Mesmo sendo generalização, há
dois ideais que se opõem sobre o velho e o novo mundo. Enquanto na Europa
reacende a cultura de milênios, nos Estados Unidos predomina a juventude. O
cinema, por exemplo, surgiu na França, mas venceu nos Estados Unidos. A
descoberta de voar, Santos Dummont foi pioneiro quando sobrevoou Paris, mas os
norte americanos consideram a invenção sua. O mesmo nas histórias em
quadrinhos, o Nhô Quim brasileiro surgiu bem antes do Yellow Kid. Não basta
criar, é preciso capitalizar. E foi por isso que a cultura norte americana
prevaleceu, após a Segunda Guerra Mundial.
Eles investiram pesado na cultura
de massas, na adolescência. Ou seja, a calça que se chamou Lee nos anos 1910 e
hoje voltou a ser conhecida como jeans, a Coca Cola, o MacDonald´s, Studio
Disney e muito mais do ideal de sermos, todos, felizes e saudáveis como teens
(Salvador parece que incorporou esse ideal de felicidade em meio a tragédia).
Enquanto os filmes (e quadrinhos)
europeu somos tratados como maiores de idade, responsáveis, racionais,
reflexivos e que muitos pensam que esse tipo de cinema de arte é um tédio, de
tornar enfadonho o que seduz, de substituir pipocas por neurônios, Hollywood
infantiliza tudo. Acelera a arte feito videoclip, tudo muito depressa para que
a juventude não tenha tempo de refletir. É tudo muito rápido, balas passando,
herói voando, uma correria para a salvação, e que o bem é o Ocidente e o mal é
simplesmente o nessa globalização satisfaz.
Oriente. Se oriente rapaz (já cantava há décadas Gilberto Gil),
nem tudo
O american way of life como modo
de vida juvenil, da eterna juventude, de mulheres magras, homens halterofilista,
todos belíssimos, brancos e louros, tudo maravilha. Essa cultura que expandiu a
duração da adolescência (adultos tentando ser adolescentes, ainda que tardios)
enfraqueceu o valor do sacrifício pessoal. Tirou as justificativas para a
subserviência. Mas todo sonho que nos desvia da real cai por terra entre as
torres do orgulho e da dominação infantil. A garotada hoje nos EUA sai atirando
em todo mundo, querendo dar uma de herói, de resolver a justiça com as próprias
mãos.
O ícone Disney nos ajuda a
entender o século XX que passou, mas só agora começa a punir de forma
tão
severa quanto retardatária, do estilingue contra o tanque. A guerra das
estrelas caindo sobre os campos de papoula. Toda essa indústria da fantasia
kitsch produziu uma fantasia melancólica no adulto temeroso que agora lamenta
não poder confiar na beleza americana que era tida como beleza do mundo. A
realidade agora cega. Isso lembra o Brasil de hoje que esperou tanto da
esquerda quando foi censurada, e hoje ao subir ao poder, essa mesma esquerda
agora censura...
O Meio é a Mensagem, clássico de
Marshall McLuhan é uma citação de Sukarno, o primeiro presidente da Indonésia.
De tanto ver filmes de Hollywood, o público do Terceiro Mundo passou a desejar
conforto igual ao da sociedade norte americana. E, ao sentirem que os próprios
norte americanos apoiaram as elites locais, que boqueavam essa popularização do
prazer, voltaram-se
contra os EUA.
Com a transformação da juventude
numa espécie de virtude em si mesma e, nesse sentido, com a desvalorização do
patrimônio das gerações do passado, desapareceram também os recursos subjetivos
de superação - ou mesmo de subversão e de crítica - aos valores do mundo de
ontem. Posto que se faz tabula rasa da experiência passada, não é mais possível
conhecer essa experiência para a ela se opor verdadeiramente. Parece que nos
tornamos, assim, prisioneiros dos artifícios mercadológicos que colocam o novo
e o diferente nas vitrines como mercadorias disponíveis para serem adquiridas -
não conquistadas.
A juventude transformou-se em um
estado que se almeja que seja eterno. Assim sendo, é possível que
estejamos
vivendo hoje a experiência mais historicamente conservadora e acrítica dos
valores de todos os tempos anteriores, uma vez que ser jovem, em resumo,
constitui-se hoje no trabalho permanente de modular-se como um objeto de
consumo numa economia de mercado que se alimenta da crença segundo a qual
somos, e somos felizes, se somos o novo. Não como uma escolha, mas como um novo
imperativo: a juventude. A esta busca, o capitalismo de mercado nos sugere:
seja jovem e pertença a este mundo!
Como escreveu a psicanalista
Maria Rita Kehl, o sentido da vida se esvazia com a desvalorização da
experiência no mundo contemporâneo, os adolescentes parecem viver num mundo
cujas regras são feitas por eles e para eles, já que os próprios pais e educadores
estão comprometidos com uma leveza e uma “nonchalance” jovem. “Eu sou o que
vivi. Descarto o passado, em nome de uma eterna juventude, produz-se um vazio
difícil de suportar”.
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