15 março 2018

Politicos na boca do povo


Do primeiro ao último presidente que se instalou no Palácio da Alvorada, nenhum escapou ao olho crítico dos chargistas brasileiros. Os hóspedes do Palácio do Catete forneceram, durante gerações, material para alimentar o apetite de irreverências bem temperadas dos nossos chargistas e caricaturistas.


O povo acompanhou tudo, fazendo marcação cerrada em cima das atitudes de cada governante para censurá-las com humor e muita verve, em marchinhas, anedotas, refrões, piadas, apelidos, mas também aplaudi-las com alambicadas manifestações de afeto e compreensão.


De Deodoro a Temer, a produção humorística divertiu leitores, ouvintes e telespectadores, mas não ficou somente no riso e na chacota, pois serviu de estímulo para abrir veredas a sérias reflexões.


Ninguém pode ficar indiferente ao que acontece nos salões palacianos, nem alheio às intrigas, conchaves políticos, destemperos dos governantes, é natural que a imagem dos presidentes tenha sido pintada com ares fortes por caricaturistas, mas também por uma legião de compositores e jornalistas ou simplesmente por anônimos galhofeiros, que penetraram com senso agudo no espírito da época.


Cada época tem seus momentos de humor. A charge, o cartum e a caricatura se tornam com o tempo documentos indispensáveis para a reconstrução do passado de um povo.

DEODORO DA FONSECA (1889-1891). O alagoano que comandou o Governo Provisório tinha o apelido de Generalíssimo.


FLORIANO VIEIRA PEIXOTO (1894-1898). Outro alagoano teve um governo dos mais contestados da República. Homem de hábitos frugais, baixo, franzino, lacônico era comparado a bichos peçonhentos ou de rapina. Teve como apelidos: Marechal de Ferro, Caboclo do Norte e Tabareu das Alagoas.


PRUDENTE DE MORAIS (1894-1898) era conhecido, na boca do povo, como Biriba (ar caipira, falta de tato, incapacidade) ou Pruente Demais e Taciturno do Itamarati.


CAMPOS SALES (1898-1902) ficou conhecido popularmente como o Patriarca do Banharão, referência à região do Estado de São Paulo onde se localizavam suas fazendas.

RODRIGUES ALVES (1902-1906) era chamado Papai Grande, porque ficou viúvo, pai de nove filhos, aos 43anos de idade. Não mais tornara a casar dedicando todo o seu carinho à filharada.

AFONSO PENA (1906-1909), na boca do povo era chamado de Tico Tico, devido à pequena estatura, à agilidade e ao nervosismo.

NILO PEÇANHA (1909-19100, o Moleque Presepeiro, foi o apelido da imprensa. Expressão equivalente a negrinho ladino, armador de presepadas.

HERMES DA FONSECA (1920-19140, o Urucubaca. O tipo de chacota que mais se notabilizou dizia respeito ao incrível azar do marechal-presidente, daí a urucubaca.

VENCESLAU BRÁS (1914-1918) ficou praticamente ausente durante todo o período de Hermes. Apelido: Solitário de Majubá.

DELFIM MOREIRA (1918-1918) assumiu interinamente para um curto mandato que ficou conhecido como regência republicana.

EPITÁCIO PESSOA (1919-1922) era chamado de Tio Pita ( e também Patativado Norte), pela vida social interna que levava no Palácio do Catete.

ARTUR BERNARDES (1922-1922), apelidado de Seu Mé, devido a um samba de autoria de Freire Junior e Carece.

WASHINGTOM  LUIS (1926-1930), o Rei da Fuzarca, devido a sua constante presença em bailes carnavalescos, sai ligação com o teatro, faziam dele um personagem simpático, meio boemia e sofisticado.


EURICO GASPAR DUTRA (1945-1951), o Voxê qué Xabê. Conhecido como Catedrático do Xilenxio, justificava-se dizendo “as palavras não foram feitas para serem gastas”. Ele trocava o c e o s pelo x. Ou mesmo Grão de Bico.

GETÚLIO VARGAS (1951-1954) Era conhecido como Velho.


JUSCELINO KUBITSCHEK (1956-1961), o JK foi irmanado, na música popular, por Juca Chaves, ao ritmo mais quente da época, a bossa nova: “Bossa nova é ser presidente/Desta terá descoberta por Cabral/Para tanto basta ser tão simplesmente/simpático, risonho, original”.




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