ANOS
70
O rock se transformou num negócio
bilionário. A Inglaterra estava na recessão e a juventude sem perspectiva
liderou o movimento punk contestando o rock milionário. Além dos garotos
rebeldes do punk rock, Bob Marley e toda a tropa de músicos negros jamaicanos
inflamaram ingleses e americanos com a batida pulsante do reggae. Na segunda
metade dos anos 70, o estilo disco dominou os EUA e se espalhou pelo mundo. A
palavra disco vem de discotheque. E os subúrbios do mundo tiveram acesso à
discoteca através do filme Os Embalos de Sabado à Noite, cuja trilha sonora, em
álbum duplo dos Bee Gees, se tornou o maior sucesso de venda de todos os
tempos. No cinema o destaque foi para 2001, uma Odisséia no Espaço, de Stanley
Kubrick. Mais tarde, este mesmo cineasta lança o filme Laranja Mecânica,
mostrando um futuro desolador e violento. No Brasil, os aplausos vão para o
filme Macunaíma, de Joaquim Pedro.
A comida natural, juntamente com a
vegetariana e a macrobiótica, foi um must dos anos 70, assim como diversas
outras programações da linha de saúde em voga naquele tempo, tipo correr nos
calçadões, parar de fumar, entre outros. Todas as bandeiras que as feministas
agitaram na década (morte ao sutiã, igualdade de direitos, ampla liberdade
sexual) resultaram na febre da “amizade colorida”. Foi a década que misturou
tudo. A mulher ganhava (e queria mais) autonomia e mostrava isso através do
psicodelismo e do look típico.
No Brasil, era a época do milagre
econômico. Grandes obras – a Ponte Rio-Niterói, enormes hidrelétricas, a
Transamazônica – eram contratadas quase com a mesma facilidade com que hoje se
constrói uma pracinha. O poder da classe média aumentava. Junto com tal
milagre, o país vivia o inferno da ditadura. A imprensa era censurada, os
partidos controlados, passeatas proibidas. Começaram a surgir uma série de
jornais alternativos, após Pasquim, que tiveram vida efêmera, como Flor do Mal,
Presença e o baiano Verbo Encantado. Com a censura, surge as revistas eróticas
que tomaram um maior impulso.
Imprensada pela censura e empobrecida pelo
exílio de vários artistas de peso, a MPB resistiu. Nomes como Milton
Nascimento, Gonzaguinha, João Bosco, Novos Baianos foram revelados. São os anos
da música nordestina (Fagner, Belchior, Alceu Valença, Ednardo, Geraldo
Azevedo, Zé Ramalho), da vanguarda erudita (Walter Franco, Marcus Vinícius). A
presença da mulher como força de produção, na música é um dado importante na
década: Joyce e Sueli Costa, Leci Brandão, Marina Lima, Ângela Ro Ro, Cátia de
França, Marlui Miranda, Simone, Elba Ramalho, Rita Lee e tantas outras. O
caminho da improvisação esteve constantemente em pauta com a música
instrumental de Wagner Tiso, Egberto Gismonti, Nana Vasconcelos, Hermeto
Paschoal, Nivaldo Ornellas.
Paulo Caruso e Rafik Farah criaram, a
partir do número nove do fanzine Balão em 1974, CAPITÃO BANDEIRA. Ágil, esguio, passos leves e porte altaneiro.
Terno branco e largo para melhor movimentar-se sob o sol que queima a fronte.
Fé inabalável não se sabe exatamente no que. Sem vergonha e irresponsável, por
isso, feliz (mas não se sabe). Descendente de nobres africanos, Agenor Pantera
é o companheiro de Bandeira em suas andanças aventureiras. Capitão Bandeira tem
como guru – em muitas situações – o babalaiô, yogue e autodidata do terceiro
mundo, como ele mesmo se intitula, o professor Mitologicus Contemporanius.
Quando Aldemir Milongas desencarnou, sua alma incorporou-se num urubu incauto
que sobrevoa o local. Verdadeiro soberano de nosso espaço azul, Urublue
desapareceu, misteriosamente, depois de vertiginosa decadência. É o roteiro
iniciado em 1973 e sintetizado em quadrinhos em 1979 por Paulo Caruso e Rafic
Jorge Farah. Publicado em álbum de luxo pela L&PM Editores em 1983: As
Origens do Capitão Bandeira, de Paulo Caruso e Racif Jorge Farah. Branco, sem cultura. Tem defeitos, crenças e cultiva algumas tradições. Ingênuo. Um super-herói tropical, mistura de Carlos Gardel caboclo com um Ghandi tupiniquim. Assim é o Capitão Bandeira. Em 64 páginas, os autores contam a história de um herói cujo lema é errar sempre, um malandro normal, mas difícil de seguir os passos.
ARGEMIRO, título da tira
diária criada pelo desenhista Setúbal na Tribuna da Bahia a partir de 1977. Os
problemas de um homem de meia idade, classe média, diante da realidade:
trabalho exaustivo em relação a baixa remuneração, aumento da gasolina gerando
outros aumentos, crise de energia, futebol, etc. A historieta é valorizada pelo
traço expressivo do personagem. Os desenhos de Setúbal são detalhistas, cheios
de sofisticado preciosismo, sempre atentos às mínimas novidades. Nada parece
lhe escapar.
Henfil tira férias do Caderno B do Jornal
do Brasil em 1977 e Luis Fernando Veríssimo publica a série AS COBRAS. Na época em que o país
gritava como podia contra o Regime Militar, desenhar duas cobrinhas foi uma
forma de contornar a censura. “Uma das razões para fazer as cobras era, na
época em que elas nasceram, você podia dizer mais com desenhos do que com
texto”, disse Veríssimo ao jornal O Globo. “Desenho tinha aquela conotação de
coisa lúdica, infantil, e era conveniente para driblar a censura”. Elas
continuaram dizendo até 1997, quando deixaram de ser publicadas. A economia no
traço de Veríssimo para desenhar As Cobras foi uma estratégia para suprir sua
inabilidade confessa para o desenho. Isto, porém, não foi um problema para o
reconhecimento de sua obra. O espanto é que tenha um forte discurso político,
mas com um lirismo encantador. As Cobras foram publicadas no jornal Zero Hora,
de Porto Alegre e no Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro, atingindo grande
prestígio de público.
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