Lucas da
Vila de Sant’Anna da Feira foi o primeiro álbum publicado em 2010.
A publicação recebeu o Prêmio Ângelo Agostini em três
categorias, e uma merecida indicação ao Troféu HQMIX. Agora chega
às livrarias o novo álbum Sant’Anna da Feira, Terra de Lucas.
Patrocinado pela Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult),
através de recursos do Fundo de Cultura, com 180 páginas e é
resultado de treze anos de trabalho, divididos entre pesquisa
histórica, e iconográfica, revelados através do roteiro de Marcos
Franco e belíssimas ilustrações de Hélcio Rogério.
Lucas da
Feira foi um escravo rebelde que se notabilizou como líder de um
afamado bando de
salteadores da Bahia provincial na primeira metade do século XIX. A
trajetória de vida de Lucas da Feira é delineada na obra, embasada
por uma acurada pesquisa em fontes documentais, memória oral,
romances, cordéis e no estudo da cultura material dos locais onde o
escravo, possivelmente, teria percorrido.
O álbum
é um convite a se embrenhar pelas caatingas do agreste baiano
escravista na região de Feira de Santana, localizada numa
encruzilhada de caminhos e sede de uma vigorosa feira que alimentava
as demandas do interior da Província e da capital no século XIX. A
expressão 'Terra de Lucas' é uma expressão comumente atribuída à
Feira de Santana, normalmente carregada de uma conotação
pejorativa, cujo simbolismo está correlacionado à rebeldia escrava
personificada em Lucas Evangelista, o 'Lucas da Feira', que viveu e
atormentou aquela região da Província da Bahia na primeira metade
do século XIX.
A
narrativa mostra o menino Lucas, escravo rebelde que foge da
humilhação do cativeiro, até a construção do homem, bandido
temido pelo poder local. Nesses recortes narrativos do passado o
leitor toma conhecimento das façanhas da personagem como resistência
negra, sua força e personalidade até o mito, a prisão e o
enforcamento do herói. Toda a construção da personagem foi baseada
em elementos do imaginário popular, histórias da oralidade e
versões forjadas pela historia oficial. Essa última pode edificar
ou dignificar seus heróis e demonizar e silenciar os personagens do
ovo. O olhar sobe Lucas nessa HQ é pela resistência no auge da
escravidão no Brasil, ou seja, mesmo acorrentado, silenciado,
invisibilizado, o povo não permaneceu passivo.
A busca
pela liberdade permeia toda a obra. E nossa historiografia não
costuma mostra essa faceta. O mundo impessoal dos negócios da
escravidão onde as pessoas eram submetidas a transações comerciais
reduzidas a meros instrumentos de trabalho, é cheio de ações
complexas e delicadas. O narrador pode evidenciar o lado de uma
ideologia de concessão senhorial ou apresentar o quotidiano do lado
escravo e a sua luta por justiça e o direito à liberdade.
Nesse
aspecto, esses escravos eram homens e mulheres com ideias próprias
que lutaram e conseguiram pequenos ou grandes vitorias. Interessa
aqui, portanto, compreender a partir da trajetória de Lucas como ele
construiu estratégias para a conquista da liberdade na região de
Feira de Santana, na segunda metade do século XIX. Esta investigação
buscou pensar o problema num contexto mais amplo ao buscar observar
graus de todos os sentimentos e nuances da personalidade de Lucas,
inserindo-as ma micropolítica tecida no dia a dia a partir da
relação senhor/escravizado. Numa sociedade onde uma classe
dominante sempre é mais visível, vale resgatar e legitimar as lutas
desses escravos invisíveis.
A
historia oficial ofuscou a figuras de negros em nossa história. Uma
prova disso é a guerreira de Itaparica, Maria Felipa. Os autores
procuraram dar mais credibilidade ao trabalho apresentando as
variedades do português popular e expressões africanas na cultura
oral brasileira. No final do álbum, o apêndice com palavras
utilizadas pelos personagens e um glossário, relação de termos e
expressões regionais ou pouco comuns, com o sentido em que são
usados nessa obra. Um belo trabalho que deve ser lido e relido por
todos.
A dupla
Marcos Franco e Helcio Rogério estão de parabéns. Há closes
espetaculares, enquadramentos cinematográficos, realismo histórico
na narrativa quanto na ilustração. Um álbum que deveria estar em
todas as nossas escolas para o conhecimento de todos – quem foi
Lucas da Feira? Por que nossas historiografia oficial esconde esses
fatos? A conquista de sua liberdade pela altivez dos seus atos fere a
história oficial? O que está por traz disso tudo? Precisamos
espalhar para todos o significado do percusso desse personagem e e
muitos outros que estão no subsolo da história. É preciso resgatar
todos eles a visibilidade dos dias atuais para a reflexão.
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2 comentários:
Belo trabalho. Parabéns ao Marcos e ao Hélcio.
Silvio Ribeiro
Essa dupla é imbatível nos quadrinhos baianos. Longa vida!
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