25 janeiro 2021

Panorama da cultura popular numa Bahia singular/plural

 

Manifestando na sua cultura através das lendas, crenças, canções, danças, costumes as comunidades do interior baiano vão reunindo um conjunto de tradições e de conhecimento de um povo. Essa tradição passa de pai para filho até chegar aos dias atuais. Do maculelê a dança dos caboclos, da capoeira ao samba de roda, dos cantadores de feira aos aboios de vaqueiros, da cavalgada (onde o cavaleiro tipicamente caracterizado traz o estandarte de São João, dando início os festejos juninos) até a mulinha de ouro. Todos têm um ritual característico.

 



A Bahia é um dos estados que mais valoriza as manifestações públicas do folclore. Festas religiosas ou não, procissões, danças e representações que exteriorizam as crenças e os costumes de um povo. A grande maioria dessas manifestações são religiosas, outras apresentam os costumes dos escravos, a resistência contra a escravidão, a cultura indígena. As manifestações folclóricas funcionam como berço da arte e cultura baiana.

 

As cantigas que acompanham as atividades produtivas manuais, sobretudo agrícolas, são destaques no sertão (Araci, Amargosa, Santa Bárbara, Serrinha, Riachão do Jacuípe e Uauá), Chapada (Morro do Chapéu e Utinga). Embaladas pelas músicas, as pessoas exercitam sua capacidade de expressão política, improvisando versos e entoando canções. Há cantos de colher e pilar café, cantos de farinhada, de lavadeiras, aboios livres, bois de roça cantados nos mutirões para as roças do plantio e colheita de cereais, as batas de feijão e milho, entre outros.

 

Já a dança de São Gonçalo é uma festa em torno desse santo português tido como festeiro, tocador de viola, protetor das meretrizes e das parturientes. Em Carinhanha e Paratinga, além de outras cidades do Vale do São Francisco ela é marcada pela percussão de pequenos tambores artesanais e pelas coreografias que as dançadeiras fazem com arcos enfeitados com fitas. As danças que acontecem próximas de Salvador têm como marca o samba de roda.

 


SANTOS - As festas em homenagem aos santos gêmeos nas cidades de Jequié, São Francisco do Conde e Irará são feitas em torno do caruru tradicionalmente oferecido a sete meninos. E nessa festa que acontece o Lindroamor, nome da bandeira (ou rancho) de foliões que percorre ruas das cidades e vilarejos e trilhas e estradas das roças arrecadando donativos para as festas em homenagem aos santos Cosme e Damião.

 


A Festa do Divino é realizada 40 dias após a Páscoa e celebra a coroação de D.Pedro I. Tem como figura simbólica o Imperador do Divino, geralmente um menino escolhido na cidade o qual é coroado durante o ato da celebração religiosa. Ao culto litúrgico conjugam-se velhas tradições de caráter popular – filarmônicas, desfile de trajes tradicionais, e aspecto folclórico como a marujada, fincada do mastro, levada da lenha e o jarê. A festa do Divino Espírito Santo é um acontecimento religioso/popular que se encontra em quase todos os municípios baianos. Em alguns deles, a festa conserva características grandiosas que foi a sua marca no Brasil Colônia, quando eram organizados pelas irmandades religiosas com muita bebida e comida, procissões, coroação do Imperador Divino, soltura de pesos e a exibição de folguedos tradicionais. Nas cidades de Andaraí, Jacobina e Carinhanha a festa é animada pela dança dos Caboclos. Em Poções é a maior festa da cidade.

 


SAGRADOS - Costume milenar de consagração de territórios por meios de mastros enfeitados, os Mastros Sagrados e Profanos tem em Olivença (Ilhéus) seu ponto alto que ainda hoje a festa guarda elementos da tradição indígena. Durante todo o percurso, uma banda de pífanos acompanha o esforço hercúleo realizado pelas pessoas que vão cortar a árvore e puxar o mastro. Em Andaraí, na Chapada, a puxada do mastro recebe o nome de Rabeia e o grande momento da festa acontece durante a noite, depois do tronco ter sido enfeitado com flores e folhas durante o dia. Dezenas de pessoas jogam o mastro nos ombros e conduzem-no até a praça da igreja. A festa acontece ainda em Rio de Contas e Utinga.

 


Outra manifestação relacionada com mastros de santos é o trança-fitas ou pau-de-fita como se vê nas cidades do Rio de Contas, Utinga e Andaraí. Zabiapunga é o grupo de caretas (mascarados) que faz um cortejo de madrugada, dançando e acordando a cidade com um som atordoante, tirado de enxadas, tambores, cuícas e búzios. No litoral baixo sul (Nilo Peçanha, Taperoá e Cairu) e no Recôncavo (Santo Amaro e Saubara) a festa tem a participação de toda a comunidade. Já o Macatum Zê-zê é uma brincadeira carnavalesca derivada dos antigos quilombos encenada em praça pública em Mucugê. É representada por figuras fantasiadas que aludem a pestes e doenças, desemprego, inflação.

 


A Lamentação das Almas é um ritual religioso das noites de sexta-feira da Quaresma. Os participantes cobrem-se com lençóis brancos para não serem identificados. Vagueiam pelas ruas batendo matracas, rezando e entoando cantos fúnebres. São apresentados em vários municípios. A Festa de Nossa Senhora da Boa Morte na cidade de Cachoeira preserva ainda hoje seus traços característicos, individualizados, marcados pelo sofrimento de um povo que lutou para alcançar a sua liberdade. E é exatamente este o significado da celebração, o agradecimento a Nossa Senhora, pela liberdade conseguida a duras penas, com a realização de várias cerimônias, culminando com a assunção de Nossa Senhora. (Texto dolivro Bahia, um estado d´alma que publiquei em 2009)

 

Um comentário:

Unknown disse...

Oi Guto.Tanto procurei que acabei encontrando. Parabéns pelo Blog e por sua contribuição ímpar a nossa Bahia. Grande abraço