Complexidade da vida
A tristeza ainda está instalada por todos os
meus poros. Sei que o amor só existe com a esperança. Enquanto existe um fio de
esperança na gente, não tem como esquecer. È difícil se acostumar com essa vida vazia.
Ocupo minha cabeça procurando atividades novas para fazer. Ele era minha
confiança, minha emoção, segredos e dia a dia. A vida fluía como um rio
tranquilo, sem susto. Quando nossos olhares se cruzavam e ele estampava aquele
sorriso meigo, tudo era azul. Não havia tempestade. Era uma rotina prazerosa.
Eu com meus livros, quadrinhos e filmes e ele com sua variada gastronomia e
essa aura iluminada em ajudar ao próximo. Era uma pessoa intensa com toda sua
complexidade.
Ele tinha
uma fragilidade
que nos prendia.
Ele tinha
um carisma
que nos aproximava.
Ele tinha
uma timidez
que encantava de vez.
Ele tinha
uma gastronomia
que a todos unia.
Ele tinha
um olhar
somente para amar.
No relato de memórias da paulistana/baiana
Sonia Martins: “Não é fácil recordar e
escolher as palavras para contar nossa amizade de 37 anos!!! Me mudei para
Salvador no final de 1983, através do meu trabalho conheci Gutemberg, que
trabalhava no caderno cultural do Correio da Bahia, eu enviava a programação e
o material de divulgação de uma rede de cinemas. Logo nos conhecemos
pessoalmente nas pré-estreias promovidas pela rede de cinemas. Em meados de
1984 voltei à São Paulo e não consigo me lembrar bem quando essa amizade
começou a se estreitar.
“Depois me lembro de várias férias que tive o
prazer de passar em Salvador, sempre hospedada em sua casa. Sempre muitas
conversas e histórias, passeios, eu sempre descobrindo detalhes e encantos que
só os moradores conhecem e eu tinha o privilégio de tê-lo me guiando e me
apresentando a cidade.
“Atravessar a Praça Castro Alves, em pleno
Carnaval, protegida por ele e Gutemberg, também tive o privilégio de viver e
tem uma vivacidade em minha memória, assim como amanhecer na Praça para ver o encontro
dos blocos na 4f de cinzas, toda essa magia da Bahia me foi apresentada por ele
e seu amor pela folia e pelas festas de largo. Me lembro de como ele reclamava
de como eu comia pouco, de que ninguém podia viver de alfaces, de como me
mimava fazendo biscoitos de nata, farofa de cenoura, cuscuz e tudo mais que
descobrisse que eu gostava de comer, E os maravilhosos acarajes e abaras que
buscava na casa de Edina - pra mim!! De sua preocupação quando eu me demorava
em retornar da praia.....
“E as recordações de suas visitas aqui em
Sampa, na primeira vez, apesar de já ser final do inverno - ele detestava o
frio - e fez muito - e ele pode curtir a noite todo encasacado, com peças
confeccionados por ele. Nossas andanças pela noite paulistana - preferencialmente
na cena underground - e de como nos
divertimos!
“Depois de alguns anos em que nos visitamos
menos, retorno à Salvador em dezembro de 1999 para as férias de verão, agora
com meu filho, na época com quase 3 anos. Imaginem dias deliciosos, imaginem um
menino ocupando toda atenção e mimos possíveis. Nossos passeios pelo Pelourinho,
mercado modelo e o encantamento do Arthur pelos tambores, pela capoeira fazia
Odemar brincar comigo que eu nutria um amor tão grande pela Bahia que de alguma
forma já tinha transmitido pro Arthur,
“Não me esqueço das broncas que tomei - estava
tirando as fraldas de Arthur - e Odemar me dizia que eu enchia o saco que devia
deixá-lo fazer xixi tranquilamente sem a neura do banheiro. Passamos dias
lindos tanto em Salvador quanto na praia de Jauá, onde passamos a virado do
ano.
“Retornamos mais em outras férias de verão e
sempre curtíamos dias incríveis, poucos dias na cidade e corríamos para curtir
o maravilhoso Recanto do Vento. Os dias vividos em Barra de Jacuipe, fazem parte
das felizes lembranças da infância de Arthur. Sempre muito carinho, mimo, muita
praia, piscina, brincadeiras, me lembro deles - Dema e Arthur - fazendo
peixinhos e borboletas com as conchas pegadas na praia. Lembro-me dos fogos
soltados na comemoração da vitória de Lula e do encantamento tanto de Odemar
quanto de Arthur pelos fogos, ele brincava tão intensamente que se tornava um
menino.
“Nossas conversas na rede ao final da tarde com
o vento soprando, mas ele logo - inquieto como era- ia fazer alguma coisa:
plantar, cuidar das flores, das frutas, do jantar.....Não sei se essas palavras
conseguem descrever nosso vínculo e descrever como era esse homem incrível. Os
poemas de Gutemberg o fazem com maestria. Um enorme abraço aos amigos e
família, que nosso carinho por ele possa aquecer o coração de todos. (Sonia Elizabeth
Martins)
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