Seguindo
à risca a ideia do “faça você mesmo” (do it yourself), os
fanzines sobrevivem graças ao caráter mutante, híbrido. Folha de
papel A4 dobrada ao meio, pesquisa (revista, jornais), tesoura, cola,
lápis, caneta, grampeador, pincel, tinta e muita força de vontade.
Tudo pronto leve até a xérox mais próxima, rode umas cópias em
preto e branco e pronto! O ritual dessas publicações artesanais
entre os anos 1960 a 1990 representaram a maneira mais rápida,
prática e descolada de fazer circular conteúdos de cenas
alternativas e marginais (à margem) da sociedade.
Primeiro
eles foram reproduzidos em copiadoras ou impressoras e distribuídos
de mão em mão, uma correria. Hoje vem por meio de arquivos
digitalizados em PDF e enviados via e-mail ou postado em algum site
ou blog. Na época em que não existiam myspaces, soundclouds, os
fanzines e bandas independentes eram unha e carne: um dependia do
outro. A banda para divulgar seu trabalho e os zaines para rechear
suas páginas. Relação de amor e ódio, tapas e beijos.
Para os
leitores mais novos, é bom lembrar que no dia 25 de setembro de
1968, a Bahia começou a participar do movimento fanzineiro de estudo
das histórias em quadrinhos com a fundação do Clube da Editora
Juvenil, assim denominado em homenagem aos primeiros gibis juvenis.
Junto com alguns jovens resolvemos difundir o hábito de ler e
analisar os quadrinhos no Brasil. Lançamos nossas pesquisas no
fanzine Na Era dos Quadrinhos. Foram publicados 37 números: de julho
de 1970 a julho de 1973, na sua primeira fase em mimeógrafo. Foi com
o Na Era que surgiram as primeiras manifestações conscientes no
sentido de se construir HQ autenticamente nacional - e popular.
Depois, o quadrinho baiano tomou fôlego com o surgimento do tablóide
A Coisa, do jornal Tribuna da Bahia. A Coisa foi um seguimento
natural do Na Era e tinha como meta principal “uma maior
valorização do autor brasileiro e em particular baiano”.
“Pretendemos também – dizia o editorial -, divulgar e abrir
novas perspectivas aos humoristas e desenhistas que ainda não
tiveram oportunidade de publicar seus trabalhos”. Em pouco tempo o
suplemento revelou novos cartunistas e desenhistas de quadrinhos.
ORIGEM
O fanzine
tem origem no início do século XX. Irmão mais novo (e mais
rebelde) da imprensa, é co-autor de transformações culturais das
décadas de 1920 (que sedimentaram a indústria dos quadrinhos) e
1970 (quando foi porta-voz do punk). Ganhou popularidade entre os
anos 70, 80 e 90 graças a uma série de ações que se desenvolveram
na cena cultural brasileira. A demanda era a mesma suprida hoje por
blogs, redes sociais e outras plataformas virtuais de comunicação:
expor o que se passa na cabeça e conhecer pessoas. Enfim,
conectar-se.
Vinculado,
adaptado, transmutado, o zine não morreu, reinventou-se. Livre
(especialmente da obrigação de gerar lucro) o veículo goza do
privilégio de poder ser mutante, híbrido, múltiplo.
O
jornalista Márcio Sno editou, colaborou com diversos fanzines nos
anos 1990 (os fanzines Aaah!!, Don´t Worry!, Ejaculação Precoce,
Lady Die! - todos de cultura underground geral) e fez ilustrações
para inúmeras bandas e fanzines. A partir de 2000 coordenou diversas
oficinas de fanzines e em 2007 lançou a cartilha Fanzines de
Papel, referência para pesquisas na área de comunicação.
Para
mostrar o universo dos fanzineiros brasileiros, que faziam de tudo
(até burlar leis) para fazer circular determinada informação ou
simplesmente por estarem fartos de tudo que era padronizado, Marcio
Sno produziu o documentário Fanzineiros do Século Passado.
DOCUMENTÁRIO
A
primeira parte do documentário em seu primeiro capítulo mostra as
dificuldades para botar o bloco na rua e a rede social analógica. O
foco desse capítulo ficou nos contatos via carta (que constituiu uma
sólida rede social analógica), nos flyers que divulgavam fanzines
por todo o mundo, a montagem artesanal, e as dificuldades para
colocar os zines pra circular.
O
documentário era pra ser uma obra única, mas à medida que Márcio
foi entrevistando os editores percebeu que esse universo das edições
independentes comporta várias nuanças, sendo praticamente
impossível abordar todos os seus aspectos de forma consistente numa
única produção. A divisão em capítulos foi a solução. O
segundo volume do documentário é parte de uma trilogia que se
pretende abrangente sobre o fandom brasileiro.
O segundo
capítulo de Fanzineiros do século passado se apresenta no formato
de fanzine + DVD (com os dois capítulos + erros de gravações +
trailer), tudo isso ao preço de R$8,00. Um presente para os
aficionados e pesquisadores de fanzines e uma excelente oportunidade
de conhecer essa gente que faz da editoração um objeto de prazer.
O
capítulo dois intitulado O fanzine a serviço do rock, os
fanzineiros deste século e os estímulos para a produção impressa
conta com a participação de 49 personalidades do universo
independente e alternativo, entre eles Henrique Magalhães, Marcatti,
Gualberto Costa,. Rodrigo Knoeller, Edgar Guimarães, Wendell
Sacramento e Rodrigo Okuyama. Mostra a relação dos zines com o rock
com trilhas das bandas dos anos 90: Mukeka de Rato, Sex Noise, Os
Cabeloduro, Grangrena Gasosa, Dead Fish e Concreteness. Um registro
importante, inédito e com qualidade. Vale a pena conhecer!
Para
adquirir o documentário, escreva a
Márcio
Sno: marciosno@gmail.com
Mais
detalhes da obra acesse:
Quem desejar adquirir o livro Bahia um Estado D´Alma, sobre a cultura do nosso estado, a obra encontra-se à venda nas livrarias LDM (Brotas), Galeria do Livro (Boulevard 161 no Itaigara e no Espaço Cultural Itau Cinema Glauber Rocha na Praça Castro Alves), na Pérola Negra (ao lado da Escola de Teatro da UFBA, Canela) e na Midialouca (Rua das Laranjeiras,28, Pelourinho. Tel: 3321-1596). E quem desejar ler o livro Feras do Humor Baiano, a obra encontra-se à venda no RV Cultura e Arte (Rua Barro Vermelho 32, Rio Vermelho. Tel: 3347-4929)
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