Por mais que o riso tenha sublinhado a eclosão das HQs na imprensa norte-americana do começo do século XX, é com a ênfase aventureira e o foco posterior desta nos super-herois que o quadrinho norte-americano ocupa todos os espaços da mídia. O modelo aconteceu de modo planetário. A expansão do mercado pedia histórias longas e estilizações drásticas no traço, assim como narrações elaboradas, para além dos limites espaciais da piada de uma página ou de três quadros com três tempos da narração.
O combustível dessas novas histórias veio de escritores como Dickens e O. Henry até Walter B. Gibson, o criador do Sombra, e Sax Rohmer, o criador de Fu Manchu. O folhetim foi resposta para a busca de argumentos e estruturas narrativas na HQ. O grande modelo da HQ que se expandiu mundo afora foi esse folhetim aventureiro sensacionalista norte-americano. As façanhas super-humanas (Doc Savage) e os personagens envoltos em mistérios inexplicáveis (O Sombra, Fu Manchu) em um sentido muito literal, foi a matéria-prima dos gibis.
Antes do estouro dos gibis na década de 30, os pulps foram a fonte de entretenimento para os americanos pobres e divulgadores da ficção científica, gênero literário que transformaria o entretenimento. E dessas raízes pulps surgiram os gibis de super-herois. O principal modelo dos quadrinhos em sua expansão pela imprensa do planeta é o folhetim popular de aventura, escrito e ilustrado com paixão por autores marginais e editores ocupados em não quebrar. Duas das mais longevas e conhecidas séries de HQs de aventuras são adaptações de folhetins: Buck Rogers (Philip Nowlan foi contratado por John F. Dille para adaptar seu Buck Rogers, nascido nos pulps, para os quadrinhos com desenhos de Dick Calkins), de 1929, e Tarzan (de Edgar Rice Burroughs, adaptado a princípio por Hal Foster e realizado em toda a sua majestade por Burne Hogarth), em 1931.
Os dois personagens tinham público entre os leitores de folhetins, nos EUA conhecidos como pulps. Essa literatura barata popularizou personagens e autores com relativa rapidez. Tarzan, a criação do escritor Edgar Rice Burroughs, surgiu pela primeira vez no romance Tarzan of the Apes, que foi publicado na pulp The Argosy, em 1912. A história se tornou tão popular que levou a inúmeras sequências em pulps, em seguida adaptada para uma série de filmes e, finalmente, em uma tira de quadrinhos de jornal. Buck Rogers, foi personagem principal de um conto, Armageddon 2419, escrito por Philip Francis Nowlan e publicado no número de agosto de 1928 de Amazing Stories, a primeira pulp somente de ficção científica. A partir do sucesso dessa história, no ano seguinte Francis Nowlan, junto com o desenhista Dick Calkins, transformou-a em tiras de quadrinhos diárias.
A grande popularidade das tiras de quadrinhos em 1933 convenceu editores a lançar coletâneas mensais com reedições. Essas primeiras revistas em quadrinhos, intituladas Famous Funnies, Popular Comics e King Comics eram dirigidas a leitores que queriam preservar suas tiras favoritas em forma de revistas. Também ajudavam leitores que haviam perdido episódios em tiras publicadas no mês anterior. Essas reedições foram as primeiras revistas em quadrinhos mensais, mas nenhuma delas trazia material novo.
Inspirados em folhetins de ficção científica tosca, ou que narravam peripécias em terras estranhas, nasceram as HQs de aventuras, e elas proliferaram com rapidez. Basta falarmos em Brick Bradforfd (de William Ritt e Clarence Gray) e de Flash Gordon (de Alex Raymond), quanto ao modelo “astronáutico”, diversos outros personagens assemelhados são derivados de Buck Rogers, assim como Jim das Selvas (Alex Raymond) e Fantasma (Lee Falk e Ray Moore) são derivados do Tarzan. Isto, não por inclinações dos autores, mas de seus editores, que entenderam ser cada qual adequado a uma tendência de público.
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