Entre 1965 e 1969 Ziraldo publicou JEREMIAS, O BOM nas páginas do Jornal
do Brasil, seguindo para a revista O Cruzeiro logo depois. Foi publicado também
no Sol, Pasquim, nas revistas Manchete e FairPlay, entre outras. Ele já
assinava uma página dominical de cartuns no jornal, abordando temas diversos do
Brasil, “faltava um personagem. Como o Amigo da Onça, que era um malandro, fazia
sucesso, resolvi criar um anti-Amigo da Onça”, conta Ziraldo, referindo-se à
criação de Péricles Maranhão, celebrizada nas páginas daquela mesma revista. Um personagem inteligente, gentil e elegante, que se sacrifica sem
titubear. Já perdeu as contas de quantas vezes doou seu coração, que sempre
nasce de novo por ele ser só coração. No início o personagem fazia crítica de
costumes, depois “aderiu” à política durante as cerca de 20 semanas em que foi
publicado, segundo Ziraldo, sem que os editores de O Cruzeiro notassem as
críticas ao regime militar. Essa militância de Jeremias acabou com adesão do
cartunista da revista.
Quarenta anos depois, sem os militares no
poder, Ziraldo revisita o cotidiano daquele brasileiro sangue bom no cuidadoso
álbum Jeremias, o Bom que a Melhoramentos colocou no mercado. São reedições de
Jeremias com episódios que não saíram à época da ditadura militar. O lançamento
da reedição de Jeremias, o Bom fez parte da inauguração do Jeremias, o Bar (no
bairro da Bela Vista, São Paulo), uma homenagem do empresário Walter Mancini a
Ziraldo, seu amigo em 2007. No bar houve exposição permanente de desenhos
originais de Ziraldo e de importantes cartunistas dos últimos 50 anos. O
Jeremias, o Bar serviu como ponto de encontro de quadrinistas e profissionais
da área. Os mantenedores do espaço de quadrinhos do bar, Gualberto Costa e
Daniela Baptista, levaram o ponto para a HQ Mix Livraria, inaugurando-se no ano
seguinte, também na região central de São Paulo.
A história de Jeremias é tão intensa
quanto curta: a figura que marcou época a partir de 1965, morreu em 1969. Uma
figura de terno escuro e sempre impecável, sapato engraxado e brilhante. Sua
elegância se traduz no comportamento: Jeremias é sempre polido com todos,
cuidadoso ao extremo. Ele é aquele cara que sempre vai para o gol, para evitar
discussões. Ou mesmo de tanto comprar dropes de crianças nas ruas - Jeremias
seria incapaz de fechar o vidro ou ignorar um apelo de um menino pobre -,
acabou tornando-se diabético. Chega ao cúmulo de ter sua residência assaltada e
sua reação inesperada é fazer o miserável do ladrão jantar. Um alerta ou uma
cutucada sobre questões tão comuns no cotidiano brasileiro
CAPITÃO
CIPÓ é
uma criação do cartunista carioca Daniel Azulay para o Correio da Manhã, na sua
melhor fase, e marcaram época, a partir de 1968. Por outro lado, Cipó era uma
figura curiosíssima: de comportamento tropicalista, sofria de misoginia (fobia
às mulheres) e andava quase sempre envolto num cinto onde havia de tudo, desde
esparadrapos até pílulas anticoncepcionais. A crítica aplaudiu. Fruto da
psicodelia e da liberação sexual, Capitão Cipó estreou em 11 de janeiro de 1968
no jornal carioca Correio da Manhã e circulou até 15 de março de 1969 em tiras
diárias. Influenciado pelos quadrinhos adultos que se expandiam pela Europa, o
Capitão é criação do cartunista Daniel Azulay. Era um super anti super-herói,
criticando simultaneamente os valores tradicionais das HQs e os valores
novo-rio-arrivistas das calçadas de Ipanema. O Capitão Cipó, nas suas horas de
folga, fez biscates numa emissora de televisão, como apresentador, o Irineu
Pedrosa. Mas sua verdadeira vocação – é ser super-heroi: apaga incêndios com
seu supercuspe, irriga plantações secas com seus super espirros (quando está
resfriado) e vive em eterna duvida existencial, pois não sabe se é civil ou
militar. No seu cinto de utilidades, carrega bombons de chocolate, raios laser,
pílulas anticoncepcionais, lapiseiras vazias e isqueiros sem fluido e sem
pedra. Nesse cinto, não faltam bandaids, aspirinas, volantes de loteria
esportiva e um chimbolé. Nos bolsos das calças, todas as carteirinhas do
carioca moderno: de estudante para cinema, carimbo do ISS, CPF, INPS, etc. O
novo Capitão Cipó, retomado pelo jornal última Hora em 1973/74, apresentou-se
graficamente mais sofisticado e a própria influência da Jodelle francesa quer
nos parecer mais birulada. Se antes a critica era muito particular (localizado,
sobretudo, em Ipanema), agora tem uma direcionalidade que se abre como um
leque: as 61 tiras desta nova aventura ordena-se em torno das peripécias
criminosas da Baronesa d´Angu direcionando para o problema social, que se
manifesta nos agricultores que lavram as terras em volta da “tenebrosa fortaleza do falecido Conde
d´Angu” e na fome que ameaça a cidade de Cipópoles.
