Atrás das palavras mais “inocentes” há
uma origem bastante “pornográfica” e vice-versa. Há uma quantidade de esforços,
interditos, elaborações teológicas, jurídicas, medicinais a que se dedicaram as
sociedades humanas para traçar uma linha divisória entre o lícito e o obsceno,
entre o pornográfico e o publicável.
A língua é depositária de experiências
remotas, tão banalizadas pelo uso cotidiano que perdemos suas motivações
originais pelo caminho. Conhecer a história de uma palavra é desvendar um
pedaço de uma cultura, da chacota aos insights geniais, dos traços patriarcais
à ênfase no papel de homens e mulheres na sociedade.
APARITIVO – Originalmente sinônimo de
purgante. Por semelhança fonética com “apetite”, passou a significar tudo
aquilo que abre o apetite.
BUNDA – Vem do quimbundo “mbunda”,
região glútea.
ENFEZADO – Em princípio, impedir o
crescimento de algo, congestionar seu avanço. Tem raiz de “falcas”, dejetos não
só de animais. Hoje é aquele que se enche de fezes, se caga, enfada, impacienta
ou se irrita.
MERDA – Sinônimo de excremento, a ela a
França agregou sentidos à história bélica e teatral. Numa estréia teatral,
deseja-se muita merda no camarim para vencer o desejo de encantara platéia.
NÁDEGAS – Era usado pela aristocracia
portuguesa, vem si latim “nadica” (*).
ORGASMO – Derivado do grego “órgão” (“eu
desejo ardentemente”), Orgasmo é parte da época grega de ver o mundo. “Orgê” significa
tanto agitação como irritação, e virou matriz de Orgaon (desejo ardente); por
sua vez antepassado de “orgasmo”, essa explosão de prazer.
ORQUÍDEA – Órchis em grego era nome
padrão dado aos testículos. E viraram matriz e motriz da frondosa Orquídea.
Como as regras dessa planta têm dois tubérculos, dois são os pomos do homem que
saem da virilha como se raízes tivessem.
PROSTITUTA – Na Antiguidade tinha os
sentidos de “colocar diante”, “expor à venda”, “mercadejar”.
QUENGA – Sinônimo de vasilha, tigela
feita com metade da casca de um côco. Depois nomeou a prostituta do Nordeste
brasileiro.
SACANA – Originalmente, masturbação
feminina nos tempos coloniais brasileiro. Depois o termo passou a ser pessoa
dada a libidinagem, masturbadora sim, mas mau caráter também.
TESTEMUNHO – Vem do latim: jurar sobre
os testículos. As juras eram empenhadas com a mão sobre o que se tinha de mais
precioso, os “testes”, os testículos. Testemunhos da virilidade ganhavam aval
jurídico até no Velho Testamento.
VAGINA – Significa literalmente “bainha”
em latim vulgar. Os soldados usavam a tiracolo, para guardar suas espadas. Hoje
é a versão do hábito de associar a genitália feminina a recipientes para o
membro masculino.
(*) Nadegas e bunda ocuparam níveis
sociais afastados. O elitizado “nádegas” era usado pela aristocracia portuguesa
enquanto que “bunda” amargou a
marginalização dos nomes de origem africana. Mas hoje a bunda derrotou as
nádegas.
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