Filho de italianos calabreses e
sicilianos, sob o signo de Virgem com ascendente em Virgem, o sanguíneo Angeli
define-se como ultracontrolador, metódico, meticuloso – daí a paúra ao sentir
que um caminho criativo se esgota: ele mata suas criaturas no auge. Daí ter
parado com as charges “fofas” de personagens controversos como Delfim Netto,
Paulo Maluf e José Sarney, na época em que seu traço reinava na poderosa página
2 da Folha de S.Paulo. “Esses caras estavam ficando muito simpáticos, eu estava
dando espaço demais pra eles”, explica. Daí também ter parado com as charges
para inventar o espaço de tiras adultas em jornais.
Hoje, na Folha, divide esse espaço com
Laerte, Fernando Gonsales, Fabio Moon & Gabriel Bá, além dos discípulos
confessos Allan Sieber, Caco Galhardo e Adão Iturrusgarai. A influência de
Angeli – e seu modus operandi liga/desliga – é gigantesca. Ele editou a revista
de quadrinhos de maior circulação no país, a Chiclete com Banana, que vendia
120 mil exemplares mensais e frutificou nos títulos Circo (de Laerte e Luiz Gê)
e Geraldão (de Glauco), sem falar nos filhos bastardos Animal e General,
lendárias publicações do udigrúdi paulista, e ainda respingou sua semente nos
cariocas Planeta Diário e Casseta Popular. Uma rede de publicações que emana do
espírito multiplamente anárquico do gênio Millôr Fernandes – mentor das Pif-Paf
que Angeli lia alucinado quando criança e do Pasquim, que movimentou sua
adolescência.
A crise pela qual passa Angeli – a ponto
de até mesmo detonar a Série Angeli em Crise – tem fundo estético e emocional.
Cada vez mais, ele prefere resguardar seu fôlego para trabalhos grandes, em
detrimento das tiras-em-três-quadrinhos e da charge. Os personagens das tiras
foram rareando. Mesmo estas transitaram de séries seminarrativas, como
Lovestórias ou Duas Coisas que Eu Odeio e Uma Coisa que Eu Adoro, a retângulos
abstratos, como o Caderno de Esboços ou tiras em que tão somente exibe o traço
inconfundível em retratos de jazzmen ou reproduções dos álbuns favoritos.
Curiosamente, para um cartunista ligado
ao punk e ao rock ‘n’roll, ele diz já não ter o hábito de desenhar ouvindo
música, com ressalva para Bob Dylan, seu ídolo maior (ao lado de Gerald Scarfe
e, é claro, Robert Crumb, ambos desenhistas). Ou seja: ele tem passado horas e
horas em silêncio sobre a amada prancheta - “adoro ficar sozinho”, diz , em
estado de depuração: se de um lado a tira narrativa progressivamente limpou
traço e mensagem, como na série O Imundo Animal, por outro, as charges ganharam
impacto, síntese e conceito.
O artista define seu momento como uma
“dolorosa” revisão. “Estou em plena andropausa. Eu me orgulho muito de ter
resistido ao tempo sem abrir mão de meus ideais. Mas não escondo que estou em
banho-maria”, assume. Para quem conhece sua alma rebelde, é certo que, em
breve, ele vai pular do banho-maria para aumentar o fogo no máximo – sem o
menor medo de se autofritar.
Na década de 1990, Angeli retorna à
charge política na Folha de S. Paulo. Em 1995, a Editora Ensaio reúne algumas
de suas tiras no volume FHC: Biografia Não Autorizada. O cartunista publica
tiras diárias na Folha de S. Paulo e em mais 15 jornais brasileiros, e no
Diário de Notícias, de Lisboa. Seu trabalho ganha cor. Além de charges e tiras,
publica ilustrações, menos narrativas que os desenhos anteriores. Algumas das
tiras desse período são reunidas nas coletâneas Wood & Stock, Sexo É uma
Coisa Suja, Luke e Tantra e Os Skrotinhos, lançadas pela Editora Devir.
O trabalho de Angeli já foi publicado na
Argentina, Espanha, França, Alemanha e Itália. Em Portugal o chargista fez
tanto sucesso que uma editora publicou uma compilação de sua obra. Angeli já
viu seus personagens ganharem animação numa série para a TV, já foi redator do
famoso programa infantil TV Colosso, da Rede Globo e ainda produziu um filme –
Wood & Stock: Sexo, Orégano e Rock’nRoll. O chargista é conhecido por seu
humor anárquico e urbano. Sob essa característica Angeli desenvolveu uma série
de personagens como a famosa Rê Bordosa, uma junkie dos anos 80, Wood &
Sotck, dois hippies que fumaram até os neurônios, o anarquista Meia Oito e seu
parceiro gay enrustido Nanico, Luke e Tantra, duas adolescentes com os
hormônios em fúria, a ninfomaníaca Mara Tara e muitos outros personagens.
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