O pesquisador espanhol radicado na Colômbia, Jesús Martin-Barbero (2003) cita as histórias em quadrinhos norte americanas das primeiras décadas do século XX como exemplo, ao mesmo tempo, de ruptura e continuidade: “A ruptura, na ´marca registrada´ firmada pelos syndicates, que midiatizam o trabalho dos autores até estereotipar em último grau os personagens, simplificar ao máximo os argumentos e baratear o traço do desenho[...]. No entanto, há continuidade na produção de um folclore que busca no antigo o anonimato, a repetição e a interpretação ao inconsciente coletivo que ´vive´na figuro dos heróis e na linguagem de adágios e provérbios, nas facilidades de memorização e na transposição da narrativa para a cotidianidade que se vive (BARBERO, 2003, p.208).
O professor de História da Arte, argentino, radicado no México, Néstor García Canclini ao falar de culturas híbridas, denomina os quadrinhos “gênero impuro”, com a capacidade de transitar entre a imagem e a palavra, entre o erudito e o popular, reunindo características do artesanal e da produção de massa. O autor aponta para a necessidade de novos instrumentos que deem conta de fenômeno como as migrações, o desemprego e os mercados informais (CANCLINI, 2000).
As artes se relacionam umas com as outras, de uma forma desterritorializada, o que amplifica seu potencial de comunicação e conhecimento. E é dessa barreira “oblíqua”, enviesada, que as práticas culturais atuam no desenvolvimento político. Traduzidas em imagens, as lutas cotidianas ganham formas e podem germinar a partir de metáforas usuais, posturais e ações diferenciadas (CANCLINI, 2000).
Já o teórico indiano Home Bhabha (1998) a cultura deve ser interpretada como estratégia de sobrevivência. A partir dos discursos pós- coloniais marcados pela questão da diáspora, do exílio e dos deslocamentos, Bhabha discute a troca de experiências entre culturas diversas que, por diferentes motivos, passam a coexistir, desencadeando um movimento de construção e circulação de significados. O híbrido, não é algo concreto, mas é um processo, em constante estado de ajuste, simultaneamente negando e afirmando a semelhança com aquilo que o gerou.
É no século XX que se desenvolve a filosofia do bem estar, motivando-se os indivíduos a consumir o que se produz. Como consequência inevitável da era tecnológica surge um tipo de cultura que se chamará inicialmente cultura de massa. Segundo Morin, numa optica sociológica, o termo cultura aparece como resultado de uma mistura entre razão e emoção, que vai “estruturar”, “orientar”, “construir”, “operar”, “suprir”. Seu tempo de ação se estende entre o real e o imaginário, numa simbiose do instintivo com o representativo. Seu código ultrapassa o simples objetivo. O termo massa expressa uma ideia de multiplicação ou de difusão maciça.
Referências:
APPEL, John e Selma. Comics. Da imigração na America. São Paulo: Editora Perspectiva, 1994
BARBAREO, J.M. Dos meios às Mediações. Rio de Janeiro: UFRJ, 2003.
BARTHES, Roland. Mitologias. São Paulo: Difel, 1985
--------------, Roland. Aula. São Paulo: Cultrix, 1988
BHABHA, Home. O Local da Cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998.
CANCLINI. Nestor García. Culturas Híbridas: estratégia para entrar e sair da modernidade. São Paulo: Editora da USP, 2000.
ECO, Umberto. Apocalípticos e Integrados. São Paulo: Perspectiva, 2001
FONSECA, Joaquim da. Caricatura. A imagem gráfica do humor. Porto Alegre: Artes e Ofícios, 1999
HANDLIN, Oscar. Race and Nationality in American Life, Garden City, NY, 1957
MORIN, Edgar. Cultura de massas no século XX. O espírito do tempo. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1977
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