McLuhan introduz as
expressões o impacto sensorial, o meio é a mensagem e aldeia global como
metáforas para a sociedade contemporânea, ao ponto de se tornarem parte da
nossa linguagem do dia a dia. Teórico dos meios de comunicação, foi precursor
dos estudos midiológicos. Seu foco de interesse não são os efeitos ideológicos
dos meios de comunicação sobre as pessoas, mas a interferência deles nas
sensações humanas, daí o conceito de "meios de comunicação como extensões
do homem" (o título de uma de suas obras). Em outras palavras, a forma de
um meio social tem a ver as novas maneiras de percepção instauradas pelas
tecnologias da informação. Os próprios meios são a causa e o motivo das
estruturas sociais.
Uma das mais curiosas
ideias de McLuhan é a de que "os meios de comunicação são extensões do
homem". Assim como se usa uma pinça para aumentar a precisão das mãos e
uma chave de fenda para girar um parafuso, os meios de comunicação seriam, na
verdade, extensões dos sentidos do homem. Os óculos, por exemplo, são extensões
do olho, a roupa é uma extensão da pele, a roda do carro é uma extensão do pé.
Com a internet, não deixa de ser curioso se falar em "relações
virtuais", como se as máquinas fossem realmente capazes de sentir e pensar
pelos seus operadores.
McLuhan vê parte
desse processo (a invasão da tecnologia em todos os recantos do mundo) como
inevitável, mas está bem ciente de suas armadilhas, como a alienação, a julgar
pela seguinte afirmação: “Não estamos mais bem preparados para enfrentar o
rádio e a televisão em nosso ambiente letrado do que o nativo de Gana em
relação à escrita, que o expulsa de seu mundo tribal coletivo, acuando-o num
isolamento individual. Estamos tão sonados em nosso novo mundo elétrico quanto
o nativo envolvido por nossa cultura escrita e mecânica”.
TELEVISÃO - É de sua
autoria uma famosa frase que descreve a TV: A imagem, o som e a fúria. Aldeia
global quer dizer simplesmente que o progresso tecnológico estava reduzindo
todo o planeta à mesma situação que ocorre em uma aldeia, ou seja, a
possibilidade de se intercomunicar diretamente com qualquer pessoa que nela
vive. Como paradigma da aldeia global, ele elegeu a televisão, um meio de
comunicação de massa em nível internacional, que começava a ser integrado via
satélite. Esqueceu, no entanto, que as formas de comunicação da aldeia são
essencialmente bidirecionais e entre dois indivíduos. Somente agora, com o
celular e a internet, é que o conceito começa a se concretizar.
Assim, as invenções
do alfabeto fonético, da imprensa e dos meios de comunicação audiovisuais eletromagnéticos
marcam, cada uma, a passagem do homem de um mundo a outro. Quando uma forma de
expressão, um meio comunicativo, é interiorizado, verifica-se uma alteração das
relações entre os nossos sentidos e, em consequência, mudam os processos
mentais. Foi o que aconteceu quando o alfabeto fonético transferiu o homem do
“mundo mágico do ouvido” para o “mundo neutro da visão”. A alfabetização afetou
o homem bárbaro ou tribal tanto fisiológica como psiquicamente; a civilização
deu-lhe “um olho por um ouvido e está agora em disputa com o mundo eletrônico”.
Essa luta é consequência da ampliação de um dos nossos sentidos – a visão,
através da TV que, para ele, é o melhor exemplo da comunicação total e
instantânea, pois não há intervalo entre a circulação do fato, da ideia ou da
situação e sua absorção.
ESCRITA - Quando o
homem inventou a escrita já introduziu um fator restritivo no seu modo de
conhecer e ser: até então, a disseminação das ideias era feita oralmente e a
vida se desenrolava sob o influxo da palavra, da experiência e da percepção
sensorial. Recorrendo à história antiga, McLuhan afirma que os gregos somente
promoveram a inovação artística e científica depois que interiorizaram o
alfabeto, partindo para uma “ênfase visual”, que os alienou da arte primitiva.
O mesmo está acontecendo agora, quando a idade eletrônica reforjou o
primitivismo, depois de “interiorizar o campo unificado da simultaneidade
elétrica”.
Nascido em 1911 no
Canadá, Marshall McLuhan ficou célebre por desenvolver a teoria de que o “o
meio é a mensagem”, segundo a qual o meio de comunicação define a mensagem, o
“conteúdo”, e o “meio” altera a perspectiva das pessoas que o utilizam. Se
antes a tecnologia era um prolongamento mecânico do corpo e das habilidades
físicas, como, por exemplo, na invenção da roda, na “era eletrônica” a
tecnologia passou a estabelecer uma ligação direta com o cérebro. Para ele, a
imprensa e sua difusão haviam reduzido os outros sentidos humanos em
favorecimento do visual, o que teria sido revertido pela televisão nos anos 50,
quando o homem voltou a ser “tribal” ou pré-letrado. Por isso a ideia de que
vivíamos em uma “aldeia global”, integrando as pessoas e mobilizando os seus
sentidos.
A aldeia global de
McLuhan era também uma utopia sem guerras, nacionalismo e preconceito, já que
envolveria todos os homens de forma solidária e cooperativa. “O futuro do livro
levanta a questão de saber se os homens podem programar sua vida social em
coletividade de acordo com um padrão civilizado qualquer por meios outros que não
o do livro impresso”, questionou ele. Marshall McLuhan faleceu em 1980 sem
conhecer a internet. Mesmo com sucesso, McLuhan nunca conquistou as boas graças
dos literatos, porque muitos dos seus ditos mais espirituosos eram dirigidos a
eles. A Internet reanimou o mcluhanismo. E novos teóricos da comunicação
surgirão, mas uma coisa, porém, não mudará. Primeiro eles terão de se haver com
McLuhan. Em setembro de 1979, McLuhan sofreu uma trombose que o deixou incapaz
de falar, ler ou escrever. Morreu enquanto dormia a 31 de dezembro de
1980.
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