01 abril 2013

Narcisismo baiano impede desenvolvimento cultural (3)

A Bahia que pensávamos conhecer (como lembrou bem o economista Armando Avena) e cuja liderança econômica estava solidamente centrada o setor industrial (gerava 48% do PIB, tendo a indústria de transformação 35% desse percentual) era uma ficção. A verdadeira Bahia é um Estado terciário, fortemente vinculado ao setor de serviços, que gera 60% do Produto Interno Bruto, enquanto a indústria de transformação detém apenas 16% do produto. Essa é a Bahia que está a merecer uma ampla discussão sobre suas prioridades, planos e projetos sobre seu futuro.
 
A Bahia é o terceiro Estado brasileiro com o maior número de parlamentares donos de emissoras de rádio e televisão. O que se convencionou chamar decoronelismo eletrônico, ou seja, utilização pelo político de uma concessão estatal para usar veículo de comunicação para influenciar a opinião pública. Apenas Minas Gerais (16) e São Paulo (11) estão à frente da Bahia. Paraná e Piauí, como nove, vão na sequência. Na Bahia, 65 emissoras (radio e TV) estão nas mãos de políticos no exercício de cargo elegível.

A nossa faixa litorânea, geograficamente privilegiada, passou por um processo de ocupação desordenada com as barracas de praia. Os governantes buscaram enfrentar a favelização da nossa orla, tão prejudicial ao turismo e à geração de emprego e renda da cidade. A prefeitura investiu no Programa de Requalificação da Orla de Salvador. Retirou a publicidade irregular, e dos entulhos da praia. Falta retirar as barracas irregulares para a liberação das praias para os banhistas contemplar as belezas dos nossos 51 quilômetros do litoral em sua plenitude. 

Precisamos cuidar melhor das nossas paisagens, manter limpa ruas, monumentos e patrimônios culturais. Revitalizar os locais que envelhecem ou deterioram, como é o caso das igrejas centenárias da capital, ou mesmo a Lagoa do Abaeté que está abandonada. É preciso melhorar setores como o trânsito e a segurança para que os turistas circulem confortavelmente. É preciso também que os órgãos do setor de turismo façam campanhas para que os moradores de Salvador compreendam a importância do turismo. A cidade tem potencial para aumentar o número de turistas, que devem ser bem tratados.

É preciso melhorar a paisagem de Salvador. um grande número de imóveis inacabados que a deixa muito feio. Muitos sem reboco dão um aspecto de favelização permanente. Esses imóveis muitas vezes são construídos sem projeto urbanístico, mostrando um empobrecimento visual por falta de variações arquitetônicas.

A impressão que eu tenho de Salvador é uma cidade devastada pela `alegria`. Você pode fazer tudo, lutar contra um esquema onde a impressão que temos é a de que todo mundo está contra você, parar o seu trabalho como eu parei durante dez dias consecutivos na Pinacoteca; se dedicar mais de um ano ao projeto; manter contatos com fotógrafos que liberaram os royalties das obras para viajar com seguro insignificante; ter a compreensão do diretor da Pinacoteca, Marcelo Araújo, de abraçar o projeto, trazer sete exposições, reunir dez artistas, além de Pierre Verger, que foi uma parceria com a Fundação homônima. A sensação que eu tenho é a de não ter provocado nenhum tipo de reflexão para a cidade. Será que, na próxima edição, teremos que alugar Naomi Campbel para `dar visibilidade internacional` para o Agosto, como foi feito no último Carnaval? Miss Campbel subiu no trio elétrico para `simbolizar` uma harmonia entre as nossas questões de perda de memória e as questões afrodescendentes. Cicatrizes não se curam com `simbolismos`.. Esse foi o desabafo do curador Diógenes Moura para a revista Muito (07/09/2008, pags 14 a 17)  que sofreu com a falta de apoio oficial, do setor privado e a mídia para dar visibilidade às exposições do Museu de Arte Moderna de Salvador ( MAM) - num estado que tem servir de ícone para o Brasil, haja vista ser a capital cultural do país. "Precisa-se oxigenar o olhar da Bahia, por isso a necessidade de trazer gente de fora".

A Bahia é um lugar para amar e odiar com a mesma intensidade. Pode ser mãe e também madrasta.
Nas duas vezes que a arquiteta e curadora italiana Lina Bo Bardi esteve em Salvador, defendeu o resgate daalma popularda cidade e a valorização dos artesãos. Ela via a arte popular não como folclore, mas uma realidade criativa. A cidade não entendeu com o resgate da dessemelhante e triste Bahia antiga e continuou cada vez mais descaracterizada culturalmente.

A 85ª edição da Muito traz na capa o artista visual e curador Emanoel Araújo. Ele foi o responsável pela criação do Museu Afro Brasil, em São Paulo, além de ter devolvido aos paulistanos a Pinacoteca do Estado de São Paulo, um dos mais importantes centros de arte do País.  Crítico feroz da política cultural brasileira, Emanoel Araújo não esconde o descontentamento com a Bahia de hoje. Para ele, tudo aqui se transformou em folclore.A Bahia não precisa dessa folclorização que estereotipa tudo, da baiana de acarajé aos capoeiristas.  Acabou a arte aqui.  Onde está a memória de Genaro de Carvalho, de Jenner Augusto, de Mario Cravo? A Bahia trata mal seus artistas.

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