15 outubro 2021

Amor de mar, amor Odemar (12)

Complexidade da vida

 

A tristeza ainda está instalada por todos os meus poros. Sei que o amor só existe com a esperança. Enquanto existe um fio de esperança na gente, não tem como esquecer. È  difícil se acostumar com essa vida vazia. Ocupo minha cabeça procurando atividades novas para fazer. Ele era minha confiança, minha emoção, segredos e dia a dia. A vida fluía como um rio tranquilo, sem susto. Quando nossos olhares se cruzavam e ele estampava aquele sorriso meigo, tudo era azul. Não havia tempestade. Era uma rotina prazerosa. Eu com meus livros, quadrinhos e filmes e ele com sua variada gastronomia e essa aura iluminada em ajudar ao próximo. Era uma pessoa intensa com toda sua complexidade.

 

Ele tinha

uma fragilidade

que nos prendia.

Ele tinha

um carisma

que nos aproximava.

Ele tinha

uma timidez

que encantava de vez.

Ele tinha

uma gastronomia

que a todos unia.

Ele tinha

um olhar

somente para amar.

 

No relato de memórias da paulistana/baiana Sonia Martins:Não é fácil recordar e escolher as palavras para contar nossa amizade de 37 anos!!! Me mudei para Salvador no final de 1983, através do meu trabalho conheci Gutemberg, que trabalhava no caderno cultural do Correio da Bahia, eu enviava a programação e o material de divulgação de uma rede de cinemas. Logo nos conhecemos pessoalmente nas pré-estreias promovidas pela rede de cinemas. Em meados de 1984 voltei à São Paulo e não consigo me lembrar bem quando essa amizade começou a se estreitar.


 

“Depois me lembro de várias férias que tive o prazer de passar em Salvador, sempre hospedada em sua casa. Sempre muitas conversas e histórias, passeios, eu sempre descobrindo detalhes e encantos que só os moradores conhecem e eu tinha o privilégio de tê-lo me guiando e me apresentando a cidade.

 

“Atravessar a Praça Castro Alves, em pleno Carnaval, protegida por ele e Gutemberg, também tive o privilégio de viver e tem uma vivacidade em minha memória, assim como amanhecer na Praça para ver o encontro dos blocos na 4f de cinzas, toda essa magia da Bahia me foi apresentada por ele e seu amor pela folia e pelas festas de largo. Me lembro de como ele reclamava de como eu comia pouco, de que ninguém podia viver de alfaces, de como me mimava fazendo biscoitos de nata, farofa de cenoura, cuscuz e tudo mais que descobrisse que eu gostava de comer, E os maravilhosos acarajes e abaras que buscava na casa de Edina - pra mim!! De sua preocupação quando eu me demorava em retornar da praia.....

 

“E as recordações de suas visitas aqui em Sampa, na primeira vez, apesar de já ser final do inverno - ele detestava o frio - e fez muito - e ele pode curtir a noite todo encasacado, com peças confeccionados por ele. Nossas andanças pela noite paulistana - preferencialmente na cena underground -  e de como nos divertimos!

 


“Depois de alguns anos em que nos visitamos menos, retorno à Salvador em dezembro de 1999 para as férias de verão, agora com meu filho, na época com quase 3 anos. Imaginem dias deliciosos, imaginem um menino ocupando toda atenção e mimos possíveis. Nossos passeios pelo Pelourinho, mercado modelo e o encantamento do Arthur pelos tambores, pela capoeira fazia Odemar brincar comigo que eu nutria um amor tão grande pela Bahia que de alguma forma já tinha transmitido pro Arthur,

 

“Não me esqueço das broncas que tomei - estava tirando as fraldas de Arthur - e Odemar me dizia que eu enchia o saco que devia deixá-lo fazer xixi tranquilamente sem a neura do banheiro. Passamos dias lindos tanto em Salvador quanto na praia de Jauá, onde passamos a virado do ano.

 

“Retornamos mais em outras férias de verão e sempre curtíamos dias incríveis, poucos dias na cidade e corríamos para curtir o maravilhoso Recanto do Vento. Os dias vividos em Barra de Jacuipe, fazem parte das felizes lembranças da infância de Arthur. Sempre muito carinho, mimo, muita praia, piscina, brincadeiras, me lembro deles - Dema e Arthur - fazendo peixinhos e borboletas com as conchas pegadas na praia. Lembro-me dos fogos soltados na comemoração da vitória de Lula e do encantamento tanto de Odemar quanto de Arthur pelos fogos, ele brincava tão intensamente que se tornava um menino.

 

“Nossas conversas na rede ao final da tarde com o vento soprando, mas ele logo - inquieto como era- ia fazer alguma coisa: plantar, cuidar das flores, das frutas, do jantar.....Não sei se essas palavras conseguem descrever nosso vínculo e descrever como era esse homem incrível. Os poemas de Gutemberg o fazem com maestria. Um enorme abraço aos amigos e família, que nosso carinho por ele possa aquecer o coração de todos. (Sonia Elizabeth Martins)

 

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