Logo que conheci Odemar senti que gostava
dele. Foi irresistível. Não do jeito que um amigo gosta do outro, mas de um jeito
que alguém do outro, por interesse que vai além da amizade. Brota no íntimo da
alma e chega à flor da pele feito fruta do desejo intenso. E faz o corpo querer
mais e mais. Como se um imã dentro de mim me atirasse a você. Esse interesse
por você vai além da amizade. No início nada sabia do amor, estava longe disso.
A caminhada seria longa, uma travessia. Muitos condenam esse tipo de
relacionamento. Mas o que é normal nessa vida? O que é certo e errado nessas
coisas de amar e amor?.
No início eu mesmo fiquei assustado quando
descobri dentro de mi uma alma diferente e que meu interesse não era por uma
outra, mas por um outro. Quando você chegava na estação rodoviária, vindo de
Vitória da Conquista, lá estava eu a lhe esperar, aflito. Tive vontade de ficar
mais perto de você, sentir seu corpo, seu hálito, enfim fazer parte de sua vida
por inteiro, da forma mais íntima possível, como se não tivesse nada para nos
separar.
Parecia que estávamos predestinado a ser
mais um casal lendário no mundo, desses que têm os nomes ligados para sempre:
Romeu e Juliets, Tristão e Isolda, eu e você... Parece até coisa de novela, mas
era a realidade acontecendo a cada minuto, segundo... Eu sei que não posso
mudar o seu passado, mas quero fazer parte de seu futuro. Esse era o meu pensar
naquele instante.
Mas não foi fácil não. O primeiro dia que
o encontrei em uma festa de um amigo, ele acabou, depois de muita insistência
minha, dormindo em minha casa. Bêbado, não aconteceu nada. Pela manhã fiz o
café com pão. Ele detestou e disse que eu era péssimo na cozinha. Foi no local
e preparou um café perfeito, rápido e delicioso. Fiquei admirado.
Fazia algum tempo que eu vivia isso.
Disfarçava quando podia e quanto a vida exigia de mim, mas foi só quando lhe
encontrei que foi ficando mais claro o meu desejo e sentimento enjaulado.
Descobrira em você minha identidade amorosa.
Ficava pensando no poema de Manoel
Bandeira, Neologismo que viajava pelos sentidos das palavras “beijo pouco, falo
menos ainda/Mas invento palavras (...) inventei, por exemplo, o verbo
teadorar/Intransitivo/Teadoro, Teodora”. Cazuza também inventava. Ele inventou
amores, o “nosso amor a gente inventa pra se distrair”.
E foi naquele verão
quente que fomos a praia e nos descobrimos....
Sem pedir licença ele entrou
na minha vida. Por um longo instante, percebi que na trajetória das pessoas há
muitos esconderijos, pontos nebulosos, inquietantes. Ninguém fica impune aos
sentimentos humanos. Na escola ninguém estava preparado para discutir o assunto
pois o preconceito inundava tudo. Era impossível encontrar alguém pronto a
entender esse tipo de sentimento que não se enquadra dentro do padrão regular,
normal (?!) aceito. Estamos falando dos anos 1970. Havia risos disfarçados,
comentários irônicos e atitudes agressivas. Em casa, nem pensar. Ninguém estava
preparado para escutar a voz do coração. As pessoas das famílias vêm tudo
enviesado e torto, e acabam não entendendo que algumas pessoas do mesmo sexo,
podem até se gostar. De um outro jeito. Algo sério, comprometido.
Nenhum comentário:
Postar um comentário