No dia 10 de março, morria o compositor
e cantor (além de desenhista), Assis Valente (1911-1958). Ele alcançou merecido
sucesso na década de 1930 graças a Carmen Miranda que lançou várias de suas
músicas como “Good-bye Boy”, “Camisa Listrada” e “O Mundo não se Acabou”. O
auge da carreira de Assis Valente coincidiu com a época de ouro do rádio
brasileiro, tendo no samba seu maior representante. Moreira da Silva, Carlos
Galhardo, Nara Leão, Aurora Miranda, Aracy de Almeida, Carmen Miranda, Luiz
Gonzaga entre outros gravaram suas musicas.
Ele teve uma infância difícil, agravada
com o fato de ter sido tirado dos pais. Foi criado por uma família na cidade de
Alagoinhas, que o tratava como empregado, até se mudar para Salvador. Lá fez
cursos de desenho e se especializou na fabricação de próteses dentárias,
profissão que manteve até o fim da vida.
A primeira composição foi feita em 1932,
o samba "Tem Francesa no Morro", logo gravado pela cantora Aracy
Cortes. Mas foi na voz de Carmen Miranda que suas canções ficaram conhecidas.
Depois de ver o show da cantora, Assis Valente não sossegou enquanto não se
aproximou da estrela. Especialmente para ela, compôs, ainda em 1932, o samba
"Good Bye, Boy", que virou sucesso.
BRASILIDADE - Valente foi um dos
compositores que mais retrataram em suas canções a brasilidade, aproveitando
para fazer crônicas alegres, com críticas leves aos acontecimentos da época.
Criticava a influência estrangeira na cultura nacional como, por exemplo, nos
sambas "Good Bye Boy" e "Tem Francesa no Morro", nos quais
se utiliza de expressões das duas línguas para fazer uma sátira.
Nessa época, o governo federal,
comandado por Getúlio Vargas, decidiu investir na cultura nacional e, em
contrapartida, iniciava o processo de agravamento da censura. Na década de 50,
as músicas de Assis Valente já não eram mais gravadas, coincidindo com o
declínio das gravações do samba tradicional. No seu lugar, a bossa-nova
aparecia como representante da MPB no Brasil e exterior.
Os desenhos de Assis Valente chegaram a
ser publicados em revistas famosas da época, como a Fon-Fon, logo que ele
chegou ao Rio, em 1927. O trabalho como protético também era elogiado, sendo
considerado um dos melhores da cidade. O sócio José de Aguiar Dantas acabou a
parceria no laboratório de próteses por causa da carreira artística de Valente,
que o afastava das obrigações do negócio. Em 1938, o compositor abriu seu
próprio laboratório.
Compositor de incontáveis sucessos (Cai
Cai Balão, Para Onde irá o Samba, Boas Festas, Chegou a Hora, Pão Duro, Fez
Bobagem) morreu em total miséria, pressionado por dívidas que se somaram a seus
problemas existenciais, até o suicídio. Em seu derradeiro bilhete ele pedia à
sua sociedade arrecadadora que pagasse seus débitos, dívidas de um homem que
sempre viveu em condições que (no máximo) poderiam ser chamadas de modestas.
Aurora Miranda, Moreira da Silva,
Francisco Alves, Bando da Lua, Elza Cabral, Irmãs Pagãs, Almirante, Mário Reis,
Sônia Carvalho, Orlando Silva e Carlos Galhardo também incluíram Valente em
seus repertórios. Galhardo foi o primeiro a gravar "Boas Festas",
música natalina popularizada no Brasil pelos versos "Eu pensei que fosse
filho de Papai Noel".
Ele cantou o amor alegre, o amor de
carnaval, a festa, o riso das ruas, criticando e ironizando, dando um
formidável testemunho de seu tempo, dando linguagem popular e espontâneo.
Enfrentou permanentemente problemas que hoje são extremamente aflitivos no
Brasil, e que só agora começou a ser discutidos, tanto a nível social como
profissional: homossexualismo, raça, direitos autorais e muitos outros
condutores diretos a total marginalização do ser humano e de profissional. Sua
última composição, "Boneca de Pano", data de 1950, foi gravada pelo
conjunto Quatro Ases e Um Coringa. Em 1956, a cantora Marlene tentou fazer um
resgate de suas músicas com o disco "Marlene Apresenta Sucessos de Assis
Valente". Dois anos depois, com 50 anos, o compositor acabou com a própria
vida tomando veneno. Morreu em 10 de março de 1958.
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