08 julho 2013

Negro, uma cor fortemente polarizada ao longo de sua história (1)



Durante milênios, a cor preta tinha o status de uma cor integral. Perdeu o status como cor entre o final da Idade Média e o século XVII: o aparecimento da imprensa e da imagem gravadacom tinta preta sobre papel brancodeu a essas duas cores uma posição particular, que a Reforma Protestante e, depois, os progressos científicos acabaram, colocando fora do mundo das cores.

A partir de 1910 os artistas restituíram ao preto e ao branco o status que possuíam antes do final da Idade Média: o de cores autênticas. Leonardo da Vinci foi o primeiro entre os artistas a proclamar, no final do século XV, que o preto não era verdadeiramente uma cor. Em 1946 a Galeria Maeght organizou uma exposição que proclamava com uma espécie de insolência:O preto é uma cor.

Preto: história de uma cor, livro do historiador francês Michel Pastoureau, conta a história deste elemento na sociedade europeia, com muitas de suas mudanças de significado e classificação. No livro, repleto de ilustrações e pinturas históricas, o autor fala sobre as mitologias associadas à cor, sua relação com as trevas e o diabo, sua presença nas polêmicas definições dos tons de pele e a valorações morais associadas ao preto e suas matizes cinzentas. O livro é da Editora Senac e Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.

As seis cores de base da cultura ocidental: branco, vermelho, preto, verde, amarelo, azul.

As cinco cores de segunda ordem: cinza, marrom, violeta, rosa e laranja.

Para a Bíblia, ou pelo menos para o primeiro relato da Criação, o preto precedeu todas as outras cores. Ele é a cor primordial, mas também a cor que, desde a origem, possui um status negativo no negro não existe possibilidade de vida; a luz boa, as trevas não. Para a simbólica das cores, o negro aparece, após cinco versículo bíblicos, como vazio e mortífero.

Nix, a deusa da noite, pode ser vista em uma estátua gigantesca talhada no século V antes da nossa era pelo grande Fídias em um bloco de mármore preto. Este negro das origens é encontrado em outras mitologias(Europa, Asia, Africa). Com frequência trata-se de um preto fecundo e fértil, com aquele do Egito, que simboliza o livro depositado pelas águas do Nilo, cujas cheias benéficas são esperadas em cada ano com esperança: este preto que se opõe ao vermelho estéril da areia do deserto. Em outro lugar, o preto fertil é simplesmente representado por grandes nuvens escuras, carregadas de chuva, prestes a abater-se sobre a terra para fecundá-la.

A cor preta que representa a fertilidade deixa traços até o âmago da Idade Média cristã, por meio da simbólica das cores associadas aos quatro elementos. Ela constitui mesmo um dos seus prolongamentos mais duráveis: o fogo é vermelho, a água é verde, o ar é branco e a terra é preta.

Desde a Antiguidade mais recuada até o final da Idade Média, na Europa, as cores preta produzidas pelos tintureiros tem tons mais marrons que pretos, cinza ou azul escuro. Essas cores recobrem o tecido de maneira desigual, fixam-se pouco e dão cor aos tecidos e roupas um aspecto sujo, descorado e desagradável.

Pouco apreciadas, essas roupas pretas são reservadas às classes sociais mais humildes e circunstanciais específicas, como o luto ou a penitência. Segundo Pastoureau, as culturas antigas têm uma sensibilidade a cor preta mais desenvolvida e mais cheia de nuances que as sociedades contemporâneas. Em todos os domínios, não uma cor preta mas sim tons de preto.

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras, 28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

Um comentário:

Evanice Maria dos Santos ( Lady Eva) disse...

Olá Gutemberg. Fekuz dia de ter te encontrado na rede, quando estava a procurar uma outra pessoa. Interessei-me pelo seu blog e pus-me a ler o artigo que fala da cor negra e das várias nuances que a envolvem, bem como a mística que a acompanha. Realmente a Bíblia fala dessa cor como uma mística carregada e até certo ponto discriminatória, o que me remete a algum conhecimento teológico que adquiri, exatamente por conta desses aspectos que levam à discriminação. Só para lembrar episódios recentes, um pastor desarvorado e pouco ilustre, a dizer que Deus amaldiçoou o negro, a partir de uma atitude de um filho de Noé, que desrespeitou o pai, que se embriagara e andara nu pela casa. Há quem interprete isso como um possível estupro, causando a ira de Deus. Acho essa história um tanto fantasmagórica, pois o ser humano tem as mais diferentes dimensões do Deus Todo Poderoso, muitas vezes o colocando na sua mesma dimensão controvertida, mesquinha, dominado por ciúmes e vinganças. E como a bíblia foi escrita originalmente por profetas (Velho Testamento), muito antes da existência de Cristo, em uma língua morta, o aramaico, e daí para o grego,a chamada Septuaginta, quando os judeus, levados cativos para o Egito, empreenderam a mais surpreendente colonização nas terras dos faraós e não abriram mão de sua fé religiosa monoteísta,de grande intimidade com Jeová Deus.Com certeza,não deixaram de imprimir em suas escritas históricas sagradas os costumes de sua cultura, seus valores e símbolos, em que o negro tinha um significado negativo, por conta da história de Noé com o irreverente filho caçula de Noé, Can. E dessa forma foi passada para as traduções, inclusive para o Novo Testamento, escrito depois de Cristo, na línguagem popular grega da época, o Koiné. A esse tempo Jerusalém já estava dominada pelo império romano. É possível que tenha havido algumas distorções línguísticas, por conta das dezenas de traduções em diferentes línguas. Daí que a teologia utiliza os recursos da hermenêutica e da exegese para a interpretação dos textos bíblicos, o que, por sua vez, exige domínio técnico em interpretação de textos, quando não se tem elementos suficientes para a probalidade científica, que requer pesquisas aprofundadas para afirmações inequívocas. E ainda assim, até nesses casos, há contestações. E assim a história das civilizações vai registrando as construções e destruições de paradigmas numa aspiral sem fim, muitas vezes ocasionando sérios conflitos. Uma situação de que trata a dialética.