17 janeiro 2013

Sociedade humorística (4)

A função do humor não é, imediatamente, provocar o riso, como supõe a razão, mas é, também, de se contrapor a ela como instância privilegiada exclusiva da verdade. Assim, “o humor não é resignado, mas rebelde” como dizia Freud. Assim, no século XVII, a razão troca as difusas verdades universais espalhadas pela sociedade por verdades oficiais, ancoradas pelo poder absolutista.

O humor produz desordem na ordem da razão


Desse modo, todas as práticas que anarquicamente enunciavam as verdades que eram capazes de formular (os loucos, alquimistas, astrólogos, bruxos) ficam esvaziadas, portadoras de um saber sem conteúdo, perdendo a positividade de seus discursos, o controle de seus dizeres e a ordem de seus prazeres. São postas à margem da sociedade e da cultura como difusoras de práticas negativas porque marcadas pela ausência da razão. O humor produz desordem na ordem da razão.

Festas populares (como o Carnaval) e quaisquer manifestações profanas são proibidas. Os ditos loucos também foram aprisionados, afinal de contas, é deles o riso mais libertário. O clero toma a dianteira nessa campanha conservadora. Baixa-se uma espécie de código na tentativa de abafar as gargalhadas. A alegria passa a ser crime.

O riso moderno existe para mascarar a perda do sentido”

A Idade Média, dominada pela Igreja, foi uma época de tristeza. De maneira oposta, o Renascimento, foi o grande momento da liberação do riso. A Contra Reforma não viu com bons olhos o humor. Vários teólogos pensavam que o homem deveria evitar o riso por causa de sua condição pecaminosa.

O clero era instruído a não provocar o riso durante os serviços. Há um tempo de chorar e um tempo de rir, diz a Bíblia, e os escritores moralistas repetiram o veredicto: “Agora é o tempo de chorar e no céu será o tempo de rir”. O cristão deveria apenas esperar até a redenção dos pecados na Jerusalém sagrada, onde encontraria o único riso natural. Esse pessimismo agostiniano fez com que os religiosos condenassem o riso.

Os filósofos Hegel (1770/1831) que não queria rir, Schopenhauer (1788/1860) pessimista e rabugento, e Nietzsche (1844/1900) ao contrário, decretou o riso escancarado. Assim gargalhou Zaratustra e com o crepúsculo dos ídolos nascia o popular “quem ri por último ri melhor”. O historiador Georges Minois relata na sua “História do Riso e do Escárnio” que há um divórcio entre as folias modernas e o riso – o sujeito agora se perde totalmente no grupo -, ao contrário de antigamente, quando a farra era associada ao riso em razão do seu caráter excepcional, que permitia estabelecer um deslocamento da norma. A festa tecno (raves) seria apenas uma busca fetichista do sagrado. “Não é irônico ver multidões laicas viverem a festa tecno como uma verdadeira missa?” é a pergunta que nos deixa para uma reflexão.

“O riso moderno existe para mascarar a perda do sentido. É mais indispensável que nunca”, esta é uma das conclusões a que chega Minois em seu livro. Para outros, o riso é um elixir de longa vida. Afinal, neste milênio marcado pelo estresse, desigualdades sociais e idas rotineiras ao divã do analista, o humor comparece e se afirma como uma variável. Bom humor é necessário.

Já para o sociólogo Gilles Lipovetski o riso perdeu sua força. No seu livro “A Era do Vazio” ele atesta: “Um novo estilo descontraído e inofensivo, sem negação nem mensagem, apareceu. Ele caracteriza o homem da moda, do texto jornalístico, dos jogos radiofônicos, televisivos, do bar...”. Para ele não há mais festa do espírito no riso, a esculhambação dionísica deu lugar ao “cool”.
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DIA DO QUADRINHO NACIONAL

O 30 de janeiro é o Dia do Quadrinho Nacional por ser o dia do início da publicação, em 1869, da primeira série em quadrinhos no mundo, realizada no Brasil pelo vêneto imigrado por aqui Angelo Agostini: As Aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora. Em Salvador, a data vai ser comemorada com música, exposições, sessões de autógrafos, venda de livros, lançamento de DVD, homenagens e até uma sala de chat exclusiva. As atividades acontecem na Biblioteca Central da UFBA (Campus de Ondina), das 19 às 21 horas.


O que acontecerá:
Apresentação musical de Gibran Sousa e os Bye Anos
Exposição do grande caricaturista em barro - talvez o melhor do mundo nessa arte - Valterio, que mora em Salvador há décadas e é pouco reconhecido
Homenagens a 3 personalidades da cultura baiana falecidas recentemente, e a pessoas que ajudaram no desenvolvimento da Nona Arte
bancas de artistas locais
Venda de quadrinhos
Exposição de álbuns e revistas brasileiras que mostram a evolução dos quadrinhos brasileiros como arte, e não mero entretenimeno
MUITOS sorteios (com material de outros estados e, mesmo, países) inclusive de HQS infantis
Sala de chat exclusiva para tirar dúvidas sobre o evento (algo inédito em Salvador)
Pré-lançamento do DVD do filme ‘Nego’


Os homenageados são
Angelo Agostini, criador da primeira série de quadrinhos do mundo
José Carlos Capinan (com a execução de uma música sua sobre quadrinhos por Gibran Sousa, dos Bye Anos)
Lage, falecido chargista baiano
Joaci Goes -, que à frente da Tribuna da Bahia impulsionou o suplemento A Coisa (1 número será exposto em grande formato)
Claudio Veiga - pelo seu livro sobre o fanzine 'O Papão' (todo o livro dele será exposto em grande formato)
Teodoro Sampaio – com o pré-lançamento do DVD do filme 'Nego' (de Savio Leite e Marko Ajdaric, que usa quadrinhos como suporte de linguagem)
Ernesto Simões Filho - pela criação a 108 anos do mais importante fanzine da Bahia, O Papão (antes de fundar o maior jornal da Bahia, A Tarde, há 101 anos
O evento já conta com um espaço no Facebook
Site oficial da UFBA divulga o evento:
http://www.ufba.br/noticias/atividades-culturais-marcar%C3%A3o-dia-do-quadrinho-na-ufba
Impulso HQ divulga o DQN:
http://impulsohq.com/noticias/comemoracao-do-dia-do-quadrinho-nacional-em-salvador/

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Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (Barris em frente a Biblioteca Pública) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)

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