11 janeiro 2021

Ela revelou segredos do qual temos medo


Hilda Hilst (1930-2004) - Escritora que nunca se dobrou aos códigos e condutas reservados às mulheres de sua época. Enveredou por textos ditos pornográficos – O Caderno Rosa de Lory Lamb (1990), Contos D´Éscárnio/Textos Grotescos (1990) e Cartas de um Sedutor (1991), desafiando editores, que a consideravam difícil demais. Em 1992 ela trocou o pornô pelo erotismo publicando o livro de poesia Do Desejo. E em 1997 ela publicou Estar Sendo Ter Sido mesclando poesia e prosa, Deus e o amor, machismo, pornografia e redenção pela escrita. A fase erótica da literatura da escritora paulista Hilda Hilst foi uma reação à indiferença dos editores e do público diante de sua obra.

 

É interessante observar a aposta no obsceno que atravessa grande parte da obra hilstiana. Ao jogar luz sobre o que está relegado às sombras, ao revelar o segredo que excede o valor moral –  segredo do qual temos medo – o obsceno será um dispositivo de transgressão das convenções sociais que obliteram uma experiência integrada.


 

Autora de mais de 30 livros, Hilda Hilst foi procurada pela equipe da revista francesa L´Infine, do escritor Philippe Sollers. Perguntada sobre o que considera erótico, brincou: “Não sabemos o que é obsceno. Outro dia entrei no banheiro sem notar que um amigo tomava banho e ri tanto que tive que ser hospitalizada. Pensei: foi por esse detalhe que me emocionei tanto no passado?”. Respeitada na Europa, mas incompreendida no Brasil, a escritora paulista Hilda Hilst confessou ao Jornal do Brasil que a opção pela literatura erótica foi uma reação à indiferença dos editores. Logo que foi publicado suas obras, seus ex-amigos se afastaram, assustados.

 


Não foram poucos os críticos e leitores que manifestaram seu repúdio ao fato de Hilda Hilst ter abandonado a literatura dita “séria” e existencial em função de uma trilogia erótica. O Caderno Rosa de Lory Lamby, Contos d´Escárnio/Textos Grotescos e Cartas de um Sedutor embora pudessem chocar pela ousadia, deram à escritora uma notoriedade que ela há muito merecia. Ao optar pelos universos da sexualidade e do erotismo, ela propicia ao leitor um denso mergulho na arte de utilizar as palavras para evocar, acima de tudo, o prazer da escritura.  (Texto inédito da pesquisa que realizei nos anos 1980/90 sobre Erotismo e Pornografia na Literatura, Musica, Cinema, Artes Plasticas, Fotografia e HQ)

 

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