Manifestando na sua cultura
através das lendas, crenças, canções, danças, costumes as comunidades do
interior baiano vão reunindo um conjunto de tradições e de conhecimento de um
povo. Essa tradição passa de pai para filho até chegar aos dias atuais. Do
maculelê a dança dos caboclos, da capoeira ao samba de roda, dos cantadores de
feira aos aboios de vaqueiros, da cavalgada (onde o cavaleiro tipicamente
caracterizado traz o estandarte de São João, dando início os festejos juninos)
até a mulinha de ouro. Todos têm um ritual característico.
A Bahia é um dos estados que mais
valoriza as manifestações públicas do folclore. Festas religiosas ou não,
procissões, danças e representações que exteriorizam as crenças e os costumes
de um povo. A grande maioria dessas manifestações são religiosas, outras
apresentam os costumes dos escravos, a resistência contra a escravidão, a
cultura indígena. As manifestações folclóricas funcionam como berço da arte e
cultura baiana.
As cantigas que acompanham as
atividades produtivas manuais, sobretudo agrícolas, são destaques no sertão
(Araci, Amargosa, Santa Bárbara, Serrinha, Riachão do Jacuípe e Uauá), Chapada
(Morro do Chapéu e Utinga). Embaladas pelas músicas, as pessoas exercitam sua
capacidade de expressão política, improvisando versos e entoando canções. Há
cantos de colher e pilar café, cantos de farinhada, de lavadeiras, aboios
livres, bois de roça cantados nos mutirões para as roças do plantio e colheita
de cereais, as batas de feijão e milho, entre outros.
Já a dança de São Gonçalo é uma
festa em torno desse santo português tido como festeiro, tocador de viola,
protetor das meretrizes e das parturientes. Em Carinhanha e Paratinga, além de
outras cidades do Vale do São Francisco ela é marcada pela percussão de
pequenos tambores artesanais e pelas coreografias que as dançadeiras fazem com
arcos enfeitados com fitas. As danças que acontecem próximas de Salvador têm
como marca o samba de roda.
SANTOS - As festas em homenagem
aos santos gêmeos nas cidades de Jequié, São Francisco do Conde e Irará são
feitas em torno do caruru tradicionalmente oferecido a sete meninos. E nessa
festa que acontece o Lindroamor, nome da bandeira (ou rancho) de foliões que
percorre ruas das cidades e vilarejos e trilhas e estradas das roças
arrecadando donativos para as festas em homenagem aos santos Cosme e Damião.
A Festa do Divino é realizada 40
dias após a Páscoa e celebra a coroação de D.Pedro I. Tem como figura simbólica
o Imperador do Divino, geralmente um menino escolhido na cidade o qual é
coroado durante o ato da celebração religiosa. Ao culto litúrgico conjugam-se
velhas tradições de caráter popular – filarmônicas, desfile de trajes
tradicionais, e aspecto folclórico como a marujada, fincada do mastro, levada
da lenha e o jarê. A festa do Divino Espírito Santo é um acontecimento
religioso/popular que se encontra em quase todos os municípios baianos. Em
alguns deles, a festa conserva características grandiosas que foi a sua marca
no Brasil Colônia, quando eram organizados pelas irmandades religiosas com
muita bebida e comida, procissões, coroação do Imperador Divino, soltura de
pesos e a exibição de folguedos tradicionais. Nas cidades de Andaraí, Jacobina
e Carinhanha a festa é animada pela dança dos Caboclos. Em Poções é a maior
festa da cidade.
SAGRADOS - Costume milenar de
consagração de territórios por meios de mastros enfeitados, os Mastros Sagrados
e Profanos tem em Olivença (Ilhéus) seu ponto alto que ainda hoje a festa
guarda elementos da tradição indígena. Durante todo o percurso, uma banda de
pífanos acompanha o esforço hercúleo realizado pelas pessoas que vão cortar a
árvore e puxar o mastro. Em Andaraí, na Chapada, a puxada do mastro recebe o
nome de Rabeia e o grande momento da festa acontece durante a noite, depois do
tronco ter sido enfeitado com flores e folhas durante o dia. Dezenas de pessoas
jogam o mastro nos ombros e conduzem-no até a praça da igreja. A festa acontece
ainda em Rio de Contas e Utinga.
Outra manifestação relacionada
com mastros de santos é o trança-fitas ou pau-de-fita como se vê nas cidades do
Rio de Contas, Utinga e Andaraí. Zabiapunga é o grupo de caretas (mascarados)
que faz um cortejo de madrugada, dançando e acordando a cidade com um som
atordoante, tirado de enxadas, tambores, cuícas e búzios. No litoral baixo sul
(Nilo Peçanha, Taperoá e Cairu) e no Recôncavo (Santo Amaro e Saubara) a festa
tem a participação de toda a comunidade. Já o Macatum Zê-zê é uma brincadeira
carnavalesca derivada dos antigos quilombos encenada em praça pública em
Mucugê. É representada por figuras fantasiadas que aludem a pestes e doenças,
desemprego, inflação.
A Lamentação das Almas é um
ritual religioso das noites de sexta-feira da Quaresma. Os participantes
cobrem-se com lençóis brancos para não serem identificados. Vagueiam pelas ruas
batendo matracas, rezando e entoando cantos fúnebres. São apresentados em
vários municípios. A Festa de Nossa Senhora da Boa Morte na cidade de Cachoeira
preserva ainda hoje seus traços característicos, individualizados, marcados
pelo sofrimento de um povo que lutou para alcançar a sua liberdade. E é
exatamente este o significado da celebração, o agradecimento a Nossa Senhora,
pela liberdade conseguida a duras penas, com a realização de várias cerimônias,
culminando com a assunção de Nossa Senhora. (Texto dolivro Bahia, um estado
d´alma que publiquei em 2009)
Um comentário:
Oi Guto.Tanto procurei que acabei encontrando. Parabéns pelo Blog e por sua contribuição ímpar a nossa Bahia. Grande abraço
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