19 outubro 2021

Amor de mar, amor Odemar (16)

 

“Se lembra quando a gente chegou um dia a acreditar/Que tudo era pra sempre/Sem saber/

Que o pra sempre/acaba...” (Por Enquanto (Renato Russo)

 

“Eu vim/Vim parar na beira do cais/Onde a estrada chegou ao fim/Onde o fim da tarde é lilás/Onde o mar arrebenta em mim/O lamento de tantos "ais".”(A Paz, Gilberto Gil e João Donato)

 “Amores são águas doces/paixões são águas salgadas/queria que a vida fosse/essas águas misturadas” (Memórias das Águas, Roberto Mendes e Jorge Portugal)



“Odemar era carinhosamente chamado pelos amigos de Dema, uma pessoa alegre e divertida. Nos dias de bebida no bar com a turma nos distraia com suas histórias e seu humor. Chamava a gente de `biba` (viado) e nos fazia rir. Nesse período de Covid nos deixou abrindo uma grande saudade e um vazio para a turma do álcool. Deixou boas lembranças que nunca será esquecido. Da última vez que vi passeava com a cachorrinha dele da qual não deixava ninguém chegar perto. Um jeito único de ser e de fazer a gente sorrir. Com sua fisionomia que lembrava Renato Russo, assim é a imagem que tenho dele. Irônico e verdadeiro e sem papas na língua, falava o que pensava, pois melhor seria não brincar com a língua dele. Boa pessoa´´ (Andre Luis Rodrigues Santos, autônomo).

 


Arredio!

 

Nós nos respeitávamos. Ele era um artesão que sabia como viver bem sem fama e sem dinheiro. Mas sabia viver, livre, leve e solto. Eu, por outro lado, um pouco mais pesado (pesadíssimo, estressado e ansioso como quase todo jornalista), sobrecarregado, responsabilizado. Tendo uma família conflituosa onde tento pesar os pros e contra. Mas Dema me fazia sair daquele meio e me aprofundar naquilo que amo – os quadrinhos, cinema, música e literatura, as artes. No  tempo em que vivíamos juntos ele sabía tudo  sobre minha família, participava, ajudava, interagia. Já sobre a família dele, era tudo mistério. Pouco se sabe ou sabia. Parece que ele gostava e manter a família distante. So ocasionalmente via (final de ano, por exemplo). Conquista? Esqueceu, dizia que odiava frio! Ele era arredio (como definiu uma criança paulistana, filho de Sonia), não tocava no assunto. Eu, por outro lado, também não tinha lá muitos interesses, já andava ocupado demais com o trabalho, e o tempo que restava era para ficarmos juntos. E assim, se passaram 40 anos...quatro décadas de aventuras, desafios, risos e choros, abraços, muitos abraços (mesmo ele sendo aquela pessoa que não gostava do tipo que conversava pegando nele, detestava, ou mexendo nas panelas enquanto cozinhava). Adorava beber uma cervejinha como todo brasileiro. Eu sempre odiei bebida, mas batava um gole e já estava grogue...Agora, de olho no passado, noto que tudo passou tão de repente...como num piscar de olhos. A vida é assim, breve como um sopro

 

Você sempre foi

meu abrigo,

meu amigo,

meu amor antigo,

meu bem maior

e mais bonito,

parecia ser infinito,

mas você ganhou asas

e sumiu, sem pena.

Virou poema.

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