O céu estava azul infinito e o vento soprava uma brisa fresca quando Antonio conheceu Maria. Eles trabalhavam juntos, depois com o tempo, se separaram. Mas a vida fez com que eles se encontrassem de novo. Nesse dia os olhos dos dois brilharam como estrelas na noite. E desse encontro amoroso surgiu a primeira letra do alfabeto e também a primeira letra da palavra amor: Alice. Linda como uma pequena borboleta que quer voar, a pequena Alice abriu os olhinhos, balançou os bracinhos e, com o gesto suave, abriu um sorriso para seus pais. E nesse momento uma luz muito breve, leve, iluminou todo o recinto.
Olhar aberto para o mundo, a pequena Alice queria conhecer tudo em sua volta. Primeiro foi o olfato, o sentido mudo, o que não tem palavras. Antes mesmo de abrir os olhos, Alice já sentiu o cheiro da mãe, aquele perfume suave que jamais vai esquecer porque dá aquela sensação de pertencimento. O aromo repousa leve em suas narinas quando a mamãe levanta a pequena Alice do berço e coloca em seu braço esquerdo (o braço mais quente, porque está mais próximo do coração) e a menina então sente aquele aroma levemente almiscarado, basicamente floral, do pulso esquerdo. A fragrância acalanta e agrada o bebê que se agita e acalma com todo aquele afeto.
Agora quem conta toda essa história é a própria Alice, de suas descobertas.
Em seguida
chega
o
papai
e
já
sinto
de
longe
outro
cheiro
no
ar,
dessa
vez
mentolado
tipo
hortelã,
é
papai
Antonio com
aqueles
pelos
engraçados
no
rosto
que
as
pessoas
adultas
chamam
de
barba.
É
engraçado
e,
ao
mesmo
tempo,
agradável.
Enquanto
a
mamãe
tem
o
rosto
limpo,
suave
e
tranquilo,
o
do
papai
é
firme,
seguro,
resistente.
Os
dois
se
combinam.
Foi o primeiro sentido que despertou em mim ao nascer. O olfato é como mágica, transporta a gente para diversos lugares. Muitas vezes os odores das frutas fazem com que eu flutue por toda minha casa. Quando papai e mamãe viajava para o interior, os aromas do mato fresco da manhã, as flores silvestres, os pequenos animais de estimação, tudo repentino e fugaz faziam meu coração dilatar de felicidade. Esses cheiros estão percorrendo minhas memórias em todo meu corpo.
O segundo sentido foram as mãos quentes em meu corpo, ah que delícia!. Colocando suas mãos cuidadosamente aquecidas, meus pais, primeiro, massageia minha cabeça, depois o meu rostinho muito suavemente, passando depois para o pescoço, ombros. Algumas vezes escorregava as mãos nas minhas costas e esfregavam lentamente ao longo da coluna, acariciava meus braços e pernas. O toque não podia ser muito leve para não provocar cócegas (sim, algumas partes do corpo sentem cócegas, outras sentimos coceiras), nem muito forte para não me agitar. Suas mãos eram firmes e constantes.
Essas massagens me deixavam ativa e alerta e mantinha melhor minha emoção que começava a aprender naquele instante. Sentia um sono gostoso, me consolava. Quando mamãe apertava meu corpo de encontro ao seu a sensação era de conforto. Um mimo.
Outra sensação agradável foi quando meus pais levaram seus lábios em meu rosto num gesto afetuoso conhecido como beijo. Aquela sensação em minhas bochechas me deixava felicíssima. Era um grande acontecimento para mim. Um beijinho aqui, outro ali, maravilha!
Assim como o olfato e o tato, o paladar é um sentido íntimo. Comecei a perceber o gosto das coisas. A primeira coisa que senti do paladar foi o leite do seio da mamãe, acompanhado de amor, afeição, carinho. Era uma sensação de segurança, de bem estar. Mais tarde fui conhecendo outros alimentos, comida sólida e com diversos sabores. Descobrir que precisamos comer para viver, da mesma
maneira que precisamos respirar. Mas respiramos involuntariamente, ou seja, já nascemos
respirando
enquanto
que
para
comer
é
necessário
ir
em
busca
de
comida
e
isso
exige
energia,
planejamento.
