25 abril 2021

Grandes personagens de quadrinhos brasileiros 17

 


XAXADO - Da simplicidade do traço à criatividade da narrativa, Xaxado retrata a vida rural com todas as suas lendas e mistérios. São aventuras de um garoto, neto de um famoso cangaceiro que vivia com o bando de Lampião, às voltas com problemas do dia a dia, junto com seus pais e amigos. Sensível às frustrações de seu tempo, demonstra especial preocupação com a desigualdade social. O personagem deu origem a uma turma que ocupou diariamente, ao tempo de 12 anos, as páginas do jornal baiano A Tarde, a partir de 1998. Criação do quadrinista Antônio Cedraz (1945-2014), a Turma do Xaxado reúne personagens tipicamente brasileiros e já recebeu diversos prêmios. Todo o trabalho tem um bom acabamento visual das personagens, com precisão no traço e originalidade temática. Através de um enredo fluente, falando de um cotidiano em que se misturam o real e o simbólico, o objetivo e o subjetivo, o autor constrói uma atmosfera da qual é difícil ficar alheio. Através de Xaxado penetramos no universo gráfico de Cedraz, o imaginário infantil cria asas e viaja na mente de todos nós. A turma vive às voltas com críticas ao sistema capitalista e à desigualdade social. Temas como a corrupção, a desonestidade dos políticos, a seca e a fome povoam as tirinhas, que, no entanto, prima pelo bom humor constante. Acompanha Xaxado personagens como o matuto Zé Pequeno que adora ficar na rede; a menina estudiosa e defensora da língua portuguesa Marieta; Capiba que deseja tocar e cantar como Luiz Gonzaga; a protetora do meio ambiente Marinês, e o filho de um grande latifundiário, que faz questão de deixar bem claro que nasceu em busca de ouro, Artuzinho. Além desses, participam das histórias diversos personagens do folclore nacional.

 


AÚ, O CAPOEIRISTA - No final de 2008 o baiano Flávio Luiz lança o álbum Au, o Capoeirista tendo um negro como protagonista. Humor e aventura de forma bem equilibrada, aborda vários elementos da cidade de Salvador como música e culinária. Exímio lutador, Au vale-se de sua astucia e inteligência para solucionar os problemas. A história, ambientada em Salvador, é repleta de aventura, humor, consciência ecológica e mostra o cotidiano do capoeirista mirim Aú e seu inseparável amigo, o macaquinho Licuri. No seu primeiro álbum, o adolescente investiga o desaparecimento de uma garota francesa sequestrada no Pelourinho ao presenciar o início de um incêndio. A investigação do capoeirista Au o leva à ilha particular do misterioso Armando Confuzionni. A partir daí o leitor vai encontrar muita ação pelas ladeiras do Pelô e outros pontos da cidade, além de uma eletrizante perseguição de jetskis nas águas da Baía de Todos os Santos. Na segunda aventura (2014) o capoeirista enfrenta piratas no álbum O Fantasma do Farol (2014). Um fantasma assanha o Farol da Barra na noite de

 


CABRA – Criação do baiano Flávio Luiz. Ficção científica e cultural regional se unem para contar a história de Severino Crispim dos Santos, também conhecido como o Cabra. A releitura da música Sobradinho (“o sertão vai virar mar...”), da dupla Sá e Guarabyra, abre o álbum. A canção dá o tom da narrativa; mais de mil anos no futuro, o deserto toma conta do planeta. Água é raridade, um privilegio apenas dos coronéis e do clero. Em um futuro devastado por guerras e destruição do meio ambiente, a Terra se tornou um grande deserto, em poucos focos de água. E é nesse cenário que vive Severino, um cangaceiro que no dia de seu casamento sofreu uma emboscada e teve seu bando e noiva assassinados. Depois de ser dado como morto, ele parte em busca de vingança contra o coronel Antonio Bento, mas no meio do caminho vai descobrir uma serie de segredos sobre o dia de sua emboscada. O álbum foi lançado em 2010, num tamanho raro de se ver hoje em dia. São 56 páginas coloridas, no formato de 25 x 38 cm editado pela Papel A2 (SP). Traição, vingança, redenção e uma pitada de romance fazem desse álbum independente O Cabra uma HQ de ficção com toques tropicalistas

 


CAPITÃO DOUGLAS – Personagem criado por Laerte personifica a atitude autoritária. Personagem da série O condomínio nos anos 1990. O velho Capitão é saudosista de guerras, vive combatendo moinhos de vento, com pompa militar e de lembranças da guerra do Paraguai. Embora aposentado de suas funções (referência aos militares que comandaram o Brasil de 1964 a 1985), continua a sua luta para impedir o “fim da cultura e civilização”. Em 2010 Laerte publica nos quatro volumes da coleção Striptiras, Capitão Douglas Capricórnio na sua luta contra as hordas de bárbaros famintos sanguinários assassinos destruidores da cultura e da civilização.

 




MENINO QUADRADINHO – Um dos mais belos e poéticos tributos às histórias em quadrinhos e sua fascinante forma de linguagem e de narrativa. Criação de Ziraldo e publicado pela Editora Melhoramento em 1989. Mergulho do cartunista no mundo repleto de imagens, cores e letras. Nessa obra Ziraldo homenageia poetas como Drummond e Vinicius de Moraes, que têm seus versos citados, e mestres das HQs como Will Eisner e Moebius. A narrativa segue o personagem no seu crescimento físico e psicológico, partindo das HQs passo a passo até o texto impresso. Até a página 19, o desenhista brinca com a linguagem dos quadrinhos, imitando o estilo de vários clássicos do gênero. Nas outras páginas, o menino quadradinho do livro “penetra surdamente no reino das palavras” (como dizia Drummond em “A Procura da Poesia”) e vive uma aventura no país das letras, que Ziraldo já explorara anteriormente em seu Planeta Lilás. Nesta obra, os truques gráficos se misturam com personagens de outros livros do autor ou clássicos das HQs. De repente, em meio a esse mundo de personagens, imagens e cores, o menino acorda do seu sonho como se tivesse levado um grande susto: Onde estou? Onde estão os quadrinhos? Os balões! E os sons?  Todo o encanto transmitido pelas imagens vai aos poucos tomando conta das palavras. Ziraldo garante a seus muitos leitores que aprendera gostar de ler é isso: trocar um sonho colorido e cheio de imagens, por outro repleto de letrinhas – idéias, que fazem pensar e alargar o futuro. Tudo isso, feito com alegria e amor. Um livro bonito e instrutivo, e visualmente magnífico.

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