Há personagens ingratos no cinema: ao
mesmo tempo em que trazem fama e fortuna para os atores que os encarnam, marcam
tão profundamente a vida do artista que o público não consegue mais dissociar
uma coisa da outra. Já falamos de Sean Connery com 007-James Bond, de Sylvia
Kristel com Emmanuelle, entre outros. Agora vamos mostrar outros astros/vítimas
desta confusão personagem/ator e concluir: o preço da fama, como diriam nossos
avós, é caríssimo.
Charles “Carlitos” Chaplin. O criador do
pastelão Mack Sennett quer um tipo engraçado. E Charles Chaplin (1889/1977)
cria Carlitos: calças largas, estilo balão, sapatos enormes, casaquinho justo
ao corpo, chapéu-coco, bengalinha e um pequeno bigode. Os primeiros filmes de
Chaplin faziam a alegria das classes trabalhadoras. O povo vai vê-los para
esquecer a vida dura e rir da dignidade ofendida das classes superiores e seus
representantes. O Vagabundo é a primeira obra prima. O filme identifica
definitivamente o ator com a figura de Carlitos. Além, disso, Chaplin consegue
aumentar a dose de emoção e fica cada vez mais popular.
O segredo do sucesso universal de
Carlitos é que, longe de ser um mito, é um personagem humano, com um lado
malvado e, ao mesmo tempo, com tanta ternura que, às vezes, se deixa levar pela
ilusão. Vida de Cachorro, O Garoto, Luzes da Cidade, Tempos Modernos, O Grande
Ditador entre outros filmes. Durante seus 25 anos de existência, Carlitos foi
um implacável crítico das épocas que atravessou. Na madrugada do Natal de 1977,
Chaplin morre, tranqüilo. Mas Carlitos continua imortal.
Rita “Gilda” Hayworth. Nunca houve uma
mulher como Gilda. Nem como Rita Hayworth (1918/1987). Sua trágica morte não
apaga a lenda de seu filme e personagem de 1946. Acima de tudo, Gilda tem o
brilho, a presença sensual, explosiva e forte de Rita Hayworth. O cinema talvez
ainda não tenha produzido uma cena de erotismo tão deslumbrante como aquela em
que Rita canta (sem dublagem) “Put the Blame on Mame Boys”.
Com um vestido de
cetim negro, ela dança e vai tirando lentamente as luvas, também negras, que
cobrem quase totalmente seus braços. É um strip-tease sutil, apenas sugerido. A
explosão de Gilda nos cinemas derruba tabus. Ela cria um novo tipo de mulher,
“a perdição dos homens”, mas que sabe cair de joelhos diante de um homem capaz
de domá-la e satisfazer seus impulsos.
Johnny “Tarzan” Weissmuller. Tarzan é o
mito cinematográfico de maior duração. Há mais de 60
anos ele é repetido, recriado por vários
atores e diretores e, principalmente, com roupagens que vão do insólito ao
realista.
Criado na literatura por Edgar Rice Burroughs, o personagem tem
fascinado leitores por quase um século, emocionando gerações e gerações nos
livros, depois quadrinhos, passando para o cinema, tevê e até novela
radiofônica. O primeiro Tarzan nas telas foi Elmo Lincoln em 1918. Mas o Tarzan
por excelência é, sem dúvida, o de número seis, Johnny Weissmuller (o primeiro
Tarzan do cinema sonoro, 1932) e o mais duradouro dos atores.
Dos mais de 50 filmes de Tarzan
produzidos até agora, Weissmuller (1904/84) participou de 12, seis para a Metro
Goldwyn Mayer e seis para a RKO. Foram 12 filmes memoráveis e ele foi o mais
famoso Tarzan do cinema. Campeão olímpico, nadador de musculatura perfeita, e tipo
padrão de todos os Tarzans poderosos, é a partir de sua figura que o desenhista
Burne Hogart recriará o personagem nos quadrinhos.
Boris “Frankenstein” Karloff. Em 1918,
com a aparição da novela de Mary Shelley, nasceu o mito de Frankenstein que,
consagrado pelo mundo do cinema, manteve-se vivo até os nossos dias. O texto de
Shelley só ganhou sua versão cinematográfica clássica, intitulada “O Doutor
Frankenstein” – com Boris Karloff (1887/1969), despontando para a fama em 1931.
O filme simplesmente definiu a linguagem do gênero terror. Boris é um caso raro
de astro que foi lançado apenas com o sobrenome Karloff. Já havia feito mais de
20 filmes antes de ser escolhido para ser o monstro Frankenstein. Boris fez o
papel de Múmia, Fu Manchu, Lobisomem, e só ganhou o papel do monstro
Frankenstein quando Bela Lugosi o recusou. Hoje, o monstro não pode ter outra
cara senão a dele.
Buster “Flash Gordon” Crabbe. Flash Gordon, personagem criado em 1934 por Alex Raymond nas histórias
em quadrinhos é levado ao cinema por Dino de Laurentis, em superprodução no
início dos anos 80, não teve o sucesso esperado.
O herói foi interpretado pelo
canastrão Sam Jones. Na década de 30, o herói ganhou sua feição definitiva,
numa série de filmes em que combatia o impiedoso Ming, imperador do Planeta
Mongo.
O ator Buster Crabbe (1907/1983), ex-atleta e que também foi Tarzan em
1933, encontrou a imortalidade fazendo Flash Gordon em três seriados de 1936 a
38, produzidos pela Universal.
E quem se lembra de Anthony Quinn, o
inesquecível Zorba, o Grego, seu papel-símbolo, aquele grego individualista e
entusiasmado.
Ou mesmo Sylvester Stallone que incorporou por diversas vezes o
lutador Rocky e estampou na pele a fúria de Rambo. E o que dizer de Arnold
Schwarzenegger que viveu o truculento guerreiro Conan o Bárbaro.
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