A evidência do modo como a
religião contribui para a construção de processos de paz, mas também para a
formação da intolerância religiosa é uma outra descoberta inovadora que Alba
Zaluar traz para os seus leitores. Para a autora, a falência das instituições
do Sistema de Justiça criou um ambiente de incerteza institucional, onde os
indivíduos, principalmente os mais pobres, não sabem a quem recorrer diante das
suas necessidades. Deste modo, a religião surge como um caminho para a paz e
para a solução dos problemas – pelo menos de modo imaginário. Contudo, nem
todos decidem buscar a religião. Os “ateus”, neste caso, passam a ser os
representantes do mal; os “missionários” do diabo. Portanto, é neste instante,
que se dar início a um processo de desenvolvimento da intolerância religiosa
por parte dos que “aceitam” Deus.
Nos estudos de diversos analistas
no assunto, as “causas” da violência no Brasil estariam nas “características da
economia subterrânea, atrelada ao modelo de desigualdade social do país. Desde
os anos 1980, chamo a atenção para a sinergia entre: a)o recrutamento de jovens
pelo mercado de drogas nas favelas e bairros pobres, onde é comum o uso de
armas de fogo; b)a pobreza, ou seja, as oportunidades educacionais e econômicas
inadequadas ou inexistentes; c)as formações subjetivas desenvolvidas dentro e
fora da escola e cristalizadas em torno do etos guerreiro que forja o orgulho
do homem pela capacidade de destruir fisicamente o inimigo”.
“Este livro – escreveu Alba
Zaluar na abertura da obra – procura trazer as várias vozes ouvidas na tragédia
particular de uma guerra sem sentido e sem fim que ocorre nas mais ricas e
maiores cidades brasileiras, divididas também pelos efeitos do fundamentalismo
cristão que reencantou o mal posto nas outras religiões, pelos efeitos do
facciosismo político brasileiro e pelos bairrismos e corporativismo que tanto
atrapalham a execução de políticas públicas eficazes no combate à pobreza e na
montagem da segurança cidadã”.
A elaboração de políticas
públicas ocupa espaço nas análises de Alba Zaluar. Para a autora, as ações do
Estado nas áreas de educação, cultura e saúde são de extrema necessidade para
enfrentar a formação e até a consolidação do tráfico de drogas nos bairros
pobres. Mas isto não é suficiente. É importante salientar que Zaluar deixa
claro que as medidas nas áreas de saúde e educação são preventivas; e que os
consumidores de drogas não estão apenas nas favelas, estão presentes em todos
os estratos sociais. Em sua abordagem
sobre políticas públicas, Alba Zaluar mostra as dificuldades dos pesquisadores
de obterem dados criminais no Brasil. Estas dificuldades são motivadas por eles
não existirem, não serem confiáveis ou não serem disponibilizados. E de fato
isto é um grande problema. A escassez de informação sobre os homicídios no
Brasil permite que as suas verdadeiras causas não sejam descobertas. Neste
sentido, os pesquisadores ficam limitados em analisar o que possibilita o
expressivo número de mortes violentas no País. Alba Zaluar, mais uma vez, mesmo
reconhecendo as limitações das informações, procura causas para explicar a violência
contra os indivíduos. Numa análise comparativa, envolvendo vários estados, a
pesquisadora revela que pobreza e crescimento urbano não são variáveis
satisfatórias para explicar os homicídios.
Outro livro que aborda a
violência: “Sociedade do Medo” (Edufba), organizado pelo sociólogo Gey
Espinheira. Traz três capítulos de autoria de Espinheira e textos de estudantes
de graduação, profissionais e professores-doutores participando do projeto
Convivência, Arte & Criação, realizado em Mata Escura, em 2007, com 45
jovens.
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