Ele começou cedo. Emplacou seu primeiro
desenho aos 14, na extinta revista Senhor. É autodidata.
Cresceu no bairro da
Casa Verde, na modesta zona norte de São Paulo. Pai funileiro, mãe costureira,
os dois filhos de imigrantes italianos. Anarquistas, graças a Deus? Ao
contrário, uma família conservadora, “daquelas que só pensam em cuidar dos
filhos e em trabalho, trabalho, trabalho”.
Aprendeu a lição (pelo menos essa, já
que foi expulso da escola na quinta série, depois de repetir três vezes, e não
voltou mais): “Me sinto um funileiro na hora de desenhar, sou um proletário”.
Um proletário, diga-se, anterior às conquistas trabalhistas, como a
jornada de
oito horas. Com a insônia que o acompanha desde a adolescência, dorme apenas
quatro horas por dia, e passa praticamente as outras 20 entre pincéis, nanquim
e, no momento de colorir, computador.
Quando a ditadura acabou e Angeli já não
via tanta graça em debochar da política, desviou seu foco do Planalto Central
para as ruas de São Paulo. Criou com o amigo de infância Toninho Mendes a
revista bimestral Chiclete com banana – na época, apenas uma canção do
repertório de Jackson do Pandeiro, que tropicalistas transformaram em símbolo
de miscigenação de ideias, nada a ver com grupo baiano de axé. Em páginas de
papel tosco, personagens como Rê Bordosa, Bob Cuspe, Wood & Stock, Walter
Ego e Os Skrotinhos protagonizaram, entre 1985 e 1990, a insana história da
vida privada brasileira.
Angeli seguia um roteiro parecido. Mesmo
em meio à loucurinha de sexo, drogas e rock’n’roll, deu
um jeito de se casar
três vezes. A primeira vez, com uma ex-colega de escola, durou quatro anos. A
segunda rendeu 18 anos de união e dois filhos – Pedro, 29, faz parte do coletivo
audiovisual Embolex, e Sofia, 25, dá aulas de educação física para crianças. O
terceiro, com Carol, está completando 13 anos. Carolina de Carvalho, 33, é
formada em arquitetura, trabalha com design gráfico e, como ela mesma diz,
“cuida do rapaz”.
No apartamento de dois quartos onde mora
e trabalha, no bairro paulistano de Higienópolis, Angeli conversou com a Trip
entre cafés, cigarros e, como ninguém tem mais 20 anos, pães de queijo.
Pendurado na sala, um pôster reproduz uma tira da série “Angeli em crise”. Lá
está o avatar do cartunista, olhando a cidade pela janela. No primeiro
quadrinho, ele se gaba: “Carros, edifícios, fumaça... Esta cidade eu conheço
muito bem”. No seguinte, a cidade retruca: “Babacão, canalha, bicha,
mau-caráter, panaca, tarado!”. E o terceiro conclui: “... e ela a mim, é
claro”. Angeli zoa até Angeli.
Nenhum presidente escapou incólume do
seu traço. Por meio dos pincéis do cartunista paulistano Angeli, José Sarney
virou um ator mexicano de segunda categoria, Fernando Collor surgiu envergando
uma faixa presidencial feita de correntes de ferro, Itamar Franco teve
comentadas suas propagadas limitações intelectuais e Fernando Henrique Cardoso,
sua ilimitada vaidade. Mas foi com o presidente Lula que o artista se superou.
A coleção de mais de 200 charges produzidas desde o início do governo petista,
em janeiro de 2003, traça um perfil devastador da era Lula – que Angeli, ao
contrário da maioria de seus colegas, acompanhou com olhos críticos desde o
primeiro dia.
"Humor a favor não é comigo. Deixo isso para os
publicitários", diz.
(...) “Agora, ficar desenhando
ministrinho, secretariozinho, deputadozinho....Estou fazendo essa charge pra
ninguém, o leitor comum não sabe a cara do ministro da Agricultura, do senador
pelo Acre. Então, a minha saída é tentar fazer sempre uma charge ampla e, de
preferência, sem o político, mas que fale de política. Charge para quem não lê
política, mas sente os efeitos delas”, informou no Caros Amigos (20001).
“Acho que o chargista, o humorista,
quando assume um lado e fala ´com aquele eu não mexo..´, ou então coloca o
trabalho a serviço de uma ideologia, ele deixa de fazer humor e passa a fazer
propaganda, que não é o meu talento. Gosto de atirar para todos os lados” (...)
“Político é difícil você admirar. A política é a arte das segundas intenções,
ou é o poder, ou é viabilizar algum projeto, ou ideia política, sempre tem um
discursinho embutido em outro”.
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