaté
(a primeira intervenção estatal destinada a proteger o café), aprovado pela
maioria parlamentar. As medidas financeiras de 1906, ao garantir o nível de
renda da burguesia do café e limitar a plantação de novos cafezais,
contribuíram para a ativação da produção e dos negócios internos.
O estilo art nouveau invadiu o Brasil. Ele
está nos postes de iluminação elétrica que substituem os velhos lampiões de
gás, no vaso de flores, nos móveis de quarto, nos espelhos das confeitarias,
nas portas e portões, nas fachadas e interiores, e até na silhueta esguia da
nova mulher. A novidade permeia o cotidiano de cariocas e paulistas. É o
automóvel, o bonde elétrico, a fotografia, o cinematógrafo, os discos e as
vitrolas. Preocupados em tornar mais agradáveis os objetos industrializados, os
artistas do movimento art nouveau criam elementos decorativos a partir de
formas animais e vegetais estilizados. Alguns exemplos são os desenhos florais
usados em pés de ferro das máquinas de costura, em papéis de parede, em grades
de ferro fundido e em ilustrações de livros. As peças artesanais únicas exibem
os mesmos padrões. É o período dos vitrais, vasos, luminárias, jóias e móveis
excêntricos e requintados.
No Brasil o comerciante Fred Figner
inaugura a indústria fonográfica lançando, pela Casa Édison em 1902, o primeiro
disco do País, o lundu Isto é Bom, de Xisto Bahia, com o cantor Bahiano. O
verdadeiro nome de Bahiano era Manoel Pedro dos Santos. Art Nouveau, uma das
primeiras gravações do Bahiano, de autor desconhecido, falava da nova moda
recém-importada de Paris. A discografia do período também abria caminho para o sucesso
de grandes compositores, como Ernesto Nazareth, Alberto Nepomuceno e o
consagrado flautista Pattapio Silva. Este último gravou para a Casa Edison, em
1901, nada menos do que oito discos. Enquanto isso acontecia com a música
popular, na esfera da música erudita surgiram algumas figuras de relevo como
Henrique Oswald (Sinfonia opus 43), Francisco Braga (tornou-se muito popular
pela composição do Hino à Bandeira, com versos de Olavo Bilac) e Alberto
Nepomuceno (Série Brasileira).
Como toda indústria pioneira, nossa incipiente fonografia não dispunha de mão-de-obra, tendo de recrutar seus artistas entre cantores de cafés-concertos e artistas de variedades. Nos salões elegantes dançavam-se valsa e polca, e cantavam- -se árias de ópera. Somente em ambientes de “gente mais esclarecida”, povoados de escritores e jornalistas, é que a modinha e a serenata (serenatas de cantigas e o choro) fazia a sua aparição. No início do século XX o campo da música popular ouvida no Brasil era regido por uma extrema variedade de estilos e ritmos. Os maiores sucessos do carnaval, desde que ele se organizou em bailes (tantos os aristocráticos como os populares), eram polcas, valsas, tangos, mazurcas, schot-tishes e outras novidades norte-americanas como o charleston e o fox-trot. Do lado nacional, a variedade também imperava: ouviam-se maxixe, modas, marchas, cateretês e desafios sertanejos. Nenhum desses estilos musicais, apesar de suas modas passageiras, parecia ter fôlego suficiente para conquistar a hegemonia no gosto popular da época. Nenhum deles era considerado o ritmo nacional por excelência.
Primeiro foi o lundu, depois o maxixe
(estimulo aos baixos instintos), em seguida o samba (o ponto alto, a umbigada,
é uma forma lasciva de promover a aproximação dos órgãos genitais). Perseguido
pela polícia, esses três gêneros musicais tornam-se cada vez mais populares,
adquirindo o sabor de tudo o que é proibido. O povo ainda cultivava as toadas
de violão, a modinha, o maxixe e a serenata. A moda do corso, um desfile
motorizado, foi lançada no dia 1º de fevereiro de 1907, quando o carro das
filhas do presidente da República, Afonso Pena, percorreu a avenida Central
(atual Rio Branco), no Rio de Janeiro de ponta a ponto, antes que elas subissem
ao prédio da Comissão Fiscal das Obras do Porto para assistir à folia.
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