Notava
que
toda
manhã
meus
pais
saiam
da
cama,
tomavam
banho,
vestiam
roupas
e
iam
para
o
trabalho
para
“ganhar
o
pão
de
cada
dia”
como
ouvia
as
pessoas
falarem.
Ou
se
preferir,
“trabalhar
para
merecer
o
sal”, de onde vem a palavra
salário.
E
é
com
o
salário
que
se
compra
comida.
Para
o
crescimento
das
crianças
como
eu,
precisamos
fazer
as
refeições
para
podermos
crescer
fortes.
O
alimento
nutre
nosso
corpo.
E a sensação provocada pela comida é uma grande descoberta. Existem comidas adocicadas, outras amargas e outras ainda apimentadas. Essa última mamãe não deixava provar, mesmo assim eu tentava. Mas nada era mais confortável do que aquele sabor gelado do sorvete, seja ele de baunilha, de cajá ou de morango.. É um prazer enorme!!!
Como filha única, eu era todo ouvidos. Desde pequena inda no útero da mamãe já ouvia a batida de seu coração, mas não entendia nada. Só quando cheguei ao mundo que comecei a identificar os sons ao redor. Primeiro meu próprio choro, o que fez meus pais correrem para me alimentar. Depois adorei ouvir palavras rimadas deles, gostei quando seus sons se esbarravam. Ao falar baixinho nos meus ouvidos, aquele murmúrio me deliciava e foi assim que comecei a falar do mesmo jeito que eles. Depois descobrir a música e a emoção foi grande. Aquela emissão de mantras que mamãe cantarolava me conduzia à meditação e adormecia suavemente.
Como as emoções puras, a música ondula e suspira, agita-se ou acalma-se. Nesse sentido, comporta-se tão semelhante às nossas emoções. Existem baladas sincopadas, batuques rápidos e balanceados, música de ninar, e até um estilo que a vizinhança gostava de ouvir bem alto e que papai fechava as janelas para não perturbar meu sono. Mais tarde descobrir que era conhecido como pagode, o ritmo do momento na cidade e que meus pais não gostavam muito. Mas a cidade era uma catedral de som, música em todos os lugares.
Ah! Tem ainda a minha visão, que coisa significativa. Ao abrir os olhos pela primeira vez, via meus pais sorridentes e ansiosos. Vendo meus pais parecia que me via no espelho... bem mais velha, mas os olhos...brilhantes... emocionava.
E
assim
ansiava
por
mais
informações.
Estava
conhecendo
o
mundo
então
comecei
a
olhar
para
todo
o
lugar,
era
um
quarto
de
hospital
quando
abrir
os
olhos,
tudo
branco.
Quando
meu
pai
estendeu
os
braços
e
me
carregou,
vi
seu
sorriso.
Minha
mãe
estava
deitada
e
observada
tudo.
Quando o tempo passou,
tudo
ficou
escuro,
era
noite
(isso
eu
descobrir
bem
mais
tarde)
e
estava
conhecendo
aquilo
naquele
momento.
Sem
luz
não
podia
ver
e
foi
nessa
escuridão
que
adormeci.
No
dia
seguinte
já
distinguia
as
cores:
azul,
vermelho,
amarelo,
lindo.
Eu
preciso
conhecer
as
palavras
para
as
varias
cores
das
nuvens,
que
vão
do
rosa
perolado,
durante
o
por
do
sol
tranquilo
sobre
o
oceano,
até
ao
verde
cinza
elétrico
das
ventanias
que
passavam
no
ar.
As
cores
são
vida.
Descobrir
o
por
que as folhas mudam de cor no outono. Na primavera elas são vivas, brilhantes e as árvores começam a retirar nutriente em sua volta. Com o tempo, as folhas perdem a cor, subnutridas e as árvores para sobreviver deixam suas folhas caírem para recomeçar mais adiante. É o ciclo da vida que vou conhecer mais tarde. O chão fica parecendo um tapete de folhas.
Bem, dessa forma que comecei a conhecer o mundo através do cheiro, do tato, da audição, visão e do paladar... Amanhã vou descobrir outras novidades. Acompanhe as minhas aventuras que você também aprenderá comigo.
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