Tolerância provém do latim tolerantia,
que por sua vez procede de tolero, e significa suportar um peso
ou a constância
em suportar algo. O filósofo Tomás de Aquino disse que a tolerância é o mesmo
que a paciência. Quem é forte é paciente, mas não vice-versa, pois a paciência
é parte da fortaleza. A palavra tolerância surgiu nos conflitos religiosos do
século 16, época das guerras religiosas entre católicos e protestantes. Nesse
período muito se falou de tolerância religiosa, eclesiástica ou teológica. Hoje
em dia também se tolera (pacientemente) em pontos que não são essenciais de uma
determinada doutrina mesma que seja em detrimento da mesma, mas para uma melhor
convivência social.
Já em meados do século 19, “maison de
tolérance” era a casa ou zona de prostituição. Muitos toleravam esses locais
procurando evitar, assim, a disseminação desses costumes em toda toda a
sociedade. A partir daí a tolerância estendeu-se ao livre pensamento e, no
século 20 passou a ser acordo internacional com intenção de ser exercida,
através da Carta aos Direitos Humanos em 1948, também através de algumas ongs e
de governos não totalitários.
Na medicina, a palavra tolerância é
utilizada para significar a aptidão do organismo para suportar a ação de um
medicamento, um agente químico ou físico. Assim, as diferentes espécies toleram
de diferentes modos os microorganismos – alguns adoecem e morrem, outros nada
ocorre. O nível de tolerância à radiação tem tal limite. A tolerância é o
limite do desvio admitido dentro das características exatas de um objeto
fabricado ou de um produto e as características previstas. Não são todos que
suportam os medicamentos. Cada caso é um caso.
Num processo de tentativa e erro, as
pessoas buscam soluções para viver consigo e com as demais.
Tolerar é assim
aceitar os limites, ser paciente. A paciência é justamente aceitar o
desagradável, com bom humor. Muitas vezes tendemos a ser complacentes com os
desvios de nossa conduta e implacáveis com os outros – não lhes damos o tempo
necessário para mudar. A verdade é que somos limitados, e isto se manifesta no
modo tosco que nos relacionamos com as pessoas. A distância que existe entre as
pessoas, em parte é criada por cada um. Percebemos muitas vezes que com alguns,
já num primeiro momento se consegue chegar perto, falar sem gritar ou mandar
mensageiros, mas nem sempre é assim. É preciso usar a inteligência para
encontrar o caminho da comunicação entre as pessoas.
Nossas limitações são patentes. Não
somos o que queremos, não fazemos tudo que sonhamos, não temos o dom de estar
onde desejamos. É dentro desses limites que nos movemos. Conhecer os limites
pessoais e os outros é uma tarefa que dura toda a vida. A tolerância é uma das
tantas virtudes necessárias para elevar o ser humano à condição de civilidade.
S.P. Rouanet a vê “como passagem para um estágio mais civilizado e menos
mecânico de convívio das diferenças”. A tolerância deve ser um ato constante de
prevenção e educação. Dessa forma é uma espécie de prevenção contra o
dogmatismo, para que este não vire fanatismo (na dimensão pessoal),
fundamentalismo (na dimensão religiosa) e totalitarismo (na dimensão de Estado
ou de Governo).
Para muitos pensadores, a tolerância é
uma virtude
necessária para o exercício das coisas pequenas do cotidiano, um
exercício necessário para se conquistar a sabedoria. A pessoa que se pretende
possuir “a verdade”, ou melhor, “a certeza”, termina sendo intolerante em
aceitar outros posicionamentos, se fechando a escuta de tudo que apresente
diferente ou incompreensível ao seu esquema conceitual de fala e ação. Um
exemplo é o moralista, in-tolerante com os que possuem valores diferentes do
seu. Sabemos se tratar de um moralista quanto sofremos a imposição de seus
valores, baseado em sua “certeza moral”. Ele, o moralista, carrega a ambição de
impor a todos, universalizando seus valores como certos.
A tolerância deve ter limites? Para o
escritor José Saramago, “a tolerância para no limiar do crime. Não se pode ser
tolerante com o criminoso. Educa-se ou pune-se”. Nesse sentido, não se pode ser
tolerante com a tortura, o estupro, a pedofilia, a escravidão, o narcotráfico,
o terrorismo, a guerra. Já o filósofo Vladimir Jankélévich diz que “a tolerância
não vale, pois, em certos limites, que são os de sua própria salvaguarda e da
preservação de suas condições de possibilidade”. O filósofo Karl Popper
questiona: “Se formos de uma tolerância absoluta, mesmo para com os
intolerantes, e se não defendermos a sociedade tolerante contra seus assaltos,
os tolerantes serão aniquilados, e com eles a tolerância”. Fica aí a pergunta
para você leitor pensar: “Uma democracia deve ou não impor limites de
tolerância tendo em vista a ânsia dos intolerantes pelo poder?.
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