06 abril 2021

Grandes personagens de quadrinhos brasileiros 02

 

Em 1900 o Brasil ainda era um país predominantemente agrícola. A economia girava em torno dos oito produtos de exportação: café, açúcar, erva-mate, cacau, fumo, algodão, borracha e couro. No governo da Primeira República, Campos Salles (1898/1902) centrou numa política financeira conservadora, restaurou as finanças e o crédito externo do país. Foi sucedido pelo também paulista e cafeicultor Rodrigues Alves (1902/1906) que, dispondo de recursos, realizou uma série de obras de saneamento e urbanização na capital da República. Conduzidas de forma autoritária e sem o esclarecimento da opinião pública, essas campanhas provocam uma rebelião popular, a Revolta da Vacina. O mineiro Afonso Pena (1906/1909), o quarto presidente civil, só consegue eleger-se depois que se comprometeu a encampar o Convênio de Taubaté (a primeira intervenção estatal destinada a proteger o café), aprovado pela maioria parlamentar. As medidas financeiras de 1906, ao garantir o nível de renda da burguesia do café e limitar a plantação de novos cafezais, contribuíram para a ativação da produção e dos negócios internos.

 


O estilo art nouveau invadiu o Brasil. Ele está nos postes de iluminação elétrica que substituem os velhos lampiões de gás, no vaso de flores, nos móveis de quarto, nos espelhos das confeitarias, nas portas e portões, nas fachadas e interiores, e até na silhueta esguia da nova mulher. A novidade permeia o cotidiano de cariocas e paulistas. É o automóvel, o bonde elétrico, a fotografia, o cinematógrafo, os discos e as vitrolas. Preocupados em tornar mais agradáveis os objetos industrializados, os artistas do movimento art nouveau criam elementos decorativos a partir de formas animais e vegetais estilizados. Alguns exemplos são os desenhos florais usados em pés de ferro das máquinas de costura, em papéis de parede, em grades de ferro fundido e em ilustrações de livros. As peças artesanais únicas exibem os mesmos padrões. É o período dos vitrais, vasos, luminárias, jóias e móveis excêntricos e requintados.

 

No Brasil o comerciante Fred Figner inaugura a indústria fonográfica lançando, pela Casa Édison em 1902, o primeiro disco do País, o lundu Isto é Bom, de Xisto Bahia, com o cantor Bahiano. O verdadeiro nome de Bahiano era Manoel Pedro dos Santos. Art Nouveau, uma das primeiras gravações do Bahiano, de autor desconhecido, falava da nova moda recém-importada de Paris. A discografia do período também abria caminho para o sucesso de grandes compositores, como Ernesto Nazareth, Alberto Nepomuceno e o consagrado flautista Pattapio Silva. Este último gravou para a Casa Edison, em 1901, nada menos do que oito discos. Enquanto isso acontecia com a música popular, na esfera da música erudita surgiram algumas figuras de relevo como Henrique Oswald (Sinfonia opus 43), Francisco Braga (tornou-se muito popular pela composição do Hino à Bandeira, com versos de Olavo Bilac) e Alberto Nepomuceno (Série Brasileira).

 


Como toda indústria pioneira, nossa incipiente fonografia não dispunha de mão-de-obra, tendo de recrutar seus artistas entre cantores de cafés-concertos e artistas de variedades. Nos salões elegantes dançavam-se valsa e polca, e cantavam- -se árias de ópera. Somente em ambientes de “gente mais esclarecida”, povoados de escritores e jornalistas, é que a modinha e a serenata (serenatas de cantigas e o choro) fazia a sua aparição. No início do século XX o campo da música popular ouvida no Brasil era regido por uma extrema variedade de estilos e ritmos. Os maiores sucessos do carnaval, desde que ele se organizou em bailes (tantos os aristocráticos como os populares), eram polcas, valsas, tangos, mazurcas, schot-tishes e outras novidades norte-americanas como o charleston e o fox-trot. Do lado nacional, a variedade também imperava: ouviam-se maxixe, modas, marchas, cateretês e desafios sertanejos. Nenhum desses estilos musicais, apesar de suas modas passageiras, parecia ter fôlego suficiente para conquistar a hegemonia no gosto popular da época. Nenhum deles era considerado o ritmo nacional por excelência.

 


Primeiro foi o lundu, depois o maxixe (estimulo aos baixos instintos), em seguida o samba (o ponto alto, a umbigada, é uma forma lasciva de promover a aproximação dos órgãos genitais). Perseguido pela polícia, esses três gêneros musicais tornam-se cada vez mais populares, adquirindo o sabor de tudo o que é proibido. O povo ainda cultivava as toadas de violão, a modinha, o maxixe e a serenata. A moda do corso, um desfile motorizado, foi lançada no dia 1º de fevereiro de 1907, quando o carro das filhas do presidente da República, Afonso Pena, percorreu a avenida Central (atual Rio Branco), no Rio de Janeiro de ponta a ponto, antes que elas subissem ao prédio da Comissão Fiscal das Obras do Porto para assistir à folia.

 

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