04 maio 2015

Denise Tavares, uma guerreira



No dia 18 de abril, a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, em Nazaré comemorou 65 anos, data
também do nascimento do escritor Monteiro Lobato (1882 -1948). Durante todo o mês, diversas atividades culturais foram realizadas para celebrar o sexagenário de atuação da Biblioteca, junto ao público infantil de Salvador. Uma das bibliotecas mais atuantes de Salvador, inclusive aberta aos domingos, tem sua origem na força de uma bibliotecária que, na época, lutou muito para a construção de sua fundação. Naquele período quase ninguém acreditava em literatura infantil, as crianças não tinham vez nem voz. E Denise Tavares que comemora nesta segunda-feira, 04 de maio, 90 anos de nascimento se viva estivesse, acreditou em criar um espaço para crianças e jovens. Adroaldo Ribeiro Costa foi outro nome quer batalhou pelas crianças, também. Vamos conhecê-la:

Bibliotecária, professora. Denise Fernandes Tavares nasceu a 04 de maio de 1925 na cidade de Nazaré, Bahia. Fez os seus primeiros estudos na sua cidade natal, onde cedo viu surgiu a sua vocação para lidar com crianças, diplomando-se em professora primária em 1943. Este foi o primeiro passo para ingressar na vida pública. Em 1944 veio para Salvador, onde foi nomeada por concurso para regente de classe na Escola Marquês de Abrantes. Em 1958, diplomou-se em Bibliotecária Documentalista pela Escola de Biblioteconomia e Documentação da Universidade da Bahia. Jovem, estudante de vida, era uma idealista. O seu ideal ela o viu concretizado.

Entre as suas principais realizações está a organização e fundação da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato (BIML), fundada a 18 de abril de 1950, em homenagem ao escritor.  O idealismo de Denise Tavares se concretizava e o seu sonho se tornava realidade, atrair o interesse das crianças para os bons livros. Respeitada pelo idealismo e pelos bons frutos que produziu, tornando-se modelo para outros centros. Realizou um trabalho dos mais importantes de biblioteconomia no Norte e Nordeste, com repercussão nacional e internacional. Ela criou uma rede de bibliotecas infantis e buscava aprimorar cada vez mais o seu trabalho, acompanhando a evolução do mundo contemporâneo, conhecendo novas técnicas de organização e atendimento aos seus jovens leitores. Quando Monteiro Lobato morreu, em 1948, o sentimento de saudade exacerbou mais a sua admiração pelo escritor. Ao desejar homenageá-lo, pensou em uma “casa de livros” aberta para todas as crianças baianas. Começa, então, a sua luta, a grande missão nos idos de 1949 a 50 da criação da Biblioteca Infantil Monteiro Lobato. Esse período da vida cultural baiana não permitia o desenvolvimento de ideias, ações e iniciativas inovadoras. Idealistas eram vistos com pessimismo, descrédito. Especialmente às mulheres, não se permitia gestos ousados, corajosos.

A instituição biblioteca não era compreendida no nível de importância igual à escola. Mas em 1949 Denise participou de um curso patrocinado pela Secretaria da Educação com Anísio Teixeira, através do convênio com a Escola de Biblioteconomia. Planejado para preparar professores primários que atuariam como “encarregados de bibliotecas escolares”, o curso foi um sucesso. Conscientizada e reunindo mais argumento para o seu desempenho e luta, visita São Paulo com objetivo de conhecer a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato daquela cidade. De volta a Salvador, Denise continua procurando apoio e recursos para a sua biblioteca. Sem esmorecer à falta de disponibilidades financeiras, alegada por quase todos, mesmo reconhecendo a ideia maravilhosa, não se dispunham a patrociná-la. Num dos seus devaneios, ela teve uma ideia inusitada: enviou a todas as escolas públicas do estado um pedido de contribuição às crianças, para a biblioteca. Um dia, as respostas vieram. Foram centenas de listas de crianças com doações de 1 tostão que emocionaram Denise. O vereador Álvaro Franca da Rocha conseguiu convencer o prefeito Wanderley Pinho a doar o chalé, no jardim de Nazaré para a instalação da biblioteca.

Até 1953 a BIML somente funcionou com a Seção de Leitura, porém, com a ajuda do governo foi sofrendo reformas, ampliando, o aumento da frequência exigia maior espaço. As atividades que ali desenvolveu tornaram a casa pequena. Crescia o número de crianças que frequentava a biblioteca e urgia um prédio maior e em condições mais adequadas à finalidade do estabelecimento. A luta continuava, Denise estava sempre desejando o melhor para as crianças e os jovens baianos e, graças a sua força de vontade, e o seu amor, dedicação e espírito de luta, em 1967 ela conseguiu inaugurar uma sede ampla dentro dos moldes desejados. Lutou muito para consegui-lo, mas acabou inaugurando-o no governo Lomanto Júnior, quando o seu idealismo encontrou a compreensão dos poderes públicos. Daí por diante, a biblioteca floresceu.

Também sob sua orientação e direção, foram instaladas nove bibliotecas sucursais no interior do
estado, e duas em bairros de Salvador. No campo educacional foi membro atuante em vários congressos, nos quais apresentou diversas sugestões a favor da classe. Escreveu para diversos jornais do estado. Foi redatora chefe do jornal da classe profissional e responsável pela coluna feminina do Diário da Bahia. Durante algum tempo escreveu com o pseudônimo de Stela Maria. Era um exemplo de amor aos livros, lia muito e sempre. Ao escrever, como em tudo que fazia, era ela autêntica, criativa, sensível. Fosse o que fosse, dedicatória num livro, crônicas ou cartas ela escrevia como falava, com entusiasmo, sinceridade e coragem. Até mesmo nos livros técnicos, sendo a criança seu constante objetivo, usava linguagem clara, acessível, no intuito de ajudar na organização de bibliotecas infantis - sua grande meta.

Sugestões para Organização de uma Pequena Biblioteca Infantil (1960), Monteiro Lobato, pai de Emília (1960), Bibliotecas na Bahia (1967), As Bibliotecas Infanto-Juvenis de Hoje (1970) e A Biblioteca Escolar (1973) são alguns títulos de suas obras. Entre os prêmios que recebeu consta a medalha de honra ao mérito da Rádio Nacional do RJ (1952). Nesse mesmo ano recebeu a medalha A Bahia te Agradece, na Rádio Sociedade da Bahia. Mais tarde, em 1961 recebeu o prêmio Paula Brito de a bibliotecária do ano, da Biblioteca Municipal do Rio de Janeiro. E em 1973, foi homenageada pelo 7º Congresso Brasileiro de Biblioteconomia, em Belém do Pará. Adoentada, recolheu-se ao Hospital Português, onde veio a falecer na manhã do dia 19 de abril de 1974. Um sensível desfalque no magistério baiano. A sua morte é muito sentida pelo largo círculo de suas relações, mas sobretudo, pelas crianças a que se dedicou com extrema devoção. Denise Tavares era professora do Estado e da Universidade Federal, técnica federal de Educação e bibliotecária. Foi diretora da BIML até seu último dia de vida. (Essa pesquisa está no livro Gente da Bahia, de minha autoria publicada em 1998, Editora P&A).
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Um comentário:

dri disse...

Bacana esse post. Acabo de escrever sobre ela aqui https://leituraparacriancas.wordpress.com/2016/11/23/denise-tavares-e-a-biblioteca-monteiro-lobato/