08 abril 2013

Tese sobre mulheres na política baiana é aprovada com distinção na Universidade Católica do Salvador


A tese de doutorado intitulada, “Diálogos com as mulheres na política local baiana: famílias, tradições e representações entre o público e o privado” de autoria de Claudia de Faria Barbosa foi defendida no dia 04 de dezembro de 2012, na Universidade Católica do Salvador.

Com uma banca composta por cinco professores, doutores renomados nas universidades brasileiras e estrangeiras e com notório conhecimento sobre a temática que envolve as mulheres na política, avaliou a tese sobre as prefeitas baianas atribuindo a esta “Menção honrosa devido à originalidade e ineditismo na abordagem”.

A pesquisadora questiona se o fato de maior participação feminina, em números, nos quadros políticos, dentro do processo contemporâneo brasileiro e baiano, indica efetiva cidadania e espaços conquistados pelas mulheres. O estudo focou as prefeitas baianas, ou seja, mulheres como agentes de exercício do poder político acessando debates sobre política e gênero.

O interesse foi compreender se as mulheres realmente conseguem autonomia e/ou se “empoderar” no sentido de tomar atitudes e levantar bandeiras de luta contra as segregações, violências e vulnerabilidades. O surgimento de tais questões de estudo foi evidenciado por verificar que o senso comum julga suas administrações como incapazes de dar conta das demandas da população e, sobretudo, tomar atitudes que efetivamente atendam aos interesses de outras mulheres.

Com o propósito de ultrapassar a visão naturalizada/essencializada do papel feminino no espaço público e privado, a análise evidencia como é trilhado o caminho das mulheres que ingressaram na política local, gestão 2009-2012. E acrescenta a questão de como se processa suas percepções e vivências nas relações entre as esferas privada e pública, com a perspectiva da elaboração da consciência de si e para si.

Em uma perspectiva ampla e alerta dos problemas históricos e culturais dos quais as mulheres se mantiveram invisibilizadas, a discussão perpassa pela incorporação da diversidade. Considerando como as mulheres investidas de um cargo político exercem a cidadania nos espaços público e privado constatou-se dificuldades encontradas no “campo político”, consoante às ideias do sociólogo francês Pierre Bourdieu.

Durante seis anos - entre mestrado e doutorado - a autora debruçou sobre a questão das mulheres na política baiana, ouvindo as gestoras locais sobre seus enfrentamentos de desafios, suas percepções, atuações e aflições. As entrevistas estiveram inseridas na tradição dos diálogos socráticos, que, assim como os diálogos antigos, representam um exercício prático que visa o aperfeiçoamento da comunicação, no qual se educa principalmente a capacidade de ouvir. O conceito de diálogo relaciona-se com a atitude de escutar e de falar com seriedade. É na atitude de aprendizado que reside o segredo da comunicação bem sucedida, do encontro e da possibilidade de análises e críticas.

A ideia do diálogo exige abertura às exegeses e às interpretações de outros pontos de vista, considerando a diversidade de histórias de cada pessoa e o perigo de se constituir como uma história única. Nesse sentido, as entrevistas foram pautadas na preservação da espontaneidade e confidencialidade com fins de acompanhar os meandros do pensamento das protagonistas – em uma palavra: ouvir a voz viva.  A escuta empática, tal como foi praticada nas entrevistas, teve um caráter ativo, à medida que atribuiu sentido no processo da resposta transformando-se de maneira natural. Nesta acepção, a audição evidencia uma ação com força intelectual e criatividade surpreendentes.

O trabalho de doutorado de Claudia Barbosa valoriza o pensamento transformador do ser humano, fundamental para quem almeja ver algo mais que o senso comum pode mostrar. Salientou o exercício da reflexão e centrou nas questões propostas para questionar o vivido, exercitar a teoria, sobretudo, evidenciar aspectos entrelaçados no cotidiano da política e nas relações de gênero. Assim, a autora dialogou com as gestoras, embasada em um saber instrumental, com análises de situações cotidianas em confronto com a teoria, contribuindo para atingir o âmago da questão. As condutas foram valorizadas e o resultado é o saber que interroga, critica e busca compreender.

Não há conclusão definitiva para a questão proposta. Conforme a autora: “as mulheres, em suas múltiplas ações, referências e atuações, ao agir na política enfrentam situações únicas e muitas variáveis estão em jogo. Ademais, são apenas ‘peças na engrenagem’ do poder político dominante e da reprodução do capital e de uma práxis de ordem patriarcal”.

Denuncia que a “sociedade do espetáculo” determina um diálogo político muitas vezes empobrecido. O patriarcado não mais se insere na lógica do poder absoluto nas mãos de alguns homens, sofrendo profundas mutações, adquirindo novas “roupagens” e características. A sua metamorfose desencadeou a serviço de um poder mais forte e dominador, o capitalismo avançado. Este consegue driblar as mentes humanas e inserir as mulheres em um emaranhado de jogos de interesses e dominações distantes do que seria um “empoderamento” delas com o escopo de haver verdadeiramente a emancipação social e política de todos os seres humanos, em um mundo com equidade e justiça social”

Interessa ressaltar que chamou atenção para o risco de estudos sem profundidade, nos quais se corre o risco de perder a riqueza e as sutilezas da particularidade ou da singularidade, enfatizando que “as nuances e as matizes de sentido requerem atenção a detalhes e conhecimento vasto de causa específica”. Apesar de haver avanços nos números, prevalece a reprodução de um sistema político dominante. Em suas palavras, “entre o geral e o particular, entre feminismos e outras aproximações teóricas que suportam olhares e propostas de intervenção, a realidade estudada, vista de perto, demarca espaços de avanços quantitativos, seja no âmbito nacional e regional, além do quadro atual estar favorável a uma tomada de consciência das mulheres em lutar pelos seus direitos civis, afirmando-se cada vez mais, pela sua autonomia pessoal e desejo de emancipação”.

Por fim, atribui que o “empoderamento das mulheres é algo por devir, apostando mais na consciência e na práxis de transformar, do que realmente em dados numéricos. São novos tempos em que os disfarces transformam a dominação em algo tão sutil que se torna quase impossível percebê-la”. conclui.

A esperança é de que a política seja um espaço público onde a vida ativa não se reduz ao trabalho e ao consumo, mas em liberdade, conforme proposta pela pensadora Hannah Arendt ao afirmar que o “sentido da política é a liberdade”. E que a comunicação e o diálogo não sejam apenas informação, mas dignidade e cidadania onde se expressem emoções e ações. Portanto, a originalidade da pesquisa de Claudia Barbosa está no fraseado. Ao trabalhar com a invisibilidade de algo que existe nos lugares comuns e nas ideias preconcebidas, ela traduz a busca de um incessante saber. Mostra a situação de mulheres investidas de poder político, olha com olhos livres a realidade. Aí está a sua essência, seu preciosismo e raridade. Uma obra que trás uma contribuição ímpar e inédita para as questões postas com referência à cidadania das mulheres e a política local brasileira e, sobretudo baiana. Que nossas editoras publiquem essa obra o mais rápido possível.


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