A estrutura do livro reflete a organização
de oito elementos que constituem as raízes do autoritarismo brasileiro,
respectivamente: escravidão e racismo, mandonismo, patrimonialismo, corrupção,
desigualdade social, violência, raça e gênero e, por fim, intolerância. . Pensa
o nosso passado colonial, o mito da democracia racial, desigualdade de gênero,
patrimonialismo, até desembocar no pós-eleições de 2018 e a vitória de um líder
da extrema-direita.
Somos uma monarquia cercada de repúblicas por todos os lados. A nossa historia oficial foi construída, manipulada e usada para edulcorar uma realidade que teima em se mostrar muito diversa. Quatro pressupostos consagrados
que viraram mito. O país harmonioso e sem conflitos; o de que o brasileiro seria avesso a qualquer forma de hierarquia; o de que não existiriam ódios raciais, de religião e de gênero; e o do caráter especial de nossa natureza (Deus e brasileiro!).
Ganhou força a ladainha das três raças
formadoras da nação; todos juntos, mas (também) diferentes e separados. Mistura
não era (e nunca foi) sinônimo de igualdade. Essa era uma maneira de “inventar”
na história não só particular (uma monarquia tropical e mestiçada) como também
muito otimista. “Desde o período colonial, passando pelo Império e chegando à
República, temos praticado uma cidadania incompleta e falha, marcada por
políticos de mandonismo, muito patrimonialismo, várias formas de racismo,
sexismo, discriminação e violência” (pag.24).
O mito da democracia racial, de forte
impacto no país, consolida práticas e ideias autoritárias no Brasil. O
patriarcalismo, o mandonismo, a violência, a desigualdade, o patrimonialismo, a
intolerância social, são elementos presentes em nossa história pregressa e que
encontra grande ressonância na atualidade.
RACISMO
Um dos pontos centrais do livro é que a
escravidão e a discriminação racial são heranças incontornáveis do Brasil
colonial, e que é necessário falar em racismo hoje em dia com todas as letras. Na
época da imediata pós-emancipação um sábio dito popular circulou pelas ruas do
Rio de Janeiro: “A liberdade é negra, mas a igualdade é branca” referindo-se à
liberdade reconquistada pelos negros (abolição da escravatura) mas a
persistência dos severos padrões de desigualdade no país.
A presença de negros em espaços de prestígio
social já era basicamente vedada levando-se à exclusão de boa parte da população
das principais instituições brasileiras, produzindo um apagamento dos poucos
intelectuais negros que haviam logrado se distinguir na época colonial
especialmente durante o Império.
A exclusão social voltou a crescer no
Brasil: negros e negras morrem mais cedo e têm menor acesso aos direitos de todos
os cidadãos brasileiros. Até os dias de hoje os números da desigualdade tem
cara e cor no Brasil. Somos a terceira maior população carcerária do mundo e
continuamos recordista em homicídios. As batidas policiais, por exemplo, escolhem
sempre mais negros do que branco e os humilham a partir da apresentação publica
do poder e da hierarquia.
A escravidão, segundo a pesquisadora, nos
legou uma sociedade autoritária, a qual tratamos de reproduzir em termos
modernos. “Uma sociedade acostumada com hierarquias de mando, que usa de uma
determinada história mítica do passado para justificar o presente, e que lida
muito mal com a idéia da igualdade na divisão de deveres mas dos direitos também”.
Desde os primórdios brasileiros criamos uma “cultura do estupro” ainda hoje
enraizada no país.
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