Autodenominado franco-atirador, o
cartunista, prestes a completar 60 anos, está acostumado a ir
contra a
corrente. Nos primeiros meses de 2003, enquanto boa parte dos chargistas
brasileiros gastava suas tintas para saudar a chegada do ex-operário e líder
sindical à Presidência da República, ele já farejava excesso de marketing e escassez
de conteúdo no programa Fome Zero, o então carro-chefe do governo.
Quando estourou o escândalo Waldomiro
Diniz, envolvendo José Dirceu, o ex-homem forte de Lula, o cartunista produziu
uma charge premonitória, em que mostrava o "encolhimento" do presidente
e de seu governo (veja desenho). Angeli, ex-punk e ex-militante do Partido
Comunista, diz ter encarado com desconfiança a chegada dos petistas ao poder.
"Sempre me incomodou aquele nariz empinado deles e aquela postura de
detentores da honestidade", afirma.
A crise do mensalão viria mostrar que
ele estava certo. "Angeli é o melhor chargista do Brasil", diz o
cartunista Laerte. "Ele fez o que todo humorista deve fazer, que é
manter-se cético em relação a qualquer governo. Nenhum deles jamais vai conseguir
sua adesão." Não que alguns já não tenham tentado. Em 1988, emissários do
então senador Mario Covas sondaram o chargista com uma proposta: criar o
símbolo do recém-fundado PSDB, o partido dos tucanos. Angeli não quis nem
conversa.
Ex-office-boy, Arnaldo Angeli Filho
começou a desenhar aos 14 anos, influenciado pelo cartunista americano Robert
Crumb. "Não há um desenhista da minha geração que não tenha sofrido a
influência do Crumb", diz. Outro de seus ídolos é Millôr Fernandes, colunista
de VEJA. "Ele tem uma originalidade e uma capacidade incrível de
surpreender." Millôr, por sua vez, afirma que Angeli – "anagrama
perfeito de genial" – é mais do que um chargista político. "Ele é um
comentarista gráfico que já há bastante tempo atingiu o ponto de absoluta
competência", afirma.
Para preencher o espaço de 11
centímetros quadrados que detém há 33 anos na página 2 da Folha de
S.Paulo,
jornal para o qual colabora desde os 17 anos, o cartunista se vale de dez
xícaras de café por dia e dois maços de cigarro, combustível obrigatório num
processo de criação que já teve lá suas crises. Em 1983, por exemplo, Angeli
decidiu abandonar a charge política.
"Nesse período, de início de
abertura, houve um certo enaltecimento dos políticos por parte de veículos e desenhistas,
empolgados com a nova situação", lembra ele. Essa "cumplicidade"
entre os artistas e seus retratados fazia com que as charges, segundo o
desenhista, ao contrário de despertar o senso crítico do leitor, acabassem por
virar decoração de gabinete de deputado.
"Eles gostavam de aparecer nos
desenhos. Como eu não queria desenhar bichinhos engraçadinhos, resolvi mudar de
tática." Por dez anos, voltou-se para as tiras em quadrinhos e criou
personagens antológicos, como o Meia-Oito, caricatura do "revolucionário"
de esquerda, a dupla Wood & Stock, de hippies saudosos, e a tresloucada Rê
Bordosa, "assassinada" pelo autor em 1987, no auge da fama.
Ultimamente, Angeli confessa que anda pensando, novamente, em "dar um
tempo" no humor político: "Não me canso da charge, e sim da
repetição", diz. "Os governos parecem todos iguais." Os governos
podem ser, mas os cartunistas, não.
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