No
dia 18 de abril, a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, em Nazaré comemorou 65
anos, data
também do nascimento do escritor Monteiro Lobato (1882 -1948).
Durante todo o mês, diversas atividades culturais foram realizadas para
celebrar o sexagenário de atuação da Biblioteca, junto ao público infantil de
Salvador. Uma das bibliotecas mais atuantes de Salvador, inclusive aberta aos
domingos, tem sua origem na força de uma bibliotecária que, na época, lutou
muito para a construção de sua fundação. Naquele período quase ninguém
acreditava em literatura infantil, as crianças não tinham vez nem voz. E Denise
Tavares que comemora nesta segunda-feira, 04 de maio, 90 anos de nascimento se
viva estivesse, acreditou em criar um espaço para crianças e jovens. Adroaldo
Ribeiro Costa foi outro nome quer batalhou pelas crianças, também. Vamos
conhecê-la:
Bibliotecária,
professora. Denise Fernandes Tavares nasceu a 04 de maio de 1925 na cidade de
Nazaré, Bahia. Fez os seus primeiros estudos na sua cidade natal, onde cedo viu
surgiu a sua vocação para lidar com crianças, diplomando-se em professora
primária em 1943. Este foi o primeiro passo para ingressar na vida pública. Em
1944 veio para Salvador, onde foi nomeada por concurso para regente de classe
na Escola Marquês de Abrantes. Em 1958, diplomou-se em Bibliotecária
Documentalista pela Escola de Biblioteconomia e Documentação da Universidade da
Bahia. Jovem, estudante de vida, era uma idealista. O seu ideal ela o viu
concretizado.
Entre
as suas principais realizações está a organização e fundação da Biblioteca
Infantil Monteiro Lobato (BIML), fundada a 18 de abril de 1950, em homenagem ao
escritor. O idealismo de Denise Tavares
se concretizava e o seu sonho se tornava realidade, atrair o interesse das
crianças para os bons livros. Respeitada pelo idealismo e pelos bons frutos que
produziu, tornando-se modelo para outros centros. Realizou um trabalho dos mais
importantes de biblioteconomia no Norte e Nordeste, com repercussão nacional e
internacional. Ela criou uma rede de bibliotecas infantis e buscava aprimorar
cada vez mais o seu trabalho, acompanhando a evolução do mundo contemporâneo,
conhecendo novas técnicas de organização e atendimento aos seus jovens
leitores. Quando Monteiro Lobato morreu, em 1948, o sentimento de saudade
exacerbou mais a sua admiração pelo escritor. Ao desejar homenageá-lo, pensou
em uma “casa de livros” aberta para todas as crianças baianas. Começa, então, a
sua luta, a grande missão nos idos de 1949 a 50 da criação da Biblioteca
Infantil Monteiro Lobato. Esse período da vida cultural baiana não permitia o
desenvolvimento de ideias, ações e iniciativas inovadoras. Idealistas eram
vistos com pessimismo, descrédito. Especialmente às mulheres, não se permitia
gestos ousados, corajosos.
A
instituição biblioteca não era compreendida no nível de importância igual à
escola. Mas em 1949 Denise participou de um curso patrocinado pela Secretaria
da Educação com Anísio Teixeira, através do convênio com a Escola de
Biblioteconomia. Planejado para preparar professores primários que atuariam
como “encarregados de bibliotecas escolares”, o curso foi um sucesso.
Conscientizada e reunindo mais argumento para o seu desempenho e luta, visita
São Paulo com objetivo de conhecer a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato
daquela cidade. De volta a Salvador, Denise continua procurando apoio e
recursos para a sua biblioteca. Sem esmorecer à falta de disponibilidades
financeiras, alegada por quase todos, mesmo reconhecendo a ideia maravilhosa, não
se dispunham a patrociná-la. Num dos seus devaneios, ela teve uma ideia
inusitada: enviou a todas as escolas públicas do estado um pedido de
contribuição às crianças, para a biblioteca. Um dia, as respostas vieram. Foram
centenas de listas de crianças com doações de 1 tostão que emocionaram Denise.
O vereador Álvaro Franca da Rocha conseguiu convencer o prefeito Wanderley
Pinho a doar o chalé, no jardim de Nazaré para a instalação da biblioteca.
Até
1953 a BIML somente funcionou com a Seção de Leitura, porém, com a ajuda do
governo foi sofrendo reformas, ampliando, o aumento da frequência exigia maior
espaço. As atividades que ali desenvolveu tornaram a casa pequena. Crescia o
número de crianças que frequentava a biblioteca e urgia um prédio maior e em condições
mais adequadas à finalidade do estabelecimento. A luta continuava, Denise
estava sempre desejando o melhor para as crianças e os jovens baianos e, graças
a sua força de vontade, e o seu amor, dedicação e espírito de luta, em 1967 ela
conseguiu inaugurar uma sede ampla dentro dos moldes desejados. Lutou muito
para consegui-lo, mas acabou inaugurando-o no governo Lomanto Júnior, quando o
seu idealismo encontrou a compreensão dos poderes públicos. Daí por diante, a
biblioteca floresceu.
Também
sob sua orientação e direção, foram instaladas nove bibliotecas sucursais no
interior do
estado, e duas em bairros de Salvador. No campo educacional foi
membro atuante em vários congressos, nos quais apresentou diversas sugestões a
favor da classe. Escreveu para diversos jornais do estado. Foi redatora chefe
do jornal da classe profissional e responsável pela coluna feminina do Diário
da Bahia. Durante algum tempo escreveu com o pseudônimo de Stela Maria. Era um
exemplo de amor aos livros, lia muito e sempre. Ao escrever, como em tudo que
fazia, era ela autêntica, criativa, sensível. Fosse o que fosse, dedicatória
num livro, crônicas ou cartas ela escrevia como falava, com entusiasmo,
sinceridade e coragem. Até mesmo nos livros técnicos, sendo a criança seu constante
objetivo, usava linguagem clara, acessível, no intuito de ajudar na organização
de bibliotecas infantis - sua grande meta.
Sugestões
para Organização de uma Pequena Biblioteca Infantil (1960), Monteiro Lobato,
pai de Emília (1960), Bibliotecas na Bahia (1967), As Bibliotecas
Infanto-Juvenis de Hoje (1970) e A Biblioteca Escolar (1973) são alguns títulos
de suas obras. Entre os prêmios que recebeu consta a medalha de honra ao mérito
da Rádio Nacional do RJ (1952). Nesse mesmo ano recebeu a medalha A Bahia te
Agradece, na Rádio Sociedade da Bahia. Mais tarde, em 1961 recebeu o prêmio
Paula Brito de a bibliotecária do ano, da Biblioteca Municipal do Rio de
Janeiro. E em 1973, foi homenageada pelo 7º Congresso Brasileiro de
Biblioteconomia, em Belém do Pará. Adoentada, recolheu-se ao Hospital
Português, onde veio a falecer na manhã do dia 19 de abril de 1974. Um sensível
desfalque no magistério baiano. A sua morte é muito sentida pelo largo círculo
de suas relações, mas sobretudo, pelas crianças a que se dedicou com extrema
devoção. Denise Tavares era professora do Estado e da Universidade Federal,
técnica federal de Educação e bibliotecária. Foi diretora da BIML até seu
último dia de vida. (Essa pesquisa está no livro Gente da Bahia, de minha
autoria publicada em 1998, Editora P&A).
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Um comentário:
Bacana esse post. Acabo de escrever sobre ela aqui https://leituraparacriancas.wordpress.com/2016/11/23/denise-tavares-e-a-biblioteca-monteiro-lobato/
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