No dia
04 de janeiro de 1988 – há 25 anos- morria o cartunista Henfil
(1944-1988). Ele teve uma atuação marcante nos movimentos políticos
e sociais do país, lutando contra a ditadura, pela democratização
do país, pela anistia aos presos políticos e pelas Diretas Já. Com
humor mordaz e desenho caligráfico, Henfil destaca-se como um dos
militantes mais ativos na resistência ao regime militar. De suas
mãos saem personagens antológicos como os fradinhos Baixim e
Cumprido, a ave Graúna, o bode Orellana, Capitão Zeferino e Ubaldo,
o paranoico, que provocam mudanças na história dos quadrinhos
brasileiros não tanto pela inovação formal - apesar de ser
marcante o seu traço nervoso e espontâneo -, mas pelo uso dessa
linguagem gráfica específica como o melhor suporte para crítica e
comprometimento social.
Ele
contribuiu para renovar o traço humorístico brasileiro e criou
personagens que entraram para o cotidiano do país. Poucos
desenhistas conseguiram erguer uma coleção de personagens tão
identificada pelo brasileiro médio como o mineiro Henrique de Souza
Filho, Henfil (1944-1988), o travesso do traço. Seu desenho era uma
caligrafia. Com duas linhas, fazia um personagem e levava sua
irreverência às últimas e às melhores consequências.
“Para
mim, os fradinhos são personagens clássicos da história em
quadrinhos universal. Uma das lições que eles nos deixaram é a de
você se permitir tudo, ir cada vez mais longe, sem tabus. Qual a
marca característica do Henfil? Sua integridade”, atestou o
humorista Jô Soares. Para o cartunista Paulo Caruso, “ele foi uma
das pessoas mais brilhante da geração que saiu do Pasquim. Tinha
uma vivacidade enorme, brincando o tempo todo, um humor incrível
mesmo. Um outro lado do Henfil: ele tinha uma capacidade fascinante
para criar”.
“Dos
cartunistas brasileiros era o que mais se aproximava do que se
costuma chamar de gênio”, disse o cartunista Jaguar. “O desenho
dele não é de prazer, é mais um instrumento de crítica, uma
navalha afiada. Ele não deixava escapar nada com seu traço”,
revelou o crítico de arte Frederico Morais.
Sua
capacidade de se entregar às ideias sem se prender aos homens já
diferenciava o dublê de político e humorista. Ele nunca precisou se
filiar a qualquer partido ou causa para se transformar no militante
mais ousado. Avesso à luta armada, que considerava uma armadilha dos
militares para derrotar mais facilmente uma esquerda em frangalhos,
Henfil estava familiarizado com as táticas da guerrilha. Embora
estivesse convicto de sua opção pelo humor armado, ele ajudou os
militantes da Ação Popular e do PC do B de todas as maneiras, além
do Partido dos Trabalhadores. Liderava as cotizações para contratar
advogados para os presos políticos, escondia militantes em sua casa
e servia como motorista, guiando seu próprio carro nas ações dos
grupos.
TRAJETÓRIA
Mas quem
pensa que tudo isso surgiu na carreira de Henfil de modo premeditado,
engana-se completamente. Na verdade, ele tem uma trajetória pouco
comum. E já andou pulando como sapo para ver se conseguia escapar
das pragas de urubu que, vez por outra, surgiam em seu caminho.
Proveniente de família mineira do norte de Minas – seu pai foi
barraqueiro do São Francisco, tropeiro, vaqueiro, pescador. Depois a
família mudou-se para Belo Horizonte, deixando para trás o polígono
das secas. Foi em Belo Horizonte que começou a desenhar com mais
intensidade. Tinha então 17 anos e seus desenhos eram charges
copiadas de revistas francesas. Os desenhos foram apresentados ao
diretor do jornal O Binômio, Lúcio Nunes que, embora gostasse dos
desenhos, afirmou não poder publicá-los porque o jornal só
publicava charges políticas.
Desde que
começou a publicar seus cartuns, na revista mineira Alterosa, antes
de 1964, teve consciência da precariedade da atividade jornalística.
E, mais grave: em 1973, numa entrevista ao Pasquim, reconheceu que “o
desenho significa a morte da ideia, orque vira papel, tinta nanquim,
clichê, jornal”. Por isso Henfil procurava sempre o movimento.
Assim, desenvolveu um traço ágil a partir dos cartuns do Diário de
Minas. Mais tarde, no seu trabalho no Jornal dos Spots criou
personagens populares como o Urubu, que virou símbolo do Flamengo, o
Cri-Cri, o Pó de Arroz e o Gato Pingado.
Começou
a trabalhar como revisor na extinta revista Alterosa, editada pelo
escritor Roberto Drummond, que o descobriu para a charge ao ver uns
desenhos pornográficos que ele havia feito para os operários da
gráfica. Foi aí que nasceu o nome Henfil (juntando o
hen de Henrique, com o fil de Filho) e seus
primeiros e mais marcantes personagens, os Fradins Cumprido e Baixim,
inspirados em dois freis dominicanos.
Com o
fechamento da Alterosa, levou os personagens para o Diário de Minas.
Em 1965 começou a trabalhar no Diário de Minas, fazendo os cartuns
que aprendera já no colégio noturno, o exílio dos escolares
repetentes. De lá foi para o Rio, no Jornal dos Spots, onde nasceu a
galera de tipos de times de futebol. Os Fradins só foram
ressuscitados nas páginas do Pasquim, em 1969. Em 1971 as tiras
foram reunidas em um álbum, e dois anos depois se transformaram em
revista mensal. Depois foi o Rio de Janeiro com toda sua explosão de
mar.
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Um comentário:
Muito bom! Relembrar a importância do Henfil. Os 25 anos da sua morte, enfim... ótimos posts!
Clarisse
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