09 julho 2013

Negro, uma cor fortemente polarizada ao longo de sua história (2)



Na Bíblia, a cor preta é considerado Cântico dos Cânticos prova de maneira diferente. Mesmo que, por vezes, se mostra ambivalente, como todas as outras cores, mesmo que a noiva proclama:Eu sou negra mas sou bela, o preto bíblicoe com ele todas as cores sombriase frequentemente mal interpretado: é a cor dos malvados e dos ímpios, dos inimigos de Israel e da maldição divina. É também a cor do caos primordial, da morte perigosa e maléfica, e sobretudo da morte. Somente a luz é fonte de vida e manifestação da presença de Deus.

No Egito faraônico a cor preta era relacionada com a dimensão fecundante da terra. Por ocasião dos funerais, assegura a passagem do morto para o além: é um preto benéfico, sinal de promessa de renascimento. As divindades ligadas à noite eram, quase sempre, pintados de preto.

Para a teologia cristã nos seus inícios, o branco e o preto formam, com efeito, um par de contrários e representam quase sempre a expressão colorida do Bem e do Mal. Essa oposição fundamenta-se no Gênesis (luz/trevas) mas também, segundo outras sensibilidades, está em sintonia com a natureza (dia/noite, por exemplo).  É comentado e desenvolvido pelos padres da Igreja e seus seguidores.

Após o ano 1000, a cor preta começa a tornar-se mais discreta na vida cotidiana e nos códigos sociais, em seguida passa a perder boa parte de sua ambivalência simbólica. Na Aniguidade romana e durante toda a alta Idade Média, a cor preta boa e a coabitam: por um lado a cor estava asociada à humildade, à moderação, à autoridade ou à dignidade; por outro remetia ao mundo dos mortos e das trevas, aos tempos de aflição e de penitencia, aos pecados e às forças do mal. Daí em diante, por quase o fim da diversão positiva dessa cor, cujos aspectos negativos parecem ocupar todo o campo simbólico. A época feudal foi no Ocidente a grande época dopreto mau.
 
Até o final do século XIV, o gato é visto com frequência como um animal falso e inquietador, especialmente o gato preto, que tem seu lugar no bestiário do Diabo. Como o javali, o corvo, venerado pelos celtas e alemães, foi profundamente depreciado pelo cristianismo. Animais diabólicos.

Os primeiros monges não se preocupavam co a cor de seu hábito. Mas a partir do século IX, nos textos e imagens, os monges são cada vez mais frequewntemente associados à cor preta. Em seguido, ele se torna a cor específica da ordem beneditina, ao passo que, como reação, as novas ordens escolhem o branco ou o marrom.

No final da Idade Média, os reis da França usam, para o luto, a cor violeta. E as rainhas, o branco. Mas na virada dos séculos XV-XVI, Ana da Bretanha, esposa de Carlos VIII e depois de Luis XII, introduz na corte francesa o uso da cor preta para as rainhas viuvas.


Em quase todos os aspectos da vida social, o final da Idade Média representa para a cor preta um período de intensa ascensão. Ao fazer o preto entrar na ordem das cores, e desembaraçando-se de seuis aspectos sinistros e funestros, as heráldica havia preparado o terreno para tais promoções. Desde o final do século XIII, as práticas relativas como vestuário do patriarcado urbano e dos detentors de cargos ou funções assumem a substituição e tornam o preto uma cor digna e íntergra. No século seguinte, são as morais cívicas e as leis referentes ao luxo que acentuam a dimensão virtuosa dessa cor.



Os legistas, os puristas, os magistrados m  embros de certas cortes soberanas são os primeiros a mostrar uma nova atração pela cor preta: aos olhos deles, como aos de um grande número de ordens momásticas e religiosas, a cor preta não é infernal ou maléfica, mas austera e virtuosa; por essa razão, deve ser escolhida para significar a autoridade pública, a .lei e o direito, e mesmo a administração nascente. Por volta da metade do século XIV se vestiam de preto, sinal distintivo de um status particular e de uma certa moral cívica.

Os séculos VI e XVII assistem progressivamente à organização de uma espécie de mundo em preto e branco, situado de início à margem do universo das cores, em seguida fora desse universo e até mesmo no seu exato oposto. Começam com o aparecimento da imprensa, nos anos 1450, opara atingir simbolicamente seu oposto de ruptura em 1665-1666, quando Isaac Newton realiza suas experiências com o prisma e descobre uma nova ordem das cores.
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