14 outubro 2021

Amor de mar, amor Odemar (11)

 

“Quer dizer de uma pessoa que ouvimos falar pela primeira vez por nosso amigo Gugu? Dema, era assim que ele o chamava e todos nós aprendemos a chamá-lo assim também, mas quando Gugu estava aborrecido com ele por qualquer motivo o chama de Odemar (como estas coisas estão vivas em minha mente). Dema era um `ser´ único como todos nós, mas assim como nós, tinha suas características peculiares. Amigo de toda a criação divina, animais, plantas e do `ser humano´.

 

“Quando o vi presencialmente pela primeira vez (pois já o conhecia há muito pelas lentes de Gugu), lembrou - me as feições de um "anjo" pois apesar de adulto tinha cachinhos descendo pela sua testa, um sorriso de criança e a voz meio gozadora com um sotaque bem interior ano, um ar de timidez  que camuflava um espírito vivaz, experiente e sábio, com um olhar desconfiado que nos fitava profundamente como a querer nos dizer "sei o que você está pensando”. Com o tempo fui conhecendo seu lado prestativo, caridoso, despretensioso e serviçal, não serviçal no sentido de se curvar aos arrogantes e sim auxiliar àqueles que de fato necessitavam  de uma "mão amiga".


 

“Além de todas as virtudes e qualidades que era portador ainda não citei suas mãos de fadas para preparar alimentos, ótimo cozinheiro e doceiro, me paladar foi agraciado muitas vezes por lanches levados para nosso local de trabalho por Gugu, como: cocadas, bolos de vários tipos, cuscus de tapioca, doces diversos etc. Hj só em lembrar destas delícias fico com a "boca cheia d'água" e agradecida por ter tido a oportunidade de degustá-los.

 

“Lembro de certa vez ter ido visitá-lo no hospital por conta de uma cirurgia e passamos uma tarde agradável, nós dois, eu e Dema, pois o nosso Gugu parecia um vulcão preste a explodir de tanta ansiedade e Dema, rindo pedia para ele se acalmar, uma cena hilaria que guardo com carinho na minha memória, a cena de um amigo preocupado com a saúde do outro e o enfermo preocupado com a agonia do que estava saudável, uma demonstração de solidariedade recíproca. Odemar Alves e Gutemberg Cruz, foram amigos, companheiros irmãos aqui na terra e assim serão por toda a eternidade, pois onde Dema estiver tenho certeza que estará ajudando Gutemberg a conduzir sua Cruz, como sempre fazia aqui na terra”. (Lucia Maria Carvalho, amiga)

 


O amigo Fernando Moraes escreveu: Conheci Odemar no começo dos anos 90. Ele gostava de andar pelo bairro inteiro da Saúde, onde moramos e por isso conhecia muitos vizinhos. Nosso encontro se deu numa festa de uma conhecida, a quem chamávamos de Música. Era aniversário dela. Era uma festa bem reservada, para poucos convidados. Entre um papo aqui e outro vi que Odemar adorava filmes. Ficamos conversando sobre erros de cenas de filmes clássicos. A gente se divertiu relembrando gafes históricas da sétima arte.

 

“Meu pai era fã apaixonado por histórias quadrinhos e acompanhava uma coluna do jornalista Gutemberg Cruz que comentava sobre as HQS. Me pai havia dito que Gutemberg morava no nosso bairro. Eu também era fã de quadrinhos. Descobri onde o Gutemberg morava e fui até o seu apartamento conhecer sua coleção de revistas e de discos. Ao apertar a campainha, quem abra a porta? O Odemar! Já fiquei feliz em saber que tinha um amigo para me recepcionar. Adentrei no apartamento e ele me apresentou ao Gutemberg. Ficamos horas os três conversando. Odemar me convidou para almoçar com eles no dia seguinte e eu fui.

 

“Dentre tantas qualidades do ser humano que era o Odemar, ele também sabia cozinhar como ninguém. Ele mandava hiper bem na culinária e no artesanato. Quando soube que ele era um exímio artesão, pedi para que ele ensinasse a minha ex-mulher a aprender patinas e outras técnicas. E assim ele fez. Lembro que na primeira aula, um pedaço de madeira entrou no dedo da mão de minha ex-mulher. Tranquilamente, Odemar olhou a cena e disse a ela, que aquilo era a arte entrando no corpo dela. Morri de rir quando ela me contou isso!

 

“Os aos foram se passando e minha amizade cresceu com a dupla Odemar e Gutemberg. Adorava conversar com eles. Eu via mais o Odemar, porque sempre nos encontrávamos pelo bairro e a cada encontro, um bate papo. Passaria dias aqui escrevendo os momentos em que tive o privilégio de conhecer essas duas figuras maravilhosas. Incríveis parceiros. Era incrível a dedicação que o Odemar tinha pelo Gutemberg. Mesmo brincalhão, como era viso aqui no bairro, ele nunca admitiu que se mencionasse uma única ofensa ao Gutemberg. Tinha o maior respeito pelo parceiro.

 

“Ao tomar conhecimento da sua partida, em alguns segundos, um filme passou pela minha cabeça. Custei a acreditar. A ficha ainda está caindo aos poucos. É difícil aceitar a partida de uma pessoa tão cheia de vida, sem nenhum apego a nada material, que amava os animais e os amigos. Sabemos que a morte é a única certeza de que todos nós teremos um dia. Todo mundo irá morrer um dia. Mas, pessoas como Odemar, poderia ter ficado mais um tempo aqui ainda entre nós. Encerro desejando que vá em paz meu amigo e que Deus lhe dê o merecido descanso. Você merece. (Fernando Moraes, amigo)

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