O elo comum em toda ficção pulp não era violência, sangue ou mesmo vingança. As histórias eram escritas para entreter, e por cinco décadas eles agradaram milhões de leitores. Centenas de diferentes revistas lotaram as bancas. De 1920 até 1930 os pulps foram o lar da maior parte da literatura de ficção científica e fantasia dos Estados Unidos. E dessas raízes pulps surgiram os gibis de super-herois. Tiras de quadrinhos de aventuras para crianças e adultos eram publicadas em forma de seriado há décadas nos jornais. No início dos anos 30, Tarzan e Buck Rogers emergiram dos pulps.
As revistas de crime geraram muitos títulos e revelaram um dos maiores escritores norte americanos: Dashiell Hammett, autor de O Falcão Maltês e criador do romance noir. As revistas de ficção científica revelaram nomes como Isaac Assimov e Ray Bradbury. E o que marcou a maioria das pessoas foram os personagens criados para essas publicações. Além de Tarzan, desfilaram pelas páginas dos pulps O Sombra, Doc Savage, Capitão Futuro, Conan, Buck Rogers, Fu Manchu e muitos outros. Os personagens foram sucessos em sua época, e atravessaram os anos em livros, quadrinhos e cinema, fossem como adaptações dos mesmos ou como influência na criação de outros personagens.
Duas editoras de pulps tornaram-se depois importantes editoras de gibis – a Dell, fundada por George Delacorte, e a Fawcett, de Wilford e Rascoe Fawcett. Os pulps estabeleceram o pano de fundo para a expansão dos quadrinhos, difundiram os “fãclubes” (a comunidade fandom, fusão das palavras fan –fã – e kigdom – reino) organizados, que se formavam em torno de títulos, gêneros e herois. As páginas onde eram publicadas as Cartas dos Leitores tornaram-se sedes de fato desses clubes. Os editores de pulps compensavam a má qualidade do papel e da impressão estampando em suas capas ilustrações coloridas e que chamavam a atenção. E é Christopher Knowles em seu livro sobre a história secreta dos super-herois das histórias em quadrinhos que conta:
Os pulps não surgiram no vácuo. A cultura popular americana sempre esteve às voltas com sua herança puritana. Em 1919, a 18ª Emenda constitucional proibiu a venda de álcool numa tentativa de inibir a rápida expansão de liberalismo social e cultural que surgiu após a Primeira Guerra Mundial. A Lei Volstead, como ficou conhecida, teve uma reação explosiva, expressada no jazz, nas bebidas ilegais e em ficção de conteúdo sexual explícito. Como regra, os pulps tornaram-se o veículo para toda sorte de expressão proibida, inclusive para temas ocultistas. Muitos escritores de pulps, como Talbot Mundy, estavam ativamente envolvidos no ocultismo; outros se encantavam com ele. Os heróis do pulp viviam no limite do que seria culturalmente correto, e pareciam se deleitar ao porem à prova as normas sociais (KNOWLES, 2008, p. 94 e 95).
Entre os herois dos pulps estavam o aristocrático detetive Nick Carter (1886), o nobre selvagem livre da corrupção da civilização Tarzan (1912), de Edgar Rice Burroughs, o poderoso The Gladiator (1930) de Philip Wylie, o misterioso O Sombra (1930), de Walter Gibson, o invencível Doc Savage (1933), de Lester Dent. Seguiram o Whisperer, o Avenger, o Spider, Detetive Fantasma, Black Hood, Captain Satan entre outros. Todos esses herois mascarados existiam na periferia da sociedade convencional que eles procuravam salvar – as máscaras eram feitas para bandidos, não para homens da lei. Os super-herois dos pulps eram perigosos, em marcante contraste com os super-heróis das revistas em quadrinhos que surgiram depois, todos íntegros. Os pulps não só proporcionaram aos quadrinhos a maioria de seus herois e temas, como também proporcionaram à indústria a maior parte de sua equipe, dentre os quais os mais notáveis foram Harry Donenfeld, padrinho da DC Comics, e Martin Goodman, fundador da Marvel Comics.
Lester Dent (que assinava sob o pseudônimo de Kenneth Roberson) criou Doc Savage, mestre da mente e do corpo. A história “O Homem de Bronze” foi o título que acabou sendo incorporado no nome do personagem nas edições seguintes. Ele falava qualquer língua deste planeta, possuía conhecimentos avançados em física, química, psicologia e mecânica, tinha resistência física excepcional e muitas vezes se isolava na Fortaleza da Solidão (lembrou-se do Super Homem?), sua base secreta localizada no Ártico, onde planejava sua próxima empreitada.
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