XAXADO - Da simplicidade
do traço à criatividade da narrativa, Xaxado retrata a vida rural com todas as
suas lendas e mistérios. São aventuras de um garoto, neto de um famoso
cangaceiro que vivia com o bando de Lampião, às voltas com problemas do dia a
dia, junto com seus pais e amigos. Sensível às frustrações de seu tempo,
demonstra especial preocupação com a desigualdade social. O personagem deu
origem a uma turma que ocupou diariamente, ao tempo de 12 anos, as páginas do
jornal baiano A Tarde, a partir de 1998. Criação do quadrinista Antônio Cedraz
(1945-2014), a Turma do Xaxado reúne personagens tipicamente brasileiros e já
recebeu diversos prêmios. Todo o trabalho tem um bom acabamento visual das
personagens, com precisão no traço e originalidade temática. Através de um
enredo fluente, falando de um cotidiano em que se misturam o real e o
simbólico, o objetivo e o subjetivo, o autor constrói uma atmosfera da qual é
difícil ficar alheio. Através de Xaxado penetramos no universo gráfico de
Cedraz, o imaginário infantil cria asas e viaja na mente de todos nós. A turma
vive às voltas com críticas ao sistema capitalista e à desigualdade social.
Temas como a corrupção, a desonestidade dos políticos, a seca e a fome povoam
as tirinhas, que, no entanto, prima pelo bom humor constante. Acompanha Xaxado
personagens como o matuto Zé Pequeno que adora ficar na rede; a menina
estudiosa e defensora da língua portuguesa Marieta; Capiba que deseja tocar e
cantar como Luiz Gonzaga; a protetora do meio ambiente Marinês, e o filho de um
grande latifundiário, que faz questão de deixar bem claro que nasceu em busca
de ouro, Artuzinho. Além desses, participam das histórias diversos personagens
do folclore nacional.
AÚ,
O CAPOEIRISTA
- No final de 2008 o baiano Flávio Luiz lança o álbum Au, o Capoeirista tendo
um negro como protagonista. Humor e aventura de forma bem equilibrada, aborda
vários elementos da cidade de Salvador como música e culinária. Exímio lutador,
Au vale-se de sua astucia e inteligência para solucionar os problemas. A
história, ambientada em Salvador, é repleta de aventura, humor, consciência
ecológica e mostra o cotidiano do capoeirista mirim Aú e seu inseparável amigo,
o macaquinho Licuri. No seu primeiro álbum, o adolescente investiga o
desaparecimento de uma garota francesa sequestrada no Pelourinho ao presenciar
o início de um incêndio. A investigação do capoeirista Au o leva à ilha
particular do misterioso Armando Confuzionni. A partir daí o leitor vai
encontrar muita ação pelas ladeiras do Pelô e outros pontos da cidade, além de
uma eletrizante perseguição de jetskis nas águas da Baía de Todos os Santos. Na
segunda aventura (2014) o capoeirista enfrenta piratas no álbum O Fantasma do
Farol (2014). Um fantasma assanha o Farol da Barra na noite de
CABRA – Criação do
baiano Flávio Luiz. Ficção científica e cultural regional se unem para contar a
história de Severino Crispim dos Santos, também conhecido como o Cabra. A
releitura da música Sobradinho (“o sertão vai virar mar...”), da dupla Sá e
Guarabyra, abre o álbum. A canção dá o tom da narrativa; mais de mil anos no
futuro, o deserto toma conta do planeta. Água é raridade, um privilegio apenas
dos coronéis e do clero. Em um futuro devastado por guerras e destruição do
meio ambiente, a Terra se tornou um grande deserto, em poucos focos de água. E
é nesse cenário que vive Severino, um cangaceiro que no dia de seu casamento
sofreu uma emboscada e teve seu bando e noiva assassinados. Depois de ser dado
como morto, ele parte em busca de vingança contra o coronel Antonio Bento, mas
no meio do caminho vai descobrir uma serie de segredos sobre o dia de sua
emboscada. O álbum foi lançado em 2010, num tamanho raro de se ver hoje em dia.
São 56 páginas coloridas, no formato de 25 x 38 cm editado pela Papel A2 (SP). Traição,
vingança, redenção e uma pitada de romance fazem desse álbum independente O
Cabra uma HQ de ficção com toques tropicalistas
CAPITÃO
DOUGLAS
– Personagem criado por Laerte personifica a atitude autoritária. Personagem da
série O condomínio nos anos 1990. O velho Capitão é saudosista de guerras, vive
combatendo moinhos de vento, com pompa militar e de lembranças da guerra do
Paraguai. Embora aposentado de suas funções (referência aos militares que
comandaram o Brasil de 1964 a 1985), continua a sua luta para impedir o “fim da
cultura e civilização”. Em 2010 Laerte publica nos quatro volumes da coleção
Striptiras, Capitão Douglas Capricórnio na sua luta contra as hordas de
bárbaros famintos sanguinários assassinos destruidores da cultura e da
civilização.
MENINO
QUADRADINHO
– Um dos mais belos e poéticos tributos às histórias em quadrinhos e sua
fascinante forma de linguagem e de narrativa. Criação de Ziraldo e publicado
pela Editora Melhoramento em 1989. Mergulho do cartunista no mundo repleto de
imagens, cores e letras. Nessa obra Ziraldo homenageia poetas como Drummond e
Vinicius de Moraes, que têm seus versos citados, e mestres das HQs como Will
Eisner e Moebius. A narrativa segue o personagem no seu crescimento físico e
psicológico, partindo das HQs passo a passo até o texto impresso. Até a página
19, o desenhista brinca com a linguagem dos quadrinhos, imitando o estilo de
vários clássicos do gênero. Nas outras páginas, o menino quadradinho do livro
“penetra surdamente no reino das palavras” (como dizia Drummond em “A Procura
da Poesia”) e vive uma aventura no país das letras, que Ziraldo já explorara
anteriormente em seu Planeta Lilás. Nesta obra, os truques gráficos se misturam
com personagens de outros livros do autor ou clássicos das HQs. De repente, em
meio a esse mundo de personagens, imagens e cores, o menino acorda do seu sonho
como se tivesse levado um grande susto: Onde estou? Onde estão os quadrinhos?
Os balões! E os sons? Todo o encanto
transmitido pelas imagens vai aos poucos tomando conta das palavras. Ziraldo
garante a seus muitos leitores que aprendera gostar de ler é isso: trocar um
sonho colorido e cheio de imagens, por outro repleto de letrinhas – idéias, que
fazem pensar e alargar o futuro. Tudo isso, feito com alegria e amor. Um livro
bonito e instrutivo, e visualmente magnífico.
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