21 julho 2011

Pulp, uma paixão pela leitura (2)

Para os judeus do início do século XX a rota mais curta para a fama era através do entretenimento para as massas, áreas nas quais os norte-americanos tradicionais não estavam interessados em trabalhar, seja por preconceito, esnobismo ou provincianismo. Na década de 1920, os norte-americanos começaram a comprar revistas como nunca. Tecnologia de impressão barata, distribuição na era dos automóveis, dinheiro para gastar e uma fome de informações sobre um mundo que mudava a cada dia conspiraram para tornar a banca de revistas uma das principais arenas da cultura nacional. No início da década havia nas bancas mais de dois mil títulos. Os americanos passavam mais tempo lendo revistas do que em qualquer outra atividade de lazer.


O elo comum em toda ficção pulp não era violência, sangue ou mesmo vingança. As histórias eram escritas para entreter, e por cinco décadas eles agradaram milhões de leitores. Centenas de diferentes revistas lotaram as bancas. De 1920 até 1930 os pulps foram o lar da maior parte da literatura de ficção científica e fantasia dos Estados Unidos. E dessas raízes pulps surgiram os gibis de super-herois. Tiras de quadrinhos de aventuras para crianças e adultos eram publicadas em forma de seriado há décadas nos jornais. No início dos anos 30, Tarzan e Buck Rogers emergiram dos pulps.


As revistas de crime geraram muitos títulos e revelaram um dos maiores escritores norte americanos: Dashiell Hammett, autor de O Falcão Maltês e criador do romance noir. As revistas de ficção científica revelaram nomes como Isaac Assimov e Ray Bradbury. E o que marcou a maioria das pessoas foram os personagens criados para essas publicações. Além de Tarzan, desfilaram pelas páginas dos pulps O Sombra, Doc Savage, Capitão Futuro, Conan, Buck Rogers, Fu Manchu e muitos outros. Os personagens foram sucessos em sua época, e atravessaram os anos em livros, quadrinhos e cinema, fossem como adaptações dos mesmos ou como influência na criação de outros personagens.


Duas editoras de pulps tornaram-se depois importantes editoras de gibis – a Dell, fundada por George Delacorte, e a Fawcett, de Wilford e Rascoe Fawcett. Os pulps estabeleceram o pano de fundo para a expansão dos quadrinhos, difundiram os “fãclubes” (a comunidade fandom, fusão das palavras fan –fã – e kigdom – reino) organizados, que se formavam em torno de títulos, gêneros e herois. As páginas onde eram publicadas as Cartas dos Leitores tornaram-se sedes de fato desses clubes. Os editores de pulps compensavam a má qualidade do papel e da impressão estampando em suas capas ilustrações coloridas e que chamavam a atenção. E é Christopher Knowles em seu livro sobre a história secreta dos super-herois das histórias em quadrinhos que conta:


Os pulps não surgiram no vácuo. A cultura popular americana sempre esteve às voltas com sua herança puritana. Em 1919, a 18ª Emenda constitucional proibiu a venda de álcool numa tentativa de inibir a rápida expansão de liberalismo social e cultural que surgiu após a Primeira Guerra Mundial. A Lei Volstead, como ficou conhecida, teve uma reação explosiva, expressada no jazz, nas bebidas ilegais e em ficção de conteúdo sexual explícito. Como regra, os pulps tornaram-se o veículo para toda sorte de expressão proibida, inclusive para temas ocultistas. Muitos escritores de pulps, como Talbot Mundy, estavam ativamente envolvidos no ocultismo; outros se encantavam com ele. Os heróis do pulp viviam no limite do que seria culturalmente correto, e pareciam se deleitar ao porem à prova as normas sociais (KNOWLES, 2008, p. 94 e 95).


Entre os herois dos pulps estavam o aristocrático detetive Nick Carter (1886), o nobre selvagem livre da corrupção da civilização Tarzan (1912), de Edgar Rice Burroughs, o poderoso The Gladiator (1930) de Philip Wylie, o misterioso O Sombra (1930), de Walter Gibson, o invencível Doc Savage (1933), de Lester Dent. Seguiram o Whisperer, o Avenger, o Spider, Detetive Fantasma, Black Hood, Captain Satan entre outros. Todos esses herois mascarados existiam na periferia da sociedade convencional que eles procuravam salvar – as máscaras eram feitas para bandidos, não para homens da lei. Os super-herois dos pulps eram perigosos, em marcante contraste com os super-heróis das revistas em quadrinhos que surgiram depois, todos íntegros. Os pulps não só proporcionaram aos quadrinhos a maioria de seus herois e temas, como também proporcionaram à indústria a maior parte de sua equipe, dentre os quais os mais notáveis foram Harry Donenfeld, padrinho da DC Comics, e Martin Goodman, fundador da Marvel Comics.


Lester Dent (que assinava sob o pseudônimo de Kenneth Roberson) criou Doc Savage, mestre da mente e do corpo. A história “O Homem de Bronze” foi o título que acabou sendo incorporado no nome do personagem nas edições seguintes. Ele falava qualquer língua deste planeta, possuía conhecimentos avançados em física, química, psicologia e mecânica, tinha resistência física excepcional e muitas vezes se isolava na Fortaleza da Solidão (lembrou-se do Super Homem?), sua base secreta localizada no Ártico, onde planejava sua próxima empreitada.

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