FRADIM – Na galeria de
personagens criados pela genialidade de Henfil (1944-1988), os Fradins têm um
lugar especial. Eles nasceram por imposição de Roberto Drummond, editor da
Alterosa, e foram inspirados em dois freis dominicanos mineiros. O Cumprido é o
religioso carola e careta, covarde, mas também lírico, romântico e sonhador. Já
Baixim é o Henfil pós-freis dominicanos, com uma nova visão de Igreja, que
conhece a hipocrisia do mundo e a combate através da ironia e da agressão. Os
Fradins têm ainda o mérito de introduzir em páginas impressas expressões como
putsgrilla, tutaméia, cacilda, além do gesto simbólico e sua onomatopeia, o top
top, que caíram no gosto dos leitores. Baixinho –
inspirado no próprio Henfil, era insolente, violento, pornográfico e combatia a
hipocrisia do mundo pela ironia. Cumprido – o artista antes de se libertar da
educação católica: religioso, careta, carola e medroso, mas também lírico
romântico e sonhador. Os fradins Baixinho e Cumprido (com “u” mesmo) eram uma
forma de Henfil ironizar a educação religiosa, cheia de tabus, que recebeu
desde cedo. O primeiro, que Henfil dizia ser inspirado nele próprio, era
insolente, violento, pornográfico e combatia a hipocrisia do mundo pela ironia.
Já o Cumprido é o artista antes de se libertar da educação católica: religioso,
careta, carola e medroso, mas também lírico romântico e sonhador. Eles nasceram
em 1964, mesmo ano em que a ditadura, que Henfil tanto combateu.
Os personagens começaram a aparecer
timidamente nos cantos de página do jornal carioca O Pasquim. Quando o Baixim
vira-se para o Cumprido, numa piada, e faz o gesto do Top!Top!,gesto mineiro,
maneira de dizer que o outro está ferrado, levou o público leitor ao delírio. O
Top!Top! caiu na boca do povo, virou música dos Mutantes, foi um escândalo tão
grande que a censura da ditadura militar, que tentava amordaçar o Pasquim,
proibiu Henfil de desenhar o Baixinho ensinando São Pedro a fazer o Top-Top no
céu, na primeira edição do Almanaque do Fradim. Para fugir da censura que a
cada dia estrangulava mais e mais o Pasquim, começou a fazer a Revistado
Fradim, com histórias mais compridas, e onde republicava as tiras do Zeferino.
Fez 31 números, uma vida relativamente longa para uma publicação independente.
MÔNICA
–
Levada, sapeca, dentuça, charmosa, dona de força incomum, mas, sobretudo, uma
criança brasileira. A personagem mais querida do quadrinho nacional, criada por
Mauricio de Sousa estreou no dia 03 de março de 1963, numa tira de Cebolinha,
publicada na Folha de S.Paulo. Rapidamente a Mônica passou a ser a dona da rua
e da turma. E o seu visual mudou bastante nesse tempo todo. Mônica e sua turma
conquistaram milhares de fãs. Em maio de 1970 a Editora Abril lançou a revista
Mônica, uma das mais importantes no panorama dos quadrinhos no Brasil. No dia
09 de janeiro de 1987 os personagens de quadrinhos de Mauricio de Sousa
deixaram de ser publicados pela Editora Abril – onde permaneceram 17 anos – e
passam para as páginas da Editora Globo. Desde janeiro de 2007, todas as revistinhas da Turma da
Mônica passaram a ser publicados pela multinacional Panini.
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