A classe política é malvista hoje no
mundo afora. Não é segredo para ninguém que os políticos são poucos admirados.
Os jovens não querem nem ouvir falar de partidos políticos, buscam outros
caminhos. E se antes botas e fuzis davam ordem, hoje o regime democrático está
assegurado. Mas isso só não basta, é preciso resolver a injustiça social.
Onde estão nossas instituições
(Legislativo, Judiciário, Ministério Público)?. Essas instituições dão conta de
muitas coisas, funcionam, às vezes, num mundo que parecem só deles e não têm
raízes fortes na sociedade, nas pessoas.
O que se nota é que a estrutura do poder
está presente e funciona às vezes mal, às vezes bem, mas o que lhe falta é o
que Montesquieu (1689-1755) chamava o princípio de um regime, a adesão da
sociedade ao valor que o sustenta. Falta povo nessa república, mesmo com o
aumento gradativo da inclusão.
Com o advento da Lei de Responsabilidade
Fiscal (LRF) que propõe não gastar mais do que arrecada, é preciso uma lei de
responsabilidade social, ou seja, leis de responsabilidade educacional e de
saúde para os chefes do Executivo. Assim como a LRF se adequou a uma nova
realidade fiscal em que o equilíbrio das contas, o planejamento e a
transparência passaram a ser essenciais, o enfoque agora seria necessário para
a educação e saúde, muito desprezadas.
Hannah Arendt, uma das observadoras mais
perspicazes e uma das juízas mais críticas de nossa atual condição humana,
escreveu de forma profusa e convincente sobre o “vazio do espaço público”. O
que ela quis dizer é que em nossos tempos não há mais locais óbvios no corpo
político a partir dos quais possam ser feitas intervenções eficazes e
significativas para o modo como nossa vida coletiva é vivida.
As atividades de governo tendem hoje a
ser fragmentadas, episódicas e inconsequentes. A política foi dividida numa
coleção de acontecimentos, um sem relação com os outros, surgindo à atenção
pública, sobretudo para apagar dela os acontecimentos de ontem. Os triunfos de
hoje significam isolar a bagunça deixada pelos atos comemorados ontem. Toma-se
uma coisa de cada vez e proibe-se todo pensamento sobre o que vem pela frente.
Escândalos e futilidades que invadem a
atenção do público apresentam uma salutar qualidade de apagar os escândalos do
passado e as futilidades da memória. Vale lembrar a longa greve dos professores
e militares, o edital assinado e tido como não lido da secretaria de cultura,
as dicas para não ser assaltado deixando um dinheirinho na bolsa para amenizar
o ladrão da secretaria de segurança ou mesmo o concurso para jovens virgens, só
para citar alguns exemplos.
Um governo que pratica e promove a
política assim entendida gosta de seus cidadãos como eles são, com seus olhos
inconstantes e a atenção à deriva, assim como seus discursos laudatórios de
tempos em tempos sobre suas gloriosas herança e os antigos feitos na época da
ditadura. Esse governo não desistiria desses cidadãos por nada, e fará todo
possível para que eles permaneçam do jeito que são, ou melhor, da forma como
são pressionados, empurrados, intimidados (com a benção, a conivência e a
dedicada colaboração do governo) a se tornar.
Assim, trata-se de um governo que tudo
desregula, de modo que nada pode ser sentido como duradouro e confiável,
previsível, fidedigno, algo como que se pode contar. Um governo que remove os
lugares em que as decisões são tomadas para outros onde as pessoas por elas
afetadas não possam vê-las como decisões, mas apenas como destino cego. Um
governo que quer que o jogo das forças do mercado defina o padrão de vida, de
vida vivida como um jogo. Taí a Copa para alegrar a todos. Pão e circo para
todos. (Texto publicado no dia 18 de junho de 2013)
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