21 abril 2021

Grandes personagens de quadrinhos brasileiros 13

 


O gaúcho Renato Canini (1936-2013) criou para a revista Patota (editora Artenova) em 1973, o personagem do DR. FRAUD. Com um óbvio trocadilho em relação ao nome do pai da psicanálise, Sigmund Freud, Dr. Fraud era evidentemente um charlatão e recebia em seu divã toda espécie de objetos inanimados, personagens de ficção e pacientes em geral, que recebiam sua completa atenção, mas provavelmente, nenhuma ajuda. O personagem antecipou em alguns anos o Analista de Bagé, de Luís Fernando Veríssimo.

 

O desenhista Miguel Paiva lança no Caderno B do Jornal do Brasil em 1977 a série DR. FREUD, o psicanalista dominado por fortíssimo complexo de Édipo e tarado sexual. Ele é um grande investidor. Investe particularmente nas neuroses do paciente. Dr Freud – diz seu criador – cultiva um ´caso´ eterno com a mãe. É um desajustado sexual e, como todo bom psicanalista, um grande investidor. Investe particularmente nas neuroses dos pacientes. Chegou até a criar o Fundo Freud de Investimentos, onde cada paciente pode ´aplicar´ a sua neurose, transformando-a um dia, com paciência e perseverança, numa magnífica paranóia. Por estranha coincidência, o Dr Freud recomenda tratamento mais longos para as pessoas mais ricas.

 


Nildão (Josanildo Dias Lacerda) começou a publicar a tira OS BICHIM no jornal A Tarde, Caderno 2, em 18 de julho de 1977. O universo do tamanho do fruto da goiabeira. Bichim era um bichinho de goiaba que chegava ao mundo e começava a questionar as coisas que via. Tanto na escolha do tema, como na linguagem, o domínio da poética é visto nesses quadrinhos de traço simples e equilíbrio. O título foi decorrente da linguagem nordestina que sempre abrevia o diminutivo em “im”. Aos poucos foi conhecendo outros personagens como Fernão Capelo Gaivota, um animal massificado que já conhece as malandragens do mundo. Mais tarde eles chegaram a conclusão de que o câncer da humanidade era o homem e resolveram ir ao céu pedir a Deus para tirar o humano da terra. Ao chegarem lá encontra o Deus narcisista, preocupado com a imagem e que não se interessava pelo que aqui estava acontecendo. Nessa fase, o jornal deixou de publicar a tira, alegando ser uma empresa de fundamentos religiosos. Para não deixar de publicar suas criações, Nildão cria novos personagens e novos argumentos. A tira Os Bichim foi distribuída pela ECAB (Editora Carneiro Bastos) para outros jornais e também publicada na revista Eureka da editora Vecchi.

 


ZEFERINOA partir do dia 14 de setembro de 1975 o cangaceiro Zeferino, a Graúna e o bode Francisco de Orelana voltam às páginas do Jornal do Brasil carregados de experiências vividas por seu criador. Depois de apagar o jogo de estourar lá fora, e acabar a visão subdesenvolvida da cultura brasileira, Henfil retomou o seu papel de artista engajado numa perspectiva social do Brasil. O arquétipo do cangaceiro nordestino surgiu na folha cor de rosa do Jornal dos Sports em 01 de abril de 1969 deslocado no tempo e espaço na imensidão do Maracanã. Para criar Zeferino, o cartunista Henfil (Henrique de Souza Filho, 1944-1988) mesclou traços do próprio pai, do personagem Corisco, do filme Deus e o diabo na terra o sol, de Glauber Rocha e no livro Os Sertões, de Euclides da Cunha. Depois foi publicado na revista Placar, da Editora Abril, em 1970, como uma espécie de representante do Brasil na Copa do Mundo do México. Três anos depois de seu nascimento, no dia 21 de agosto de 1972, passa a ser publicado no Jornal do Brasil (Caderno B), o cangaceiro Zeferino, seguido pela doce e irônica Graúna e pelo intelectual provinciano e boquirroto Bode Francisco Orelana. Uma trinca do barulho, que vivia se engalfinhando na utopia de superar as provocações do subdesenvolvimento. Nordestino da caatinga, esfomeado e sedento, acompanhado de uma minúscula Grauna, seu único personagem feminino, que após morrer e ressuscitar em três dias, pôs um ovo e gerou a Grauninha, um personagem delicado que morreu de inanição pouco depois. E ainda um bode devorador de livros, Francisco Orelana, vestindo seu constante chapéu coco, e que foi inspirado num bode real, de criação do cantador baiano Elomar Figueira de Mello. Como  antagonistas, a Onça Glorinha, cuja missão era caçar o “agente imperialista” Mickey, e o Lati, latifundiário. A série assumiu um tom de crítica política e de luta pelos direitos civis, trilhando uma longa e vitoriosa carreira que incluiu peça de teatro e revista em quadrinhos (Fradim) pela editora Codecri e publicação em outros órgãos da imprensa, como o jornal O Estado de São Paulo, já no final da vida do cartunista. O trio volta ao Jornal do Brasil em 14 de setembro de 1975 mais humanizados, carregados de experiências vividas por seu criador, Henfil. Depois de apagar o jogo de estourar lá fora, e acabar a visão de subdesenvolvimento da cultura brasileira, Henfil retomou o seu papel de artista engajado numa perspectiva social do Brasil.

 


Ao final da década de 1970, foi parar nas revistas de histórias em quadrinhos o quarteto cômico composto pelos artistas Renato Aragão (Didi), Manfried Santana (Dedé), Antonio Carlos Bernardes Gomes (Mussum) e Mauro Faccio Gonçalves (Zacarias), denominado OS TRAPALHÕES, que juntos estrelaram o mais longo programa humorístico da televisão brasileira (D’Oliveira, Vergueiro, 2010-2011). O conteúdo das revistas, publicadas a partir de 1976, pela Editora Bloch, trazia conteúdo semelhante ao desenvolvido no programa, explorando temas picantes, brincando com preconceitos, ridicularizando figuras proeminentes do cenário político nacional, do mundo dos esportes e do entretenimento, satirizando situações do cotidiano brasileiro, desde questões económicas (compras em lojas, preço dos alimentos etc.) a sociais (relação marido e mulher, homossexualidade, exploração do corpo feminino etc.).

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