24 outubro 2013

O filósofo Marshall McLuhan (02)





McLuhan introduz as expressões o impacto sensorial, o meio é a mensagem e aldeia global como metáforas para a sociedade contemporânea, ao ponto de se tornarem parte da nossa linguagem do dia a dia. Teórico dos meios de comunicação, foi precursor dos estudos midiológicos. Seu foco de interesse não são os efeitos ideológicos dos meios de comunicação sobre as pessoas, mas a interferência deles nas sensações humanas, daí o conceito de "meios de comunicação como extensões do homem" (o título de uma de suas obras). Em outras palavras, a forma de um meio social tem a ver as novas maneiras de percepção instauradas pelas tecnologias da informação. Os próprios meios são a causa e o motivo das estruturas sociais.

Uma das mais curiosas ideias de McLuhan é a de que "os meios de comunicação são extensões do homem". Assim como se usa uma pinça para aumentar a precisão das mãos e uma chave de fenda para girar um parafuso, os meios de comunicação seriam, na verdade, extensões dos sentidos do homem. Os óculos, por exemplo, são extensões do olho, a roupa é uma extensão da pele, a roda do carro é uma extensão do pé. Com a internet, não deixa de ser curioso se falar em "relações virtuais", como se as máquinas fossem realmente capazes de sentir e pensar pelos seus operadores.

McLuhan vê parte desse processo (a invasão da tecnologia em todos os recantos do mundo) como inevitável, mas está bem ciente de suas armadilhas, como a alienação, a julgar pela seguinte afirmação: “Não estamos mais bem preparados para enfrentar o rádio e a televisão em nosso ambiente letrado do que o nativo de Gana em relação à escrita, que o expulsa de seu mundo tribal coletivo, acuando-o num isolamento individual. Estamos tão sonados em nosso novo mundo elétrico quanto o nativo envolvido por nossa cultura escrita e mecânica”.

TELEVISÃO - É de sua autoria uma famosa frase que descreve a TV: A imagem, o som e a fúria. Aldeia global quer dizer simplesmente que o progresso tecnológico estava reduzindo todo o planeta à mesma situação que ocorre em uma aldeia, ou seja, a possibilidade de se intercomunicar diretamente com qualquer pessoa que nela vive. Como paradigma da aldeia global, ele elegeu a televisão, um meio de comunicação de massa em nível internacional, que começava a ser integrado via satélite. Esqueceu, no entanto, que as formas de comunicação da aldeia são essencialmente bidirecionais e entre dois indivíduos. Somente agora, com o celular e a internet, é que o conceito começa a se concretizar.

Assim, as invenções do alfabeto fonético, da imprensa e dos meios de comunicação audiovisuais eletromagnéticos marcam, cada uma, a passagem do homem de um mundo a outro. Quando uma forma de expressão, um meio comunicativo, é interiorizado, verifica-se uma alteração das relações entre os nossos sentidos e, em consequência, mudam os processos mentais. Foi o que aconteceu quando o alfabeto fonético transferiu o homem do “mundo mágico do ouvido” para o “mundo neutro da visão”. A alfabetização afetou o homem bárbaro ou tribal tanto fisiológica como psiquicamente; a civilização deu-lhe “um olho por um ouvido e está agora em disputa com o mundo eletrônico”. Essa luta é consequência da ampliação de um dos nossos sentidos – a visão, através da TV que, para ele, é o melhor exemplo da comunicação total e instantânea, pois não há intervalo entre a circulação do fato, da ideia ou da situação e sua absorção.


ESCRITA - Quando o homem inventou a escrita já introduziu um fator restritivo no seu modo de conhecer e ser: até então, a disseminação das ideias era feita oralmente e a vida se desenrolava sob o influxo da palavra, da experiência e da percepção sensorial. Recorrendo à história antiga, McLuhan afirma que os gregos somente promoveram a inovação artística e científica depois que interiorizaram o alfabeto, partindo para uma “ênfase visual”, que os alienou da arte primitiva. O mesmo está acontecendo agora, quando a idade eletrônica reforjou o primitivismo, depois de “interiorizar o campo unificado da simultaneidade elétrica”.

Nascido em 1911 no Canadá, Marshall McLuhan ficou célebre por desenvolver a teoria de que o “o meio é a mensagem”, segundo a qual o meio de comunicação define a mensagem, o “conteúdo”, e o “meio” altera a perspectiva das pessoas que o utilizam. Se antes a tecnologia era um prolongamento mecânico do corpo e das habilidades físicas, como, por exemplo, na invenção da roda, na “era eletrônica” a tecnologia passou a estabelecer uma ligação direta com o cérebro. Para ele, a imprensa e sua difusão haviam reduzido os outros sentidos humanos em favorecimento do visual, o que teria sido revertido pela televisão nos anos 50, quando o homem voltou a ser “tribal” ou pré-letrado. Por isso a ideia de que vivíamos em uma “aldeia global”, integrando as pessoas e mobilizando os seus sentidos.


A aldeia global de McLuhan era também uma utopia sem guerras, nacionalismo e preconceito, já que envolveria todos os homens de forma solidária e cooperativa. “O futuro do livro levanta a questão de saber se os homens podem programar sua vida social em coletividade de acordo com um padrão civilizado qualquer por meios outros que não o do livro impresso”, questionou ele. Marshall McLuhan faleceu em 1980 sem conhecer a internet. Mesmo com sucesso, McLuhan nunca conquistou as boas graças dos literatos, porque muitos dos seus ditos mais espirituosos eram dirigidos a eles. A Internet reanimou o mcluhanismo. E novos teóricos da comunicação surgirão, mas uma coisa, porém, não mudará. Primeiro eles terão de se haver com McLuhan. Em setembro de 1979, McLuhan sofreu uma trombose que o deixou incapaz de falar, ler ou escrever. Morreu enquanto dormia a 31 de dezembro de 1980. 
 

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