12 outubro 2021

Amor de mar, amor Odemar (09)

 

Depoimento de outra sobrinha, Jeane: “Falar do meu Tio Penguê não é uma tarefa, acredito que eu iria precisar de todas as folhas deste mundo e ainda assim, não seria possível descrever todo o carinho, amor e admiração que sempre sentir por ele. Hoje ele ainda vive dentro de mim com a mesma alegria que ele sempre nos deu. Basta pensar nele, que um bloco de carnaval pede passagem, o bloco mais colorido e brilhante que já vi. Basta pensar nele que eu consigo ouvir a sanfona do São João tocar aquele arrasta pé que tanto o fez dançar. E por falar em dançar... foi ele que me ensinou a sambar.

 

As ruas entre a Salgado Filho e o bairro Guarani guardam momentos mais que especiais que vivemos juntos. Ainda sinto suas mãos incansáveis arrumando aquele laço de fita teimoso que nunca ficava em meu cabelo. Meu brinquedo favorito era um carneiro de rodinhas que eu o fiz pegar na rua, ainda consigo vê-lo no fundo do quintal lavando-o para mim. Com pequenos gestos ele fazia de tudo para me ver feliz e isso ficará para sempre em minha memória.

 

Tantas coisas me fazem lembrá-lo, todo aquele artesanato que com tanto capricho saia de suas mãos; as cerâmicas, os tamancos, as bolsas, os cintos, porta-retratos, as tintas dos vitrais tão vibrantes quanto a energia que emanava dele. Me lembro também quando lançou aquele grupo secos e molhados, ele fez aquela maquiagem idêntica a capa do LP que foi lançado na época. Até o cheiro do betume me faz lembrar do seu talento, ele conseguia fazer coisas lindas apenas com pedras e bolas de gudes.

 


Não dá nem para mensurar o quanto dele vive em mim! Nos meus dias nublados encontrava nele o meu refúgio, acho que por isso estava sempre acompanhando ele, estava sempre perto dele... eu era o seu girassol e ele o meu sol. Pude trabalhar com ele e aprendi muito com ele. Herdei dele o gosto pelas cores, pela decoração, pelo detalhe, pelo capricho. Com ele vivi tantas coisas! Pude sentir o vento batendo no rosto num passeio de carroça pela cidade. Pude sentir o ardor no peito de um trago de cigarro, que me fez entender por que aquilo não era bom para mim. Pude me sentir uma gigante quando ele me carregava nos ombros e me fazia ver ainda mais longe.

 

Guardo em meu coração memórias de tudo que ele fez por mim. A primeira vez que fui a Salvador ele me deu meu primeiro biquíni, nunca me esquecerei, feito com um tecido estampado, tão bem-feitinho. Depois fez um biquíni rosa todo trançado nas laterais era uma rosa bem bonito, ele fazia umas tinturas lindas nos tecidos. Me ajudou em um trabalho de artes da escola, que eu acabei fazendo mais para vender, eram colares, pulseiras e tornozeleiras com conchinhas e cordões coloridos que ele fez questão de pintar com muito carinho. Eu já era casada quando ele me presenteou com um vestido para um réveillon. Enfim ele sempre cuidou de mim.

 

Claro que as nossas vidas fazem constantes correções de rotas e numas destas correções ele foi morar em Salvador, mas o seu cuidado comigo nunca mudou. Passei a ir visitá-lo lá sempre que podia. Ele me levava para passear e dava para ver o quanto ele era querido por seus amigos, em todos os lugares que chegávamos, ele sempre era recebido com muito carinho e a minha admiração por ele só crescia. Nós por aqui esperávamos sempre por ele vim passear, pois era sempre uma festa! As iguarias que ele fazia eram deliciosas. Era muito talento em uma pessoa só, era ele que fazia os bolos dos momentos especiais que vivemos em família.

 


Escrever sobre ele me faz lembrar que de todo amor que eu tenho, uma parte foi ele que me deu. Como diria Maria Gadu, peço a Deus que me mostre agora um caminho, um jeito de estar sem ele. Ó, meu pai do céu, vai chegar aí o meu tio, um rei, precisando descansar, quando ela chegar Tu me faças um favor, cuida dele com muito carinho e amor. (Jeane)

 

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