No dia
04 de janeiro de 1988 – há 25 anos - morria o cartunista Henfil
(1944-1988). Ele teve uma atuação marcante nos movimentos políticos
e sociais do país, lutando contra a ditadura, pela democratização
do país, pela anistia aos presos políticos e pelas Diretas Já. Com
humor mordaz e desenho caligráfico, Henfil destaca-se como um dos
militantes mais ativos na resistência ao regime militar. De suas
mãos saem personagens antológicos como os fradinhos Baixim e
Cumprido, a ave Graúna, o bode Orellana, Capitão Zeferino e Ubaldo,
o paranoico, que provocam mudanças na história dos quadrinhos
brasileiros não tanto pela inovação formal - apesar de ser
marcante o seu traço nervoso e espontâneo -, mas pelo uso dessa
linguagem gráfica específica como o melhor suporte para crítica e
comprometimento social.

A
linguagem coloquial, cheia de sua poderosa lucidez, funcionou como
uma bomba, idêntica ao estouro dos Fradinhos, Essa experiência, o
incentivou a continuar. Em Henfil na China ele revelou o fechado país
de Mao Zhe Dong, depois de uma viagem a convite do governo. Cartas da
Mão é uma antologia de sua colaboração semanal na revista Isto É,
onde trabalhou de 1977 a 1984. Outra obra, Diretas Já, mostrou
plenamente seu engajamento político em artigos e cartuns. Em Fradim
da Libertação, Henfil retomou sua mais contundente personagem,
nascida no seu livro de estreia, Hiroxima Meu Humor, publicado em
Belo Horizonte, em 1967, antes de sua mudança para o Rio.
“Não
existe nada mais perigoso do que uma mulher quando vê em perigo a
preservação da espécie. Por isso elas estão na frente de todos os
movimentos revolucionários do mundo” (Suplemento Mulher, Folha de
S.Paulo, 1983)

“Fui
educado na religião do terror. Essa formação, mistura de
puritanismo, tradicionalismo, patriarcalismo e matriarcalismo, aliada
a uma terrível fobia por qualquer espécie de pecados, originais,
veniais, e mortais, me inoculou magníficas neuroses, responsáveis
por toda essa graça...” (Revista Domingo, Jornal do Brasil, 1978)


Avesso à
luta armada, que considerava uma armadilha dos militares para
derrotar mais facilmente uma esquerda em frangalhos. Embora estivesse
convicto de sua opção pelo humor armado, Henfil ajudou os
militantes da Ação Popular e do PC do B de todas as maneiras.
Liderava as cotizações para contratar advogados para os presos
políticos, escondia militantes em sua casa e servia como motorista,
guiando seu próprio carro nas ações dos grupos. Dênis retrata a
vida cultural brasileira dos anos 30 e 40 com a biografia de
Graciliano Ramos. Em Oduvaldo Vianna, os anos 50 e 60. E rastreando
a vida de Henfil conseguiu com fecundidade os anos 60, 70 e 80.
O
escritor observa que a vida do barulhento cartunista, “homem
multimídia já naquela época”, pode ser resumida em três
palavras: comédia, drama e angústia. Comédia quando se pensa nos
Fradinhos, Cabôclo Mamadô e seu Cemitério dos Mortos-Vivos e no
trio da caatinga – Zeferino, Graúna e Bode Orelana. O drama seria
tanto a hemofilia que nunca lhe deu sossego (não podia sequer dar
uma topada com medo de hematomas e derrames), quanto o exílio de
Betinho, seu irmão mais velho e modelo de vida. Por fim, uma
angústia permanente varou-lhe a vida. Angústia por viver em um
Brasil que “não era o que ele queria”. “Foi um diabo de
humorista e (tudo nele era assim tão contraditório) um anjo muito
puro que passou por aqui feito um vendaval escaldante, mas deixando
tudo arejado, ventilado. Foi muito rápido”, comentou o desenhista
Cássio Loredano.
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