Durante milênios,
a cor preta tinha
o status de uma
cor integral. Perdeu o
status como cor entre
o final da Idade
Média e o século
XVII: o aparecimento
da imprensa e da
imagem gravada – com tinta
preta sobre papel branco
– deu a essas duas
cores uma posição particular,
que a Reforma Protestante
e, depois, os progressos
científicos acabaram,
colocando fora do
mundo das cores.
A partir
de 1910 os artistas
restituíram ao preto
e ao branco o
status que possuíam antes
do final da Idade
Média: o de cores
autênticas. Leonardo da
Vinci foi o primeiro
entre os artistas a
proclamar, no final
do século XV, que
o preto não era
verdadeiramente uma cor.
Em 1946 a Galeria
Maeght organizou uma exposição
que proclamava com uma
espécie de insolência:
“O preto é uma
cor”.
Preto:
história de
uma cor, livro do historiador francês Michel Pastoureau, conta a história deste elemento na sociedade europeia, com muitas de suas mudanças de significado e classificação. No livro,
repleto
de
ilustrações
e
pinturas
históricas,
o
autor
fala
sobre
as
mitologias
associadas
à
cor,
sua
relação
com
as
trevas
e
o
diabo,
sua
presença
nas
polêmicas
definições
dos
tons
de
pele
e
a
valorações
morais
associadas
ao
preto
e
suas
matizes
cinzentas. O
livro
é
da
Editora
Senac
e
Imprensa
Oficial
do
Estado
de
São
Paulo.
As seis
cores de base da
cultura ocidental:
branco, vermelho,
preto, verde, amarelo, azul.
As cinco
cores de segunda ordem:
cinza, marrom, violeta, rosa
e laranja.
Para a
Bíblia, ou pelo
menos para o primeiro
relato da Criação, o
preto precedeu todas as
outras cores. Ele é
a cor primordial,
mas também a cor
que, desde a origem,
possui um status negativo
no negro não existe
possibilidade de vida;
a luz boa, as
trevas não. Para a
simbólica das cores,
o negro já aparece,
após cinco versículo
bíblicos, como vazio
e mortífero.
Nix, a
deusa da noite, pode
ser vista em uma
estátua gigantesca
talhada no século
V antes da nossa
era pelo grande Fídias
em um bloco de
mármore preto. Este
negro das origens é
encontrado em outras
mitologias(Europa, Asia, Africa).
Com frequência trata-se de
um preto fecundo e
fértil, com aquele
do Egito, que simboliza
o livro depositado
pelas águas do Nilo,
cujas cheias benéficas
são esperadas em cada
ano com esperança:
este preto que se
opõe ao vermelho estéril
da areia do deserto.
Em outro lugar, o
preto fertil é simplesmente
representado por grandes
nuvens escuras, carregadas
de chuva, prestes a
abater-se sobre a
terra para fecundá-la.
A cor
preta que representa
a fertilidade deixa
traços até o âmago
da Idade Média cristã,
por meio da simbólica
das cores associadas
aos quatro elementos.
Ela constitui mesmo um
dos seus prolongamentos
mais duráveis: o fogo
é vermelho, a água
é verde, o ar
é branco e a
terra é preta.
Desde a
Antiguidade mais recuada
até o final da
Idade Média, na Europa,
as cores preta produzidas
pelos tintureiros tem
tons mais marrons que
pretos, cinza ou
azul escuro. Essas cores
recobrem o tecido
de maneira desigual,
fixam-se pouco e
dão cor aos tecidos
e roupas um aspecto
sujo, descorado e desagradável.
Pouco apreciadas,
essas roupas pretas são
reservadas às classes
sociais mais humildes
e circunstanciais específicas,
como o luto ou
a penitência. Segundo
Pastoureau, as culturas
antigas têm uma
sensibilidade a cor
preta mais desenvolvida
e mais cheia de
nuances que as
sociedades contemporâneas.
Em todos os domínios,
não há só uma
cor preta mas sim
tons de preto.
---------------------------------------------------
Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do
nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas),
Galeria do Livro (Espaço Cultural Itau
Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em
frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras, 28,
Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor
Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro
Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)
Um comentário:
Olá Gutemberg. Fekuz dia de ter te encontrado na rede, quando estava a procurar uma outra pessoa. Interessei-me pelo seu blog e pus-me a ler o artigo que fala da cor negra e das várias nuances que a envolvem, bem como a mística que a acompanha. Realmente a Bíblia fala dessa cor como uma mística carregada e até certo ponto discriminatória, o que me remete a algum conhecimento teológico que adquiri, exatamente por conta desses aspectos que levam à discriminação. Só para lembrar episódios recentes, um pastor desarvorado e pouco ilustre, a dizer que Deus amaldiçoou o negro, a partir de uma atitude de um filho de Noé, que desrespeitou o pai, que se embriagara e andara nu pela casa. Há quem interprete isso como um possível estupro, causando a ira de Deus. Acho essa história um tanto fantasmagórica, pois o ser humano tem as mais diferentes dimensões do Deus Todo Poderoso, muitas vezes o colocando na sua mesma dimensão controvertida, mesquinha, dominado por ciúmes e vinganças. E como a bíblia foi escrita originalmente por profetas (Velho Testamento), muito antes da existência de Cristo, em uma língua morta, o aramaico, e daí para o grego,a chamada Septuaginta, quando os judeus, levados cativos para o Egito, empreenderam a mais surpreendente colonização nas terras dos faraós e não abriram mão de sua fé religiosa monoteísta,de grande intimidade com Jeová Deus.Com certeza,não deixaram de imprimir em suas escritas históricas sagradas os costumes de sua cultura, seus valores e símbolos, em que o negro tinha um significado negativo, por conta da história de Noé com o irreverente filho caçula de Noé, Can. E dessa forma foi passada para as traduções, inclusive para o Novo Testamento, escrito depois de Cristo, na línguagem popular grega da época, o Koiné. A esse tempo Jerusalém já estava dominada pelo império romano. É possível que tenha havido algumas distorções línguísticas, por conta das dezenas de traduções em diferentes línguas. Daí que a teologia utiliza os recursos da hermenêutica e da exegese para a interpretação dos textos bíblicos, o que, por sua vez, exige domínio técnico em interpretação de textos, quando não se tem elementos suficientes para a probalidade científica, que requer pesquisas aprofundadas para afirmações inequívocas. E ainda assim, até nesses casos, há contestações. E assim a história das civilizações vai registrando as construções e destruições de paradigmas numa aspiral sem fim, muitas vezes ocasionando sérios conflitos. Uma situação de que trata a dialética.
Postar um comentário