Na época dos povos conquistadores greco-romanos, fenícios, cartagineses, saxões, a literatura de cordel já existia, tendo chegado à Península Ibérica (Portugal e Espanha) por volta do século XVI. Na Península a literatura de cordel recebeu os nomes de folhas soltas (Espanha) e folhas volantes (Portugal). Florescente, principalmente, na área que se estende da Bahia ao Maranhão essa manifestação impressa em papel barato era utilizada para contar as grandes histórias, os grandes romances. O dramaturgo francês Molière divulgou suas peças através dos folhetos. Fausto, obra maior de Goethe, foi publicada inicialmente em um folheto. Ariano Suassuna se inspirou em vários folhetos para fazer O Auto da Compadecida.
O cordel, trazido de Portugal
além de entretenimento era instrumento de informação jornalística, numa época
em que as notícias não chegavam ao interior, isso há um século atrás,
aproximadamente, e ainda cumpriu a função de alfabetizador pelo método natural
de ouvir (era lido em voz alta), memorizar, ler e escrever.
De custo baixo, geralmente estes
pequenos livros são vendidos pelos próprios autores. Fazem grande sucesso em
estados como Pernambuco, Ceará, Alagoas, Paraíba e Bahia. Este sucesso ocorre
em função do preço baixo, do tom humorístico de muitos deles e também por
retratarem fatos da vida cotidiana da cidade ou da região. Os principais
assuntos retratados nos livretos são: festas, política, secas, disputas,
brigas, milagres, vida dos cangaceiros, atos de heroísmo, milagres, morte de
personalidades etc. Em algumas situações, estes poemas são acompanhados de
violas e recitados em praças com a presença do público.
Como uma manifestação cultural
popular, o cordel ultrapassa a visão representativa para se tornar
produção de
linguagem, ultrapassa a noção de obra e autor. Ele produz uma “realidade”
nascida da reatualização de uma memória popular que entrelaça acontecimentos
das mais variadas temporalidades e espacialidades. Presentificando-as, colocando-as
acima do tempo corrosivo da história, uma prática discursiva que inventa e
reinventa a tradição e, como tal, interessava a um grupo de intelectuais também
preocupados com a estabilidade espaço-temporal.
Construído com histórias que
circulariam em toda a área, histórias de cangaceiros, de santos, de coronéis,
de milagres, de secas, de cabras valentes e brigões, de crimes, de mulheres
perdidas, do sertão mítico, repositório de uma pureza perdida. A estrutura do
cordel, com seus recetativos e heptassílabas acentuados na terceira e sétimas
sílabas, fornece uma forma de expressão, uma dicção perfeitamente adaptada para
se falar do Nordeste, onde todos os discursos lembram lamúrias, cantilenas,
incelências, lamentos.
Alguns escritores (entre eles
Mark J. Curran) dividem a presença do cordel no Brasil em duas fases. A
primeira fase começa há 100 anos, quando os portugueses o introduzem pelos
portões da Paraíba. A segunda fase começou por volta de 1979, momento em que o
cordel foi sufocado pela grande imprensa, tempos de ditadura militar no país.
Para evitar que o gênero morresse, promoveu-se um congresso internacional, aqui
na Bahia. Desta forma, o movimento ganhou força e muitos cordelistas
estabeleceram-se por aqui. O papel da Bahia na continuação desse gênero foi tão
importante que fica sediada em Salvador, num espaço urbano, a Ordem Brasileira
dos Poetas da Literatura de Cordel. E um de seus cordelistas e repentistas mais
ilustre é Antônio Ribeiro da Conceição, mais conhecido por seu nome artístico,
Bule Bule.
O cineasta Glauber Rocha
descobriu que o cantador de cordel era, em grande medida, um ator brechtiano.
Na medida em que não apenas interpreta a história, mas é, em grande parte, o
seu autor e condutor. Ao incorporar os mitos do cordel, ele elaborou uma
espacialidade anti naturalista de grande inventividade imagética. A poesia de
João Cabral de Melo Neto busca no cordel, nos autos de natal, formas de
expressão mais direta, mais comunicativas. A economia verbal, a musicalidade da
palavra, a combinação eufônica ou gráfica das palavras, a necessidade de serem
ditas mais do quer ouvidas.
E não foi só a literatura, a
poesia, o cinema e o teatro a utilizar toda a estrutura do cordel, as artes
plásticas também aproveitou dessa fonte popular através da xilogravura, as
histórias em quadrinhos também desenvolveu um segmento especial. E apesar da
morte tantas vezes anunciada ao longo dos tempos, a literatura de cordel
continua um expressivo meio de comunicação. Enquanto expressão cultural,
permanece adaptada, reinventada, no desempenho de suas funções sociais e
políticas. Informar. Formar, divertir, criticar, conscientizar, socializar ou
poetizar, conforme os diferentes temas que retrata e o enfoque abordado. A
literatura de cordel enriquece a já reconhecida pluralidade cultural do nosso
Brasil.